Diniz enfrenta seu maior rival na final entre Flu e Boca: o resultadismo
Aos seus próprios olhos, Fernando Diniz diz que o resultado da final da Libertadores não modifica os méritos do seu trabalho e do Fluminense na campanha de 2023. Aos olhos do mundo, o treinador tricolor reconhece que mudará seu status quo com uma conquista da taça da competição continental.
Sempre foi uma marca de Diniz ver como um equívoco que o futebol de um time fosse julgado só pelo resultado. Pode-se dizer que é quase um Dom Quixote no combate ao resultadismo reinante no Brasil. O que não significa dizer, obviamente, que não arme seus times para ganhar.
"Obviamente, o resultado (da final) muda o status quo. Mas o mais importante na minha vida não é como as pessoas me enxergam, mas como eu me enxergo" refletiu o treinador, na véspera da decisão.
A forma como Diniz prefere ser visto é de um treinador em que prevalecem as relações construídas com os jogadores, o que classifica como pilar do seu trabalho. E, depois, como essas relações acabam determinado a disposição tática, o estilo que seu time joga. Quase como se o time fosse uma construção da soma das personalidades no ápice de sua expressão.
E aí falamos das características mais conhecidas do Dinizismo, o amor pela posse de bola, as posições fluídas no campo, a coragem de buscar o jogo ofensivo como princípio custo o que custar.
"Enfrentamos uma grande equipe que não vai mudar e tem o estilo. Nós também temos nossa fortaleza. Obviamente esperamos um jogo tático, competitivo", analisa o técnico do Boca Juniors, Jorge Almirón. Captou, portanto, qual o espírito rival.
Por ironia, o Boca de Almirón é essencialmente um time que se explica na final só pela capacidade de conseguir resultados. O time argentino construiu uma campanha na Libertadores no mata-mata em que empatou todos os jogos, e passou nos pênaltis, graças à performance inigualável de seu goleiro Romero neste quesito.
Foram seis empates, com só três gols marcados e três sofridos. Em toda a campanha, o Boca só tomou cinco gols em 10 jogos, média de 0,5 por confronto. "Tivemos momentos difíceis, e chegamos consolidados, com uma ideia de jogar. Desde abril, a equipe cresceu muito e chegamos no nosso melhor momento (à final)", contou Almirón.
Não há dúvida que este é um ponto em comum entre os times: o Fluminense finalista é uma construção demorada, paulatina. Dá para dizer até que começou em 2019, quando Diniz assumiu um time tricolor com bem menos recursos, desenvolveu sua ideia de jogo, penou cos resultados, mas construiu uma relação com o clube.
"Torcedor tricolor tem uma relação muito íntima com minha forma de trabalhar. Pelo que aconteceu em 2019. Time teve dificuldade de pontuar, e a torcida ficava dividida. Torcida torcia para aquilo dar certo. Joguei clássicos, perdi e fui aplaudido", lembrou Diniz. Para ele, essa relação supera até a membrana de mediação da mídia.
Mas, por mais que o técnico pense como um idealista em certos momentos, não se desprende do mundo real. Ao ser perguntado sobre a importância de ganhar a Libertadores para os tricolores, rebateu com uma questão sobre há quanto tempo o torneio existe: "essa é a 64ª edição", respondeu um jornalista.
E o treinador admite que esse é o tempo que o torcedor do Fluminense espera esse título. Uma expectativa tão longa frustrada abalaria até uma "relação muito íntima". Por isso, neste sábado, o resultado pode virar o melhor amigo de Diniz. Assim ele espera.
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