Textor mistura acusações aleatórias para gerar suspeita sobre Brasileiro
Quando o Botafogo desandou no Brasileiro-2023, o dono do clube, John Textor, iniciou campanha de acusações contra o campeonato, a arbitragem e a CBF. Falou em corrupção após derrota contra o Palmeiras, contratou um relatório de inteligência artificial que apontava manipulação na competição e depois indicou ter gravações de árbitros discutindo propina. Tudo em um quadro confuso que lança lama sobre o campeonato.
Nestes quatro meses, o empresário norte-americano não apresentou sequer uma prova consistente de suas suspeitas sobre a Série A.
Neste domingo, Textor deu uma declaração ao seu site para supostamente esclarecer sua postura. Reconheceu não ter gravações contra árbitros da Série A. Mas isso não o impediu de continuar a lançar suspeitas contra o campeonato.
Lembremos, na semana passada, em entrevista a "O Globo", soltou uma bomba: afirmou ter "juízes gravados reclamando de não terem suas propinas pagas". Na sequência dessa declaração, ele fala que: "Houve manipulações e erros em 2021, 2022, 2023, e nós temos provas."
Antes disso, apontou que o Botafogo não ganharia campeonatos assim. E informou que "os fãs vão ficar sabendo, nos próximos 30 dias, o que realmente aconteceu no campeonato."
Segundo Textor, agora ao seu site, os veículos erraram ao associar uma declaração (sobre gravações de árbitros) a outra (sobre a Série A). "Eu nunca disse que tinha um árbitro gravado envolvido em manipulação de arbitragem no jogo da Série A ou relacionado ao Botafogo, Série A e B."
Ora, mas é o próprio dirigente norte-americano que tem criado esse quadro de confusão para gerar suspeita sobre o Brasileiro. Ao seu site, de novo, Textor lança novo ataque sobre a Série A ao falar sobre a partida decisiva perdida para o Palmeiras. "Eu já tinha evidências do que aconteceu antes do jogo. Tínhamos conhecimento? Não é sobre árbitros. É sobre uma parte dos árbitros." Conhecimento do quê? De relatórios de inteligência artificial. Ah tá.
E, mais uma vez, levanta supostos indícios de um jogo do Palmeiras, sempre o time que o derrotou, manipulado em 2022. Não dá provas, nem nada consistente.
Óbvio que denúncias de manipulação de arbitragem têm que ser investigadas, independentemente da divisão e da motivação. Textor deve entregar o que tem a autoridades públicas - sendo que ele indica que algumas delas já têm posse do material, o que torna mais confuso porque ele levantou isso agora - e à Justiça Desportiva.
Mas é extremamente irresponsável associar sejam lá que indícios o dirigente norte-americano tem com acusações sobre o Brasileiro-2023 sem que exista um vínculo real. E ele está fazendo isso ao criar um quadro confuso em que joga lama para todo lado, fingindo posar de pessoa que quer proteger o futebol.
Até agora ele só baseia seus ataques ao campeonato no relatório da empresa "Good Game", até então desconhecida, afirmando haver manipulações de arbitragem sem nenhuma prova. Trata-se de trabalho feito por Inteligência Artificial. A Justiça Desportiva já arquivou a denúncia baseada nisso. Detalhe: a empresa Sports Radar, conhecida mundialmente por verificar manipulações em jogos para apostas e contratada da CBF, não constatou nada suspeito no Brasileiro-2023.
Imaginemos a seguinte hipótese: Textor é dono de uma franquia da NBA e começa a lançar seguidas suspeitas de manipulações contra a liga. Não apresenta nenhuma prova além de um discurso misturando fatos aleatórios. As declarações têm destaque, mancham a competição e depreciam seu valor. A consequência seria perda em contratos de TV, publicidade, etc.
Será que esse tipo de atitude passaria impune? Outros donos de franquia e a própria administração da NBA assistiriam calados a uma pessoa atacar o produto sem base? Será que na Premier League, onde Textor tem percentual sobre o Crystal Palace, acusações dessas seriam relevadas?
Está na hora de Textor ser cobrado de fato pelas suas declarações. Se não tiver nada a apresentar, que seja punido de forma dura. Há problemas com a arbitragem brasileira e com manipulação de jogos com ligações com apostas, fato. Mas isso precisa ser tratado de forma séria, e não na base da bravata e para justificar o próprio fracasso esportivo.
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