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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Vasco vive o contraste entre expectativa e realidade com a SAF do 777

Jair foi um dos contratados pelo 777 Partners - Daniel Ramalho/CRVG/Flickr
Jair foi um dos contratados pelo 777 Partners Imagem: Daniel Ramalho/CRVG/Flickr

Colunista do UOL

15/05/2023 12h14

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No meio de 2022, mesmo na Série B, a torcida do Vasco vivia uma onda de otimismo com a aprovação da venda da SAF para o fundo norte-americano 777 Partners. Não eram poucas as promessas de que o time voltaria a ser protagonista no futebol nacional. O início de 2023 mostra que a realidade é um pouco diferente.

Neste domingo, o Vasco perdeu para o Santos em casa por 1x0 e terminou a rodada em 16o, próximo da zona de rebaixamento. O resultado não refletiu o jogo em que o time vascaíno teve amplo domínio, o goleiro João Paulo foi a principal figura em campo e houve até um pênalti não marcado em Pedro Raul.

Dito isso, o início do campeonato revela fragilidades do time vascaíno, algumas já conhecidas no Campeonato Carioca na eliminação da Copa do Brasil. As entrevistas do técnico Maurício Barbieri são bem pé no chão: ele diz que o Vasco era um time na UTI (em 2022) e tem de reconhecer as limitações para justificar um jogo mais reativo.

A torcida do Vasco claramente perdeu a paciência. Vaiou o time no intervalo ao contrário do apoio que se via na Série B. Uma associação de organizadas cobrou o 777 Partners por promessas não cumpridas, e o ambiente é claramente de frustração em relação ao cenário vislumbrado com a SAF.

Seria ilusão esperar que, no primeiro ano da 777 Partners, o Vasco fosse engrenar uma grande campanha enquanto monta um time. O problema é que o cenário atual não foi isso que foi vendido a torcida e sócios vascaínos no processo de transformação de SAF.

Antes da SAF se concretizar, o sócio da 777 Partners, Josh Wander, deu entrevista dizendo que era o último jogo em que o Vasco enfrentaria o Flamengo em desvantagem financeira. Ao GE, prometeu tornar o clube uma marca global. Parecia ilusão para torcedores racionais, mas foi o discurso.

Internamente, a informação é de que o contrato transformará o Vasco em protagonista ao nivelar o clube com o orçamento de clubes top 5 do Brasil. Conta-se com isso com R$ 700 milhões de aportes - já foram R$ 190 milhões - e um patamar mínimo para o futebol. A mira, a longo prazo ressalte-se, é atingir o Palmeiras.

Mas os investimentos iniciais não mostram um caminho nesta direção. Houve um aporte de R$ 120 milhões em 2022 para cobrir buracos de operação e começar a pagar dívidas - o prejuízo no ano foi de R$ 88 milhões. E houve investimento em jogadores para a temporada, mas em patamares bem abaixo. O gasto em contratações em 2022 foi de US$ 4,5 milhões (R$ 22 milhões).

Investimentos no início da temporada aumentaram essa conta de contratações certamente, e chegaram jogadores de porte médio para bom como Pedro Raul, Jair, Orellano, Léo Pelé e Piton. Mas o gasto com contratações é bem inferior ao início do projeto do Red Bull Bragantino, por exemplo, que colocou mais de R$ 200 milhões para montar seu primeiro time da Série A. E lembremos que o Vasco vendeu Andrey por até 23 milhões de euros, muito mais do que o investido no time.

Mais, o Vasco SAF já atrasou dois pagamentos para credores na Justiça trabalhista, parcelas essenciais para manter o clube dentro do RCE e longe de penhoras. Também há notícias de atrasos em pagamentos a clubes de atletas contratados. As dívidas são responsabilidade do fundo até R$ 700 milhões

Apesar desses problemas financeiros, o 777 Partners fala em assumir o Maracanã e pagar mais em outorga pelo equipametno para o Estado. Não fica claro de onde virá o dinheiro visto que até agora as contas do futebol parecem bem apertadas.

Não há dúvida que, com o 777 Partners, o Vasco tem mais dinheiro do que se continuasse associativo. Mas o quadro atual, de contas apertadas, não foi o vendido ao torcedor vascaíno. Será que a venda da SAF seria aprovada se o cenário desenhado fosse um time médio e sofrimento financeiro?

É cedo para analisar o projeto de SAF do Vasco que tem menos de um ano. É possível uma movimentação mais audaciosa na janela do meio do ano, é possível que comece a entrar dinheiro de forma mais acelerada. Não será surpresa uma melhoria em campo inclusive com o andamento do ano. Mas não é cedo para os dirigentes e sócios do Vasco cobrarem que seja executado o projeto que foi prometido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL