Rodrigo Mattos

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Queda do Palmeiras expõe gestão Leila e esgota discurso 'nós contra eles'

Uma eliminação para um rival em mata-mata não necessariamente significa que um time tem problemas. A queda do Palmeiras para o São Paulo, no entanto, expõe, sim, algumas questões na gestão de Leila Pereira. Até porque a diretoria alviverde tem focado apenas em combater inimigos externos nos últimos meses.

Em relação ao desempenho, o Palmeiras foi inferior ao rival Tricolor nos dois jogos, apesar de elenco e investimentos superiores. Foi um reflexo de uma queda de rendimento recente da equipe de Abel Ferreira, seja no Brasileiro, seja nos mata-matas.

Neste período, a comissão técnica e a diretoria palmeirense estavam empenhados em uma guerra contra a CBF por reclamações de arbitragem. Essa narrativa se esfacelou pelos lances controversos decididos a favor do time alviverde nos dois últimos jogos. Só serviu para justificar um silêncio na hora de explicar a falta de triunfos.

Sob o comando de Leila Pereira, a diretoria do Palmeiras tem buscado inimigos externos. No início do ano, foi o Flamengo na discussão relacionada à Libra. Suas falas públicas serviram para unir palmeirenses ao seu lado em momento em que era criticada por falta de reforços.

Depois, foi a briga com a WTorre. É bem possível que o clube tenha razão na sua demanda de receber mais de R$ 130 milhões da construtora por dinheiro não repassado - Leila deve portanto reivindicar os direitos alviverdes. Mas as declarações ácidas públicas serviram, de novo, para juntar alviverdes em uma mesma causa ao lado da dirigente.

Enquanto isso, a gestão de Leila tem questões a resolver no futebol e na geração de receitas. O clube claramente tem dificuldades de se reforçar enquanto rivais conseguem nomes no mercado.

Há restrições orçamentárias. A disciplina nos gastos é um mérito de Leila: não se deve gastar mais do que arrecada. As contas do Palmeiras estão equilibradas. O desafio é gerar mais dinheiro e investir bem os recursos disponíveis.

Se não tem o dinheiro do Flamengo, o Palmeiras tem mais verba do que outros times. Em 2022, foram investidos R$ 137 milhões em jogadores, terceiro maior gasto, segundo o relatório "Convocados".

E seu scout não tem sido eficiente em buscar soluções dentro dos recursos disponíveis, como já fez, por exemplo, o líder Botafogo. Quando investiu forte, o Alviverde tem errado com nomes como Atuesta e Flaco Lopez.

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Fora isso, o aumento do gap financeiro para o Flamengo tem relação com uma estagnação da publicidade e patrocínio do Palmeiras. No ano passado, foram R$ 157 milhões de receita, isto é, R$ 100 milhões a menos do que o rival.

Já o Corinthians está mais próximo do rival Alviverde em receitas totais. O contrato com a Crefisa não dá a vantagem de antigamente ao Alviverde.

A renovação do elenco palmeirense é uma necessidade não só pelas perdas de Scarpa e Danilo, mas também porque é natural um cansaço depois de três anos intensos de triunfos. Óbvio que isso não significa dizer que o time de Abel deixou de ser competitivo: é candidato natural à Libertadores. Um título não será uma surpresa.

Mas a eliminação na Copa do Brasil, neste caso, sinaliza uma necessidade de ação da diretoria alviverde. Ação para tornar mais eficiente a gestão, o tempo de discursos para o inimigo externo parece ter se esgotado. Pelo menos foi o que sinalizou a torcida ao criticar a dirigente após a eliminação no Allianz Parque.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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