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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Subida no sufoco mostra que Vasco precisa de mais do que dinheiro

Jogadores do Vasco comemoram gol sobre o Ituano em jogo da Série B - ANDERSON LIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
Jogadores do Vasco comemoram gol sobre o Ituano em jogo da Série B Imagem: ANDERSON LIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

07/11/2022 09h00

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Após dois anos na Segundona, o Vasco subiu à Série A em um jogo sofrido diante do Ituano na última rodada. Para 2023, o futebol cruzmaltino contará com o dinheiro do grupo 777 que comprou sua SAF. A campanha na Série B, no entanto, mostra que será preciso mais do que recursos para recuperar o time alvinegro.

O acordo entre Vasco e 777 prevê o investimento total de R$ 700 milhões. Na próxima temporada, seriam R$ 250 milhões de orçamento para o futebol entre contratações e folha salarial. É um valor que colocaria o clube abaixo da primeira prateleira da elite, com Palmeiras, Flamengo, Atlético-MG e Corinthians.

A questão é o cenário em que esse dinheiro entra e como será a gestão do futebol. Primeiro, o Vasco tem um time praticamente inteiro para montar visto que o seu elenco da Série B se revelou insuficiente para a elite, com exceções como jovem Andrey e o volante Yuri Lara, há carências em diversas posições. Nenê é um jogador tecnicamente acima dos demais, mas o fato de ser um veterano limita o quanto pode contribuir para o time.

É o que demonstra a campanha com 54% dos pontos, uma defesa frágil que tomou quase um gol por rodada (36 no total) e uma instabilidade durante toda a Série B. O quadro pouco confortável teve a ver com a falta de rumo da gestão do futebol.

Quando saiu o técnico Zé Ricardo, que mantinha o time no Z4 com um estilo defensivo, a diretoria vascaína apostou no novato Maurício de Sousa. O time não engrenou em um jogo que deveria ser mais ofensivo e o treinador saiu após apenas oito jogos. De novo, dirigentes vascaínos jogaram suas fichas em um novato, Emilio Faro, que foi mantido como interino. Mais um erro pois o time se desfazia.

Finalmente, foi contratado o experiente Jorginho. Sua campanha também esteve longe de construir uma classificação confortável para o Vasco para a Série A. Até o ponto de, após uma derrota em casa para o Sampaio Correa, o time chegar ameaçado de não subir na rodada final diante do Ituano.

O Vasco deu sorte de ter um pênalti e um expulso do rival logo de cara no mesmo lance. Lucas Dias meteu a mão na bola. Há uma discussão sobre se houve falta de Raniel no goleiro do Ituano. Mas Wilton Pereira marcou no campo com segurança o lance, que é interpretativo, então sua decisão tem que ser válida.

Dito isso, o Ituano, com um a menos, jogou melhor do que o Vasco. Criou duas chances claríssimas para defesas de Thiago Rodrigues, uma delas no estilo Gordon Banks após cabeçada de Aylon e outra em lance cara a cara de Gabriel Barros. O time cruzmaltino também teve oportunidade boa com Pec.

Em resumo, o Vasco, que tinha investimento superior a praticamente todos os times da Série B, exceção de Grêmio e Cruzeiro, precisou da última rodada, jogando no limite, para garantir sua vaga na elite. Isso graças a uma gestão do futebol sem Norte herdada ainda da presidência de Jorge Salgado. A transição para a SAF não ocorreu de forma eficiente durante este segundo semestre.

O investimento para a próxima temporada só vai permitir ao Vasco uma campanha tranquila se for feito com muito mais eficiência do que em 2022. Será preciso montar um novo time, achar o técnico certo, criar um estilo de jogo determinado, enfim, ter um projeto de fato para o futebol e não viver de tentativa e erro. O Botafogo, que também virou SAF, é uma demonstração de como o processo não é simples e não terá efeito imediato.