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Roberto era capaz de exibir tudo que um centroavante sonha em um só lance
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Eram os últimos minutos do primeiro tempo da final do Carioca de 1987 quando um cruzamento da esquerda encontrou Roberto Dinamite no meio da área do Flamengo. Cercado por dois rubro-negro, dominou a bola no peito e girou para dar um toque sutil para Tita chutar forte para fazer o gol do Vasco, que seria o do título cruzmaltino.
É uma das primeiras lembranças minhas de futebol no estádio. Como criança, das cadeiras do Maracanã que davam uma visão meio distorcida, o lance me impressionou pelo efeito da rede estufada e por aquela figura imponente na área de Roberto.
Revendo a jogada 35 anos depois, é notável como Roberto executou o gesto técnico difícil de dominar uma bola alta área cercado por dois zagueiros, um deles era Aldair, um dos maiores da história da seleção. E, depois, como tem a capacidade de enxergar Tita em uma fração de segundos para dar o passe que lembra um pouco o de Pelé a Carlos Alberto na final de 1970.
Morto neste domingo, aos 68 anos, por um câncer no intestino, Roberto mostrou em sua carreira todas as características de um craque histórico do futebol brasileiro. A explosão fenomenal do início, números de gols de temporada acima de 30 por anos seguidos (as vezes acima de 40), a capacidade de se transformar como jogador na maturidade, a identificação de raiz com um dos grandes clubes brasileiro.
Aquele Roberto que tive a sorte de assistir em seus anos finais ainda era capaz aos 33 anos de rivalizar com Romário pela artilharia do Carioca. Fez um gol a menos naquele Estadual. Esse time vascaíno campeão do Carioca em 1987 é uma pérola pouco lembrada, com uma das duplas mais impressionantes de ataque da história do futebol, o veterano de futebol elegante, o jovem esfuziante.
No seu auge, no final da década de 70 e início de 80, foi o maior centroavante do país em meio a uma geração de ouro do futebol brasileiro. Sofreu uma injustiça por parte de Telê Santana ao ser mantido no banco durante a Copa-82. Nos primórdios de sua carreira, conduziu o Vasco ao título Brasileiro em 1974 como o então garoto-dinamite.
Um exemplo do melhor Roberto é sua exibição contra o Corinthians após o Vasco traze-lo de volta do Barcelona. Tem gol de fora da área, com drible, com imposição física, com oportunismo, com cada um dos pés.
Para quem gosta de se ater aos números, Roberto encerrou sua carreira no Vasco com 708 gols em 1.100 jogos. Isso dá uma média de 0,63 gol por jogo, o que seria impressionante em uma passagem curta em um clube e se torna inacreditável diante da sua longevidade. Sua regularidade de gols o transformou no maior artilheiro do Brasileiro, marca difícil de ser batida.
Mas, no final das contas, jogadores do tamanho de Roberto serão lembrados por cada um de um jeito, pela emoção que provocaram. Renato Maurício Prado, por exemplo, escreveu histórias deliciosas da carreira por ter sido repórter na época. A minha recordação é aquela matada no peito, o passe sutil, o corpo que se impunha na área, e o meu pai sorrindo na cadeira.
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