Rodrigo Mattos

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Com Arábia Saudita, Fifa enterra eleição e Copa vira jogo de bastidor

Na década passada, a Fifa passou pelo seu maior escândalo de corrupção na gestão do então suíço Joseph Blatter. Um dos casos foi relacionado a suspeitas de favorecimento na escolha de sedes para a Copa do Mundo. Isso levou à mudança do processo que passou a ser feito com votação de todo o Congresso da Fifa, com cada país com um voto, e não só a cúpula.

As mudanças não foram suficientes, Blatter caiu e foi substituído por Gianni Infantino. Ele se apresentou como um reformador da Fifa para recuperar sua credibilidade ao ser eleito em 2016.

Consolidado no cargo, Infantino tratou de implodir o processo de escolha por votação ampla para escolha de sede.

Antes da sua gestão, já tinham sido definidas as sedes das Copas da Rússia-2018 e Qatar-2022, justamente quando houve acusações de corrupção que levaram à queda de Blatter. Foi mantido o processo de escolha e votação do Congresso para 2026, com vitória dos EUA, Canadá e México.

A partir daí, Infantino passou a negociar com os principais dirigentes do Conselho da Fifa, os mais importantes da entidade, quais seriam as próximas sedes. A articulação dentro da federação internacional levou o Marrocos a se juntar à postulação de Espanha e Portugal. Já eram os vitoriosos.

Como consolação, a América do Sul levou três jogos inaugurais. Ressalta-se que, no voto, o continente não tinha chance contra o grupo de votos africano e europeu. Definido, então, o Mundial de 2030.

Logo na sequência, o Conselho definiu a Ásia ou Oceania como sede para 2034. A candidatura da Arábia Saudita, aliada de primeira hora de Infantino, já estava com o caminho aberto. Restou à Austrália se retirar.

Curiosamente, a Fifa manteve o processo de avaliação de candidaturas, apesar de o próprio Infantino já ter dito que os amigos sauditas terão seu Mundial. É um teatro. Até parece que um funcionário da Fifa vai dizer para seu chefe que a Arábia Saudita e seus bilhões não podem receber seu presente.

Toda essa trama nos bastidores deixou de lado qualquer resquício de uma das reformas que supostamente salvariam a Fifa: a democracia na escolha da sede da Copa.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do informado em versão anterior do texto, a imagem no topo da reportagem mostra Salman bin Abdulaziz Al Saud, rei da Arábia Saudita, e não o príncipe Mohamed bin Salman. O erro foi corrigido.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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