Rodrigo Mattos

Rodrigo Mattos

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
ReportagemEsporte

Por que CBF tem poder de adiar decisão sobre paralisação do Brasileiro

Desde sexta-feira, houve um aumento de pressão por uma paralisação do Brasileiro da Série A por causa da tragédia no Rio Grande do Sul. Primeiro, foi o Ministério do Esporte que pediu a suspensão do campeonato. Depois, 15 clubes da 1ª Divisão já se manifestaram a favor da parada até o final de maio — Bahia e Vitória foram os mais recentes. Mas a CBF deixou a decisão para o Conselho Técnico de clubes em 27 de maio.

O Rio Grande do Sul foi atingido por fortes chuvas que alagaram boa parte dos municípios, destruíram infraestrutura, mataram mais de 140 pessoas e desabrigaram 80 mil. Os estádios de Inter e Grêmio, times da Série A, estão alagados assim como seus CTs.

A confederação seria obrigada a atender o desejo da maioria dos times pela pausa imediata da Série A? Quem tem o poder de definir a interrupção do campeonato?

Pelo seu Estatuto, a CBF tem a função de "dirigir, organizar e ordenar" o futebol no Brasil de forma independente e "prevenindo quaisquer ingerências políticas". Por isso, a entidade pode ignorar a sugestão do Ministério do Esporte, o que é amparado pela Constituição.

Além disso, é dada à entidade a "exclusividade" sobre a operação e quaisquer atividades relacionadas a competições interestaduais. O calendário anual, que tem que ser modificado em caso de adiamento, também é um poder exclusivo da CBF.

Mais, o próprio regulamento da Série A estabelece que o regulamento e a tabela "podem sofrer alterações em decorrência de força maior, pandemia ou por razões excepcionais, mediante informação a ser encaminhada aos Clubes e Federações pela DCO". Ou seja, a diretoria de competições que determina alterações no campeonato.

Pelo estatuto, o Conselho Técnico, composto pelos clubes da Série A, tem a função de aprovar o regulamento e a forma de disputa do campeonato. Mas, depois de as regras definidas, não teria mais poder de decisão.

Na sexta-feira, o presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, disse que deixaria a decisão sobre a paralisação com os clubes. "O que chegar à CBF vai ser definido pelo conselho técnico de cada divisão, comungando com todas as competições internacionais que os clubes disputam", disse ele. Era, naquele momento, uma forma de dividir a decisão com os clubes.

Depois disso, a entidade enviou um ofício aos times pedindo manifestação sobre a posição do Ministério do Esporte. Na segunda-feira, os clubes da Liga Forte União (LFU) votaram e decidiram pela paralisação, embora alguns fossem contra. Assim, 11 clubes da organização assinaram um ofício pedindo a parada para a CBF até o final de maio.

Continua após a publicidade

A esses clubes, juntaram-se Atlético-MG e Grêmio, que também mandaram documentos manifestando o pedido de paralisação. O número de 15 clubes apoiando a pausa chegou a 15 com o posicoonamento de Bahia e Vitória, nesta terça-feira (14).

Clubes como Flamengo e Palmeiras já disseram ser contra a parada, enquanto os outros não apoiaram publicamente, nem negaram.

Mas Ednaldo Rodrigues está na Tailândia para o Congresso da Fifa, no qual será votado se o Brasil será sede da Copa do Mundo feminina em 2027. De lá, ele deu entrevista ao Globo Esporte em que afirmou que respeitará a decisão dos clubes no Conselho Técnico, isto é, na reunião do dia 27 de maio. Confirmou, na declaração, que a confederação tinha a prerrogativa de adiar sozinha.

Por ter o poder de interromper o Brasileiro sozinha, a CBF pode determinar como será a votação dos clubes para decidir a parada. A não ser que mude de posição, isso só vai ocorrer no Conselho Técnico do dia 27, quando, na prática, estará quase extinto o período de suspensão. Não é obrigada, pelas regras, a obedecer o ofício.

O objetivo da confederação é mostrar aos clubes quais seriam os impactos de uma parada para o Brasileiro. E talvez convencê-los. A CBF é contra a paralisação pelo impacto no calendário e efeitos na cadeia do futebol.

Outro fator na mesa é que, embora não joguem pelo Brasileiro pelo menos até o dia 27 de maio, Grêmio e Inter têm jogos pela Libertadores e Sul-Americana já nos dias 28 e 30. Ambos já têm preparativos para voltar aos treinos.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Deixe seu comentário

Só para assinantes