Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Títulos blindam Felipão de críticas por rasteira no Athletico
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O Athletico acreditou no projeto de futebol do diretor-técnico Luiz Felipe Scolari para 2023 a ponto de contratar um novato Paulo Turra como técnico. Na quinta-feira, o treinador deu uma entrevista à TV Globo em que afirmava que não treinaria mais um time brasileiro.
Na sexta-feira, o estafe de Felipão disse ao Furacão que ficaria no clube apesar de uma proposta do Atlético-MG (Informação da repórter Nadja Mauad, da Globo). No mesmo dia, ele acertou com o Galo para se tornar o técnico do time mineiro. O anúncio foi no sábado.
Se você lesse a repercussão na mídia, era mais um dia normal no mercado brasileiro de troca de técnicos. "Ah, o Felipão viu uma oportunidade", "Olha, ele desistiu da aposentadoria" ou "Foi uma boa a contratação de Felipão pelo Galo".
Pouquíssima discussão sobre a atitude de Felipão de, falemos português claro, dar uma rasteira no Athletico. Não havia nenhum debate acalorado sobre ética ou caráter como foi visto em trocas recentes de técnicos que fizeram manobras bem menos radicais para assumir outros times. No máximo, reclamações de torcedores athleticanos.
Lembremos o caso de Vitor Pereira que foi discutido por meses após sua saída do Corinthians para o Flamengo, em que claramente contou uma versão inverídica aos corintianos. Não é um caso único. Há diversos outros casos de técnicos condenados pela mídia por largar seus times na mão em circunstâncias indefensáveis.
Por que Felipão conta com essa blindagem na mídia em relação ao que faz? O julgamento da imprensa, e de boa parte dos torcedores, não é centrado na natureza das ações de determinadores personagens, e sim em que são esses personagens. Também conta onde está e para onde vai determinado jogador ou técnico para avaliar as atitudes dele, assim como quem é o jornalista que o critica.
Lembro de um caso curioso no ano passado em que fiz uma crítica em rede social sobre a prática de antijogo de Felipão em umas quartas-de-final entre Athletico e Flamengo. Na ocasião, surgiram inúmeros jornalistas e auto-proclamados influencers "Felipetes" para me atacar. O principal argumento com variações era: "Ele é campeão mundial, quem é você para falar?" Havia vários torcedores agradecidos por títulos dados por Felipão a seus times, à seleção.
No final das contas, o discurso dessas pessoas é de que uma Copa do Mundo e uma Libertadores eximem um técnico ou um jogador de ter atitudes corretas no restante da sua trajetória profissional. Os títulos são uma espécie de habeas corpus, o sujeito campeão pode fazer o que quiser que será sempre perdoado. Um bom exemplo é o técnico Jorge Jesus, que enganou o Flamengo na sua saída para o Benfica, e é adorado e perdoado pela torcida. É uma visão de mundo bem comum em certos setores da sociedades brasileira: o sucesso permite tudo.
Por isso, no final das contas, Felipão, que é bem perspicaz, sabia que poderia dar a rasteira que deu no Athletico sem temer repercussões. Só precisava levar em conta o seu próprio interesse. E assim foi.
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