Rodrigo Mattos

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É ilusão que Liga vai levar à explosão de receita do Brasileiro em 2025

A retomada das conversas entre Liga Forte Futebol e da Libra gera, de novo, um debate sobre como uma possível união poderia alavancar as receitas do Campeonato Brasileiro. Cada clube da Libra vai ter que fazer suas contas e ver se vale mais a pena seguir em uma negociação neste bloco com a Globo ou se unir ao outro grupo numa conversa coletiva.

Mas, dentro dessas negociações das duas Ligas, há uma tese defendida de que haverá um grande incremento de receita do Brasileiro com a formação de um bloco único de clubes.

É óbvio que a negociação coletiva de todos os clubes gera mais valor total do que a de dois blocos. Isso não quer dizer que todos os times, individualmente, ganhem mais, mas que o bolo é maior. O ganho de cada um depende das regras.

Dito isso, uma união dificilmente levaria a aumentos expressivos de receitas atuais do Brasileiro, como foi prometido na chegada de investidores na discussão de ligas (o fundo árabe Mubadala na Libra e o empresário Carlos Gamboa na Liga Forte Futebol).

Explica-se: as condições mudaram bastante desde o início das negociações.

Primeiro, o que está em discussão não é mais a criação de uma Liga e, sim, a formação de um bloco comercial com todos ou a maioria dos clubes. O debate não passa por melhoria no calendário, Fair Play, condições de campo, controle de arbitragem. Trata-se de um mero bloco sem regras de governança no momento, só com critério de divisão de dinheiro, único ponto de fato debatido. Com isso, o campeonato, em si, não melhora, só se está mudando o seu empacotamento.

Segundo, o produto Brasileiro já está com suas propriedades fracionadas. As receitas comerciais, placas, já foram vendidas por boa parte dos clubes para a Brax. Grêmio, Santos, São Paulo, Corinthians já têm suas placas negociadas com a empresa por cinco anos. O pacote comercial é quase todo o patrocínio da Liga. Não se tem notícia também de que a CBF tenha aberto mão dos naming rights do Brasileiro, que são negociados por ele.

Terceiro, o cenário do mercado de TV vive momento desafiador e seria exatamente essa propriedade que seria vendida por um mega bloco. As plataformas de streaming e TV fechada enfrentam enormes dificuldades mundiais na transição de modelo comercial. Há recuo do investimento por parte de empresas como ESPN e Warner. O modelo de transmissão do YouTube gera receitas comerciais, mas longe dos patamares anteriores de plataformas fechadas. Redes sociais como Facebook simplesmente abandonaram o mercado depois de testá-lo.

Na Europa, a maioria dos direitos de campeonatos está estagnado. O relatório da Deloitte "Money League" apontou que se tornou uma receita estável sem os incrementos vultosos anteriores. Tanto que Itália e França não obtiveram seus valores mínimos pedidos pelos direitos de TV.

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Resta no Brasil, de novo, como grande comprador de direitos no Brasil a Globo. E a emissora já mostrou que, sim, tem interesse em todo o pacote do Brasileiro, mas tem um bolso limitado. Houve redução de investimento da emissora no futebol nos últimos anos na sua própria transição de modelo de negócios.

A Libra negociou com a emissora uma proposta que garante os ganhos atuais aos clubes com alguns percentuais do PPV como extra se a plataforma sobreviver. Não houve resposta à proposta da Liga Forte Futebol, que pedia mais dinheiro.

Pode haver uma surpresa, mas uma negociação coletiva vai gerar ganhos sim, com limitações, e não necessariamente para todos. Não vou entrar aqui nos critérios de divisão de receita já largamente abordados em outros textos, e fruto de nova discussão entre Liga e Liga Forte Futebol.

Um mega bloco pode ser até um princípio de uma liga para o futuro a longo prazo que, de fato, aumente as receitas de forma significativa do Brasileiro. Mas, para o próximo ciclo a partir de 2025, é ilusão acreditar que haverá um salto de patamar exponencial da Série A como se previa inicialmente. Essa janela de oportunidade já se perdeu em dois anos e meio de desentendimentos entre clubes.

Opinião

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