Investidor tem ligações com agência da Liga Forte; agência nega conflito

Um dos investidores na Liga Forte Futebol, a LCP Gestora de Recursos tem um uma ligação com a agência de marketing Live Mode, que faz consultoria para os clubes na questão da Liga. O elo se dá por meio de uma intrincada rede de empresas, uma delas em paraíso fiscal, e dois advogados, que aparecem nas duas pontas do negócio.

A relação foi questionada formalmente dentro do Conselho do Internacional por meio de um requerimento de informações feito por conselheiros nesta quinta-feira. A Live Mode entende que não há conflito na relação porque não faz parte do contrato entre Liga Forte Futebol e LCP.

A Liga Forte Futebol é um grupo de 26 clubes que inclui Atlético-MG, Fluminense, Internacional, Fortaleza e Athletico. Seu objetivo é formar uma liga das Séries A e B. Dos 26 clubes, 23 assinaram um acordo com investidores.

Nesta sexta-feira, a associação fechou um acordo para venda de 20% dos direitos do Brasileiro a partir de 2025 para dois investidores, o fundo norte-americano Serengeti e a brasileira LCP Gestora de Recursos. Atlético-MG, Inter e Náutico não assinaram o documento.

A agência de marketing Live Mode atua como consultora dos clubes da Liga Forte Futebol para a comercialização de direitos e Liga. É uma empresa formada por ex-executivos do Esporte Interativo e da Turner e que atua na compra e venda de direitos de TV e de patrocínio.

Um documento protocolado no Conselho Deliberativo do Internacional questiona a relação da Live Mode com a LCP, apontando ligações societárias entre as partes, isto é, entre investidor e represente de clubes. Um total de 93 conselheiros do clube registrou um requerimento de informações sobre a relação.

A ligação entre a Live Mode e a LCP

A origem da denúncia de conflito de interesse são dois advogados: Marcos de Carvalho Borges e Pedro Paulo Barros Magalhães, descritos em ata da Live Mode como sócios de uma das empresas do grupo. São eles que têm vínculos com empresas de Carlos Gamboa, um dos sócios da LCP.

• Marcos de Carvalho Borges é acionista e faz parte do Conselho de Administração da Live Mode Serviços digitais, empresa que é sócia na Live Mode Agência de Marketing.
• Pedro Paulo Barros Magalhães é acionista e atua como advogado da Live Mode. Tem ligação com os executivos da empresa desde que atuou na ação da Liga Nordeste, gerida pelos executivos do Esporte Interativo, contra a CBF.

Além disso, uma ata de assembleia da Live Mode, de março de 2022, diz que Magalhães e Borges são acionistas da empresa. Sua participação minoritária nas ações foi feita em troca de serviços de advocacia. "Pedro Paulo de Barros Magalhães e Marcos de Carvalho Borges são ACIONISTAS da Live Mode Serviços Digitais S.A., de acordo com o último ato societário da empresa registrado na Junta Comercial do RJ. O referido documento indica, inclusive, que o Sr. Marcos Borges é VICE-PRESIDENTE do Conselho de Administração da Live Mode", diz o documento de conselheiros do Inter.

O que os une a Carlos Gamboa

A LCP Gestora de Recursos foi fundada em maio de 2022 pelos executivos Wilson De Lara, Carlos Gamboa e João Leitão. Sua sede é na Rua General Mario Tourinho, 1805, sala 1901, em Curitiba. Esse endereço é importante porque abriga uma rede de empresas:

• Gravitas Capital Group, registrada no mesmo endereço em Curitiba segundo registro da Receita Federal. Essa empresa é sócia da LCP.
• Geodex Empresa de Participações LTDA e Patna Empreendimentos e Participações, donas em sociedade da Gravitas e registradas no mesmo endereço no Paraná.

A Geodex tem capital listado de R$ 85 milhões. Tem como sócios, Carlos Gamboa e a empresa Palmer Venture Capital LLC. Essa última tem sede no paraíso fiscal de Malta. É na Palmer que começa a ligação com os advogados:

Essa empresa tem como representante no Brasil justamente Marcos de Carvalho Borges, o membro do Conselho da Live Mode.

Borges também é o representante de Carlos Gamboa, que mora em Portugal, na Geodex no Brasil.

Outro documento, da Junta Comercial de São Paulo, mostra que Borges era representante também de outra Palmer Venture, essa com sede em Delaware, nos EUA, para ações dentro da Geodex. Essa representação era válida quando a Geodex tinha sede em São Paulo. Essa Palmer também é ligada a Gamboa.

Além de Borges, o registro de empresas em Malta também indica Pedro Paulo Barros Magalhães como diretor e pessoa de interesse na Palmer Venture. O advogado tem procuração da Live Mode registrada em 2021, juntamente com Borges.

Magalhães e Borges apareciam como sócios em um escritório de advocacia, o Pedro Paulo Barros Magalhães Advogados.

Qual a atuação da Live Mode?

A Live Mode alega que não faz parte do contrato entre a Liga Forte Futebol e a LCP e, por isso, não vê conflito de interesse. Sua assessoria para os clubes é de avaliar as propriedades comerciais deles. Neste contexto, a empresa ajudou a desenhar o modelo de divisão do aporte a ser feito pelo fundo Seregenti e LCP e das receitas futuras. Além disso, ajudou a fazer a avaliação do valor dos direitos dos clubes. A versão da empresa é de que nenhum dos dois advogados atuou nesses casos. Veja a nota da Live Mode:

"A LiveMode não é parte do negócio sendo feito entre a LFF (Liga Forte Futebol) e a LCP. Não há conflito de interesse entre empresas que não são partes do mesmo contrato. O escritório PPM (Pedro Paulo Magalhães) representa as empresas de Carlos Gamboa há mais de 20 anos e representa a LM (LiveMode) em assuntos não relacionados a LCP. Este fato foi revelado aos assessores dos Clubes da LFF e é de conhecimento dos advogados da comissão dos Clubes. Marcos Borges não trabalhou em nenhum assunto relacionado à transação LFF e recentemente se desligou do escritório PPM para montar seu próprio escritório."

O blog procurou os advogados Marcos de Borges Carvalho e Pedro Paulo Barros Magalhães, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto. A Liga Forte Futebol também foi procurada pela reportagem e aguarda as respostas.