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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Investidores acenam com bilhões a times por poder em negociação da Liga

Reunião da Liga Forte Futebol do Brasil (LFF) - Divulgação
Reunião da Liga Forte Futebol do Brasil (LFF) Imagem: Divulgação

25/01/2023 04h00

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Uma proposta bilionária de dois grupos financeiros (um dos EUA e outro do Brasil) prevê um aporte para 26 clubes da Liga Forte Futebol em troca de mecanismos que lhe dão controle da negociação dos seus direitos de TV no Brasileiro. O poder dos investidores se daria pelo menos até o final do ano caso os times aceitem a oferta inicial.

Esse cenário (caso se concretize) levaria a dois caminhos possíveis: 1) uma negociação entre investidores dos grupos da Libra e da Liga Forte Futebol para acertar a parte comercial da Liga. 2) a inviabilidade de qualquer construção de uma Liga para o Brasileiro. O fundo Mubadala, em acordo com a Libra, entende não ser possível gerir a Liga com outros investidores.

O blog teve acesso aos termos da oferta feita pelo fundo norte-americano Serengeti Asset e a brasileira LCP Gestora de Rercusos Ltda, com sedes em Curitiba e São Paulo, para a Liga Forte Futebol. O contrato final ainda está em negociação e pode sofrer alterações - o cenário aqui traçado é do que existe no momento. Mas a ideia é apresentar aos 26 clubes da Liga Forte Futebol nos próximos dias uma proposta final.

A negociação para a Liga do Brasileiro arrasta-se por um ano e meio, com um racha entre os clubes. A LFF representa 26 clubes, sendo nove da Série A, incluindo times como Inter, Fluminense, Fortaleza e Atlético-MG. A Libra tem 17 times, sendo 11 da Primeira Divisão, reunindo Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Cruzeiro, entre outros.

A divisão entre os dois grupos deve-se a discordâncias entre clubes sobre o critério de divisão de receita de uma futura Liga. A Libra adotou uma regra com 45% igualitário, 25% por prêmio e 30% por itens relacionados à torcida. Já a LFF defende a divisão de 50% igual e 25% para os outros dois itens. Há ainda divergências sobre o que será levado em conta no cálculo dos itens variáveis, com ideias diferentes dos dois grupos.

A Libra tem uma negociação exclusiva com o fundo Mubadala, de Abu Dhabi, com proposta de R$ 4,750 bilhões por 20% de toda a Liga do Brasileiro por 50 anos. Trata-se de um fundo com capital de quase US$ 300 bilhões que assumiria a negociação comercial do Brasileiro.

A oferta do Serengeti e a Life Capital Partners Gestora de Recursos (LCP) aos times da LFF divide-se em duas hipóteses: 1) R$ 4,850 bilhões pelos direitos de toda a Liga do Brasileiro 2) um total de R$ 2,185 bilhões apenas pelos direitos dos times da Liga Forte Futebol. Esse valor seria reduzido se houver adesão de menos de 26 times - o mínimo é de 22 times ou o montante não será válido.

O fundo Serengeti e a LCP não divulgam seus ativos. O Serengeti diz em seu site que investe em empresas com receitas de US$ 10 milhões e US$ 50 milhões, e um dos sites de fundos dos EUA registra seus ativos em US$ 1,3 bilhão. Os gestores da LCP são ex-executivos da 3G Capital, Wilson Lara, Carlos Gamboa e João Leitão. O dinheiro deve ser levantado por Serengeti e LCP Capital com terceiros, segundo apuração do blog.

Pela proposta, no cenário de conciliação entre os grupos da Libra e LFF, haveria o pagamento integral do valor em três parcelas, sendo 50% na assinatura do contrato definitivo. Em caso contrário, se não houver acordo com a Libra, os clubes da Liga Forte Futebol teriam até 30 de abril para aceitar a proposta de R$ 2,185 bilhões só pelos seus direitos de TV. Se os times não concretizarem o negócio, os investidores teriam de 1º de maio a 31 de dezembro para efetivar a operação.

Há a possibilidade de alterar esses prazos na negociação em curso de acordo com fontes envolvidas no contrato.

Caso os clubes aceitem, seria criada uma empresa para controlar os direitos de TV dos clubes da LFF ou da Liga única, com 80% dos clubes e 20% dos investidores. Mas, pelos termos da proposta, a gestão comercial teria maior controle dos investidores: poderiam nomear e destituir CEO e time comercial. Os clubes, no entanto, teriam assentos no Conselho. Isso ainda está em negociação.

Pelos termos do contrato, os clubes cedem aos investidores (Serengeti e LCP Corretora) "a irrevogável opção de participar em qualquer transação envolvendo os direitos da LFF, ou os direitos comerciais e de TV relacionadas às Séries A e B". Um clube da Liga Forte Futebol, assim, não poderia mais conversar com a Libra sem informar os investidores. A conversa direta entre clubes acabaria. Essa cláusula aparece como não-vinculante, isto é, não é obrigatória antes de uma assinatura definitiva.

Como penalidade por um descumprimento deste mecanismo, os clubes teriam de pagar uma multa correspondente a 10% do total do investimento previsto para toda a liga. Isso significaria uma multa de R$ 485 milhões por não respeitar o direito do investidor de atuar na transação de direitos dos times da LFF.

Esses termos do contrato podem ser alterados. Mas, dentro da LFF, é consenso de que os investidores terão participação e peso na mesa para qualquer tipo de negociação para formação comercial de uma liga única com a Libra.

Há um entendimento dentro da LFF de que isso dá mais poder de negociação para a entidade em relação à Libra. É uma alavancagem já que o grupo estava em desvantagem após o acordo entre Libra e Mubadala. Para a LFF, isso torna a negociação mais equilibrada.

A questão é que a Libra e o fundo Mubadala entendem ser inviável um modelo com outros investidores especialmente se tivessem controle comercial sobre a venda de direitos - o grupo de Abu Dhabi teria esse direito pelo acordo com a Libra. Além disso, os investidores Serengeti e LCP preveem pelo menos 50% do investimento na Liga no caso de acordo. Na Libra, a avaliação é de que os direitos de seus clubes, com maior torcida, representam ao menos 70% da Liga. A proposta de investidores à LFF é vista como hostil.

Ou seja, com um investidor de cada lado com controle sobre os direitos dos clubes, é possível que se inviabilize uma Liga única. Não é, no entanto, a visão dentro da Liga Forte Futebol. No grupo, entende-se que o acordo seria facilitado porque investidores não vão querer perder dinheiro.

Na proposta da Seregenti e LCP Corretora, há ainda previsão de poderes em favor dos investidores. Por exemplo, há a uma trava que impede os clubes de venderem outro percentual dos seus direitos para um terceiro por dez anos (Lock up). Já os investidores não têm trava para revenda. Esses termos também estão em negociação e podem ser modificados.

Há uma previsão de que a proposta final seja finalizada e apresentada à comissão de clubes da LFF nos próximos dias. Aí deve ser convocada uma assembleia dos 26 times da Liga Forte Futebol para saber se aceitam os termos da oferta e aderem ao documento. É possível que isso ocorra já na próxima semana.

Caso isso aconteça, os investidores vão fazer um depósito inicial menor como demonstração de boa fé. O valor negociado era de R$ 350 mil por clube. Só a partir da assinatura definitiva de um acordo, que poderia ocorrer até 30 de abril, os clubes receberiam o pagamento de 50% do montante ofertado pelos investidores. No caso, seria R$ 1,092 bilhão para ser dividido por 26 clubes da LFF.

Tanto a Liga Forte Futebol quanto o grupo de investidores Seringeti e LCP Corretora não quiseram comentar por conta da confidencialidade da oferta.