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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Morte de palmeirense expõe falência da segurança em volta dos estádios

Gabriella Anelli, torcedora atingida em confusão entre torcedores do Palmeiras e Flamengo - Reprodução/Facebook
Gabriella Anelli, torcedora atingida em confusão entre torcedores do Palmeiras e Flamengo Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

10/07/2023 14h50

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O futebol é atualmente cercado por uma cultura de violência, de intolerância entre torcedores, de uma torcida pelo ódio e não pelo amor. Não é a maioria das torcidas que age assim, mas é uma parte bem significativa e barulhenta em todos os times. Foi neste contexto que ocorreu a morte da torcedora palmeiras Gabriella Anelli no entorno do Allianz Parque.

Pela investigações iniciais, ela estava próxima do portão do estádio onde entrava a torcida do Flamengo. Dali, uma pessoa jogou - um torcedor rubro-negro está detido como suspeito - uma garrafa que a atingiu e a matou dias depois.

Toda morte de uma jovem de 23 anos é uma tragédia. Mas a de Gabriella tem elementos ainda mais devastadores para a sociedade, pela aleatoriedade e estupidez do ato que a vitimou. O discurso de seu avô, Luiz Henrique Henry, tenta trazer serenidade em meio à dor ao pedir "justiça sim, ódio, não".

Prender o culpado é só o primeiro passo. Dito isso, há um fracasso do modelo de policiamento e segurança no entorno dos estádios que contribuí para que esse contexto violento atinja pessoas como ela. Há pouca estratégia e prevenção, e excesso de violência reativa por parte do sistema de segurança pública.

O jogo Palmeiras x Flamengo sempre foi de risco grande por rivalidade entre organizadas e isso se acentuou por disputas recentes em âmbito nacional. O entorno do Allianz, pelas ruas estreitas, torna mais desafiadora a segurança.

Em eventos de risco, a polícia e seguranças privados deveriam, primeiro, tentar isolar torcedores dos dois lados, o que claramente não foi bem feito. Houve duas confusões diferentes, na Rua Caraíbas e na Rua Padre Antônio Tomaz, envolvendo as torcidas.

O conflito que vitimou Gabriella foi próximo a entrada da torcida visitante, na Padre Antônio Tomaz. Vídeos mostram que a divisão de metal foi aberta e houve contato entre torcedores do Palmeiras e do Flamengo. Há poucos policias no local. Depois disso, há arremessos de objetos dos dois lados por cima da divisória, e a palmeirense é acertada por uma garrafa.

Os estádios onde há venda de cerveja - em outros Estados, já que São Paulo proíbe - vetam a distribuição de latas aos torcedores porque podem virar armas. No entanto, a venda de cerveja em garrafa é liberada nas ruas no entorno, em lugares com liberação ou não de álcool.

Qualquer um pode ver pilhas de vidro amontoados preparados para virar arma. Já houve casos anteriores de chuvas de garrafas. Não faz nenhum sentido permitir esse quadro, os vidros deveriam ser vetados.

Já houve casos de mortes por armas de fogo próximo dos estádios, tanto no Maracanã, quanto no Allianz. Neste segundo caso, em 2022, só havia torcida do Palmeiras, por conta do jogo com o Chelsea pelo Mundial, o que mostra a ineficiência da política de vetar visitantes.

Não se trata de condenar o estádio palmeirense, e sim a forma de segurança executada por lá. A questão é que, em eventos de alto risco, deveria haver revista no perímetro, não na porta do estádio. Vetar o acesso a pessoas com armas no meio da multidão deveria ser uma prioridade. E separar de forma corretamente as torcidas.

Mas a principal política da PM tem sido um perímetro frouxo e jogar bombas quando a coisa já desandou. Em várias ocasiões, isso aumenta a confusão, correria e ferimentos de torcedores, que deveriam ser protegidos. Aqueles que se revelarem violentos, sim, podem ser reprimidos.

O futebol brasileiro vive uma explosão de presença de torcida em estádio com recorde de público no Brasileiro. Mas também aumentaram os casos de violência em volta dos estádios. É preciso tratar da insalubridade do ambiente do futebol, que se revela nas arenas, redes sociais e na forma como são ameaçados jogadores e técnicos e dirigentes. Nos faz mal esse ódio disseminado entre torcidas de times distintos.

As sugestões dadas acima não são de um especialista em segurança pública, mas de alguém que frequenta estádios constantemente e enxerga pontos óbvios. Certamente há pessoas de fato capacitadas para analisar várias outras questões e traçar políticas mais complexas de segurança.

O que é preciso é agir com inteligência para minimizar o problema para evitar tragédias como a da Gabriella. Quando morre uma torcedora como ela, morre um pouco o futebol brasileiro junto.