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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Acusações sem prova de auxiliar do Palmeiras e Felipão desrespeitam Série A

João Martins, auxiliar de Abel Ferreira, comandou o Palmeiras contra o Santos - Ettore Chiereguini/AGIF
João Martins, auxiliar de Abel Ferreira, comandou o Palmeiras contra o Santos Imagem: Ettore Chiereguini/AGIF

Colunista do UOL

03/07/2023 04h00

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A rodada do final de semana do Brasileirão teve suas controvérsias e um erro claro de arbitragem. E os árbitros continuam com a política de punir disciplinarmente técnicos à beira de campo. Diante disso, João Martins e Felipão, de Palmeiras e Atlético-MG, respectivamente, reagiram com insinuações de que seus times são prejudicados de forma proposital pela arbitragem.

Ao final do jogo contra o Athletico-PR, o auxiliar palmeirense, João Martins, disse que "é ruim para o sistema o Palmeiras ganhar dois anos seguidos". Sua fala tem como contexto reclamações contra a atuação de Jean Pierre Gonçalves.

"Entendemos que o futebol brasileiro passa uma imagem que é o futebol mais competitivo do mundo porque ganham vários. Mas ganham vários porque, muitas vezes, não deixam os melhores ganhar, foi o que mais uma vez se passou hoje. Entendemos que é ruim para o sistema o Palmeiras ganhar dois anos seguidos. Entendemos isso."

A reclamação palmeirense com a arbitragem tem razão em um ponto: Endrick recebeu uma cotovelada na nuca de Zé Ivaldo e, além do pênalti, deveria ter sido expulso o zagueiro rubro-negro.

Mas daí a fazer uma acusação de que esse erro foi porque o sistema não quer que o Palmeiras ganhe o título vai uma longa distância. Aliás, para uma insinuação séria assim, deveria ser apresentada prova. Não foi.

Após o empate diante do América-MG, os atleticanos tiveram várias altercações com a trio de arbitragem comando por Wilton Pereira Sampaio. Durante o jogo, o diretor de futebol, Rodrigo Caetano, já tinha ido pressionar Sampaio, segundo o relato da súmula. Na confusão pós-jogo, Hulk recebeu o segundo amarelo e o vermelho, Felipão já tinha sido expulso por reclamação.

Em sua entrevista, o técnico insinuou que há uma "ordem lá de dentro" para punir Hulk. "É ordem de lá de dentro. O Hulk chega a olhar para alguém feio e é cartão amarelo. É ordem de lá, a gente já sabe que é isso. A gente tenta mostrar para o Hulk e para todo mundo."

Só se pode presumir que a ordem é da comissão de arbitragem da CBF, que é quem manda nos árbitros. Felipão também não apresentou prova nenhuma.

É um hábito de dirigentes e técnicos no Brasil colocar a imparcialidade e a honestidade da arbitragem em questionamento. A expressão "campeonato manchado" é bem comum. Não há nenhuma vez que tenham apresentado provas factuais.

Imagina se você tem uma profissão em que pessoas o chamam de desonesto frequentemente sem apresentar nenhuma evidência? Só no futebol brasileiro isso é admitido.

Em ligas europeias, comportamentos bem mais brandos em entrevistas são punidos. Na Premier League, Klopp pegou dois jogos de suspensão por dizer que um árbitro tinha algo contra o Liverpool. "Nós temos uma história, uma história com o senhor Tierney. Eu realmente não sei o que esse homem tem contra nós."

Na Itália, Mourinho foi suspenso por dez dias por dizer que um árbitro era o pior que ele já viu após um jogo da Roma. Veja que o técnico alemão e o português reclamaram, mas em nenhum momento disseram que havia um esquema intencional no campeonato ou para punir um jogador específico.

O Brasileiro tem muitas coisas para melhorar, já falamos sobre gramados, calendário, comportamento de jogadores e arbitragem. As insinuações, sem nenhuma prova, sobre a imparcialidade dos árbitros só danificam a imagem do campeonato, sem trazer nada de positivo. São uma muleta em resultados ruins, e uma muleta bem irresponsável.

Para preservar a competição, quem faz esse tipo de acusação deveria ser chamado ao STJD para explicar o que quis dizer. Se não tiver provas, deve ser punido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL