Rodrigo Mattos

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Como Inter se renovou com investimento baixíssimo até semi da Libertadores

Ao bater o Bolivar, nas quartas-de-final, o Internacional classificou-se às semifinais da Libertadores depois de oito anos. E, de 2015 para cá, o time chegou a enfrentar um até então inédito rebaixamento no Brasileiro em 2016. A melhoria na trajetória esportiva veio com um time remontado no meio da temporada atual.

O presidente do Inter, Alessandro Barcelllos, conta em entrevista ao blog como contratou jogadores como Enner Valencia e Rochet com investimento baixo, como trocou Mano por Coudet e como fez essas mudanças administrando uma dívida na casa de R$ 600 milhões.

A classificação às semis da Libertadores, obviamente, turbinaram as receitas com premiações, sócios e bilheteria. Em paralelo, o clube vendeu 20% dos seus direitos de TV no Brasileiro com o objetivo de quitar no futuro as dívidas.

Veja abaixo as explicações de Barcellos para sua estratégia para tentar levar o Inter ao tricampeonato da Libertadores:

Blog: Como foi a remontagem do Inter neste meio de temporada para chegar à semifinal da Libertadores?

Alessandro Barcellos: Não se trata de uma remontagem em 2023. É um processo que já vinha acontecendo em 2022. Allan Patrick, Renê, Wanderson, Vitão... São jogadores fundamentais e não vieram agora. Uma montagem competitiva vem acontecendo ao longo de dois anos. Agora a gente conseguiu jogadores de mais hierarquia. O Inter conseguiu em dois anos ter superávit. Isso é sequência de trabalho. Foi importante. Time mais equilibrado, mais maduro. Faz com que a gente sonhe na Libertadores.

Blog: O Inter teve um déficit no início do 2023, até abril (R$ 39 milhões), depois desses superávits. É preciso considerar que o 1º semestre no Brasil é mais fraco no futebol. Isso dificultou o investimento no time?

Barcelos: Esse início do ano não pode ser visto como tendência. Passa um semestre, e acaba vendendo jogadores no final do ano. Temos uma expectativa de ingresso de receita que pode mudar tudo. A Liga (Liga Forte Futebol, venda de 20% dos direitos de TV do Brasileiro a investidores), premiação de Libertadores pode mudar. Temos expectativa de ter superávit.

Blog: Mesmo com o investimento que vocês fizeram?
Barcelos:
Fizemos um investimento baixíssimo (em direitos federativos). Quase zero. Só o Rochet que será pago no ano que vem. Folha estava em R$ 13 milhões. Atualmente está abaixo R$ 11 milhões. Abaixamos a folha.

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Blog: Como foi a negociação do Enner Valencia?

Barcelos: Por cláusula, não podíamos falar. Aguardamos o prazo. Esperar o final da temporada. Fizemos incursões na Turquia (jogava no Fenerbahce). Eu estive lá. Foi uma contratação que teve várias etapas. Desde a questão convencimento, mas de demonstrar a situação do clube, da cidade, questões que temos a preocupação de mostrar. Apresentar o projeto do clube, o que se pode esperar. Fizemos com Aranguiz, Bruno Henrique. Quais são as expectativas do Inter? Quais situações que enfrentamos e vamos enfrentar? Até para o jogador poder nos cobrar

Blog: Como está a folha em comparação no início do ano?

Barcelos: Manteve. Baixamos muito antes. Para ter mais eficiência, no grupo, contratamos jogadores que não tiveram investimento federativo. Todos foram dentro das nossas condições. Mesmo o Enner, Aranguiz, jogadores estão adequados.

Blog: O Inter tem uma dívida significativa (em torno de R$ 600 milhões líquido) que vem de outras gestões. Como vocês estão lidando?

Barcelos: Nós conseguimos estancar, com a Selic a 13,5%. Dívida cresceu menos do que a Selic. Conseguiu pagar um pouco, mas muito pouco do que precisa. Estamos trabalhando. Esses efeitos de luvas de 20% de televisão (Inter pode receber em torno de R$ 100 milhões - metade do total - ainda em 2023) serão usados exclusivamente para pagar o endividamento. Conseguindo deságio, consigo amortizar até 50%. É um plano que está em curso. Espero terminar o ano, se não a dívida equacionada, encaminhada.

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Blog: A questão da venda antecipada dos direitos do Brasileiro nunca é ideal para um clube (Inter faz parte da Liga Forte Futebol, que vendeu 20% dos direitos a investidores). Mas se justifica na operação econômica por reduzir a dívida?

Barcelos: Se botar a taxa de conversão, inegavelmente, estarei fazendo um baita negócio se pagar dívida. Remuneração de 13,5% da dívida. Está na casa de R$ 80 milhões de juros por ano. Se pagar, libera esse dinheiro para o caixa. Se for gastar em outra coisa, não vale a pena. Vamos guardar um pouco disso para investimento de infraestrutura. Iniciar nossas obras do CT.

Blog: Qual era meta esportiva do Inter prevista no seu orçamento?

Barcelos: Tínhamos previsto quartas de final da Libertadores, quarta-de-final Copa do Brasil, e 4º do Brasileiro. Estamos compensando (a Copa do Brasil com Libertadores). Passamos a meta. Brasileiro tem o trabalho de recuperação. Esse é um dos focos importantes. Temos um mês de trabalho sem Libertadores. Duas ou três rodadas você sobe se ganhar.

Blog: Mano Menezes teve uma trajetória positiva no Inter em 2022. Mas, pelo que observo de fora, havia uma pressão por troca que o senhor até segurou bastante. Como foi o momento em que percebeu que era melhor trocar o técnico?

Barcelos: Quando você troca técnico, não é porque é bom ou ruim, contrata pelas características. Mano sempre foi um treinador que a gente respeitou. Time estava mal, e ele recuperou e levou ao 2º lugar. Não conseguimos dentro de campo a performance (em 2023). Fizemos outras alterações no departamento. Questões não traumáticas. Estava tendo resultado, mas não desempenho. Já aconteceu no Inter diversas vezes. Foi uma decisão madura, junto com a própria comissão. A chegada do Coudet traz um novo modelo do jogo que conseguiu nos dar uma condição de desempenho além do resultado.

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Blog: Essa é uma questão. O Inter contratou um técnico bem diferente no modelo do que o anterior. Preocupou a adaptação do time para o modelo?

Barcelos: Falei para o Coudet que o material humano que eu tinha era esse. Perguntei se era possível se adaptar ao modelo. Eu queria o mesmo modelo de quando era vice de futebol. Trabalhamos um dia e meio juntos. E ele nos convenceu que o elenco era adaptável ao modelo dele. Sem isso, não teríamos contratado. Não traríamos porque não mudaria o elenco. Isso fez parte. A sinergia está boa e jogadores cresceram.

Blog: Além das premiações, houve aumento de receita com sócio e bilheteria por causa da campanha?

Barcelos: Já tivemos 100 mil no estádio nesses dois jogos (Libertadores). Estamos chegando a quase 130 mil sócios. Começamos com 110 mil. Quase 20 mil de aumento, e acho que vai crescer. A gente trazendo o cara para cá, conseguirmos mantê-lo. As receitas com patrocínio cresceram mais de 20%.

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