Como Copa do Brasil influencia política e futebol do Flamengo
A final da Copa do Brasil - cujo primeiro jogo contra o São Paulo será neste domingo no Maracanã - decide não só se o Flamengo terá um título importante na temporada. Seu resultado terá influência direta tanto nos rumos do futebol quanto na política do clube.
Uma demonstração desse cenário foi a reunião do Conselho Deliberativo de quinta-feira no Flamengo.
No confuso encontro, o presidente rubro-negro, Rodolfo Landim, perdeu pelo menos uma votação importante: houve maioria clara para rejeitar a proposta de alterar o estatuto para proibir quem exerce cargo político de se candidatar a presidente. Era uma pauta defendida por Landim e seu vice Rodrigo Dunshee. Há dúvida só se o resultado foi homologado.
Em outra votação, foi rejeitada a extensão de mandatos futuros de presidentes para quatro anos, em vez dos três anos atuais com reeleição. Nesse caso, Landim discursou antes que não queria ficar no clube além de 2024, fim do seu mandato. Ele diz que não tem interesse de seguir como presidente além disso. Ou seja, não defendeu a proposta.
Um grupo de apoiadores do presidente que queria sua permanência por mais um ano além de 2024 foi frustrado. Landim não estimulou esse movimento, nem o rejeitou. Estava neutro.
O fato é que o presidente era dominante no Conselho Deliberativo até pouco tempo. Só que a pressão por mudanças no futebol virou o vento, inclusive com membros da situação questionando bastante suas escolhas, como a permanência do técnico Sampaoli e dos dirigentes do futebol, Marcos Braz e Bruno Spindel. A derrota para o Athletico-PR, na véspera da reunião, teve peso em decisões contra a situação.
Landim está completamente consciente da pressão. Sentiu na reunião que as críticas de conselheiros se concentram em Braz muito mais do que nele. Recebeu apoio de quem reclamou do vice de futebol.
O próprio presidente do clube, portanto, sabe que será necessária uma avaliação do trabalho do futebol ao final da temporada. Uma análise que começa no elenco e vai até o próprio Landim.
Aliados do dirigente apostam em alguma mudança. A questão é o tamanho dessas alterações. E é aí que entra a Copa do Brasil.
Uma vitória na final, e mais uma temporada com título, reduz bastante a pressão por uma mudança radical no futebol do clube. Acredita-se então na situação que Landim faria mudanças e renovação no elenco, sem alterações radicais.
Mas uma derrota obrigaria a uma modificação maior no futebol, na avaliação de aliados. Isso obviamente passa por Sampaoli, que Landim segurou no clube até agora, e pela cúpula do futebol. Landim gosta de Braz, a quem enxerga como um bom executivo de futebol que não é remunerado. Mas o nível de insatisfação com seu trabalho entre aliados só cresce.
O ano de 2024 será eleitoral. A oposição mostrou força na votação no Conselho Deliberativo. E a rejeição ao acúmulo de cargo político e presidente do clube abriu brecha para candidatura do ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello.
O ex-dirigente diz não ter intenção de se candidatar, mas seus apoiadores o querem no pleito. O grupo de Landim está convencido de que a intenção de Bandeira é voltar a ser presidente e deputado ao mesmo tempo. Há um antagonismo claro entre os dois mesmo que não sejam candidatos. Landim vê Bandeira usando o clube pela política, enquanto o opositor acusou o presidente atual de tentar dar um golpe.
Ambos vão ter protagonismo na eleição mesmo que os dois candidatos dos grupos sejam outros - no caso da situação, será com certeza.
Em um cenário desses, um triunfo da Copa do Brasil permite um alívio em mais uma temporada com título. Uma derrota obrigará a uma reação da gestão para dar uma resposta aos associados em ano eleitoral. Aliados vão aumentar bastante a pressão sobre presidente.
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Quero receberPortanto, nos pés dos jogadores, neste domingo, está também o futuro do ano seguinte do Flamengo.
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