Rodrigo Mattos

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Título não faz de Dorival um injustiçado, mas expõe equívoco de Sampaoli

"Só agradecer ao Flamengo por ter mandado Dorival embora," A frase é do atacante Luciano, no campo, ao SporTV, após a conquista do título da Copa do Brasil. Estava obviamente emocionado pela taça e dado a provocações, o que é natural.

Mas sua frase casa com análise corrente na mídia esportiva brasileira de que o resultado da final provou que a diretoria rubro-negra cometeu um grande erro ao não renovar com o técnico duas vezes campeão em 2022. E o título são-paulino seria uma demonstração de como Dorival é superior ao técnico argentino.

É um desses clichês fáceis para quem quer deixar o texto pronto antes mesmo de o jogo ocorrer. Na média, a preguiça de pensar é um característica do jornalismo esportivo brasileiro.

No quadro real, Sampaoli cometeu um erro primário na final. Sua escalação no primeiro jogo - com três atacantes pouco combativos, incluindo um Gabigol em péssima fase - deu o domínio ao São Paulo no primeiro tempo do jogo. Saiu em desvantagem.

Dorival, ora, fez o óbvio, escalou um time combativo, com Nestor e Rato nas pontas para serem competitivos e compensar Lucas e Calleri, mais soltos. Jogadores, diga-se, capazes de criar ofensivamente como se viu pelos decisivos arremates de Nestor na final e de Rato na semi.

No 2º jogo final, no entanto, o Flamengo foi melhor a maior parte do tempo. Escalado com quatro no meio, em um arroubo de bom senso de Sampaoli, marcou na frente e esteve na cara de Rafael duas vezes nos 20min iniciais da partida no Morumbi.

É um exagero concordar com Sampaoli que o Flamengo foi superior em três dos quatro tempos. Trata-se de uma leitura enviesada para tornar seu trabalho positivo e maquiar seu erro. Mas é correto dizer que foram 180min (mais do que isso com descontos) bem equilibrados com grande peso do erro do argentino no resultado final. E que, no Morumbi, o time rubro-negro teve um atuação melhor, criou mais chances de gol.

Não se trata aqui de dizer que o triunfo são-paulino foi injusto. O Flamengo não construiu para ganhar um título neste ano, como admitiu seu ex-artilheiro Gabigol. Porém, o São Paulo não fez lá muito mais.

Lembremos o futebol apresentado por Dorival no Brasileiro é da 14ª posição. Se o Dorival tivesse ficado, o torcedor rubro-negro estaria satisfeito com essa posição no Brasileiro? Dorival também não é responsável, junto com a diretoria do Flamengo, pelas férias de 800 dias do elenco antes da temporada?

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No final das contas, houve uma coincidência nesta final de o técnico são-paulino ser o mesmo campeão com o Flamengo no ano passado. E, como em 2022, ele jogou finais bem equilibradas e se aproveitou das fragilidades de rivais para vencer.

No ano passado, foram os pênaltis na lua de Matheus Vital e Fagner. Neste ano, foi o erro do seu colega Sampaoli. Fez o correto e venceu, tem méritos. E tem também qualidades no trato com os jogadores como se demonstrou ao final do jogo. Sampaoli se retirou do campo, ele ficou ali conversando inclusive com atletas do Flamengo.

Não por acaso há tantos agradecimentos de jogadores são-paulinos. E Luciano provocar a diretoria do Flamengo é parte do entretenimento do futebol. Daí a achar que Dorival é um técnico que mudaria o curso de um universo de erros rubro-negros é só pensamento mágico.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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