Caso Dudu mostra como é difícil para clube se desapegar de ídolo
Dudu saiu e não saiu, fez que foi mas não foi, como diriam os antigos. Sua possível saída do Palmeiras para o Cruzeiro, ainda incerta, mostra como é difícil para clubes e torcidas do Brasil se desapegarem de seus ídolos. Não é fácil tomar a decisão racional de cortar a relação.
Após a publicação deste texto: Leila Pereira, presidente do Palmeiras, demonstrou ser bastante pragmática ao dizer que espera que Dudu cumpra o combinado e se transfira para o Cruzeiro.
Lembremos a história desde o início baseado na apuração de colegas aqui do UOL como Danilo Lavieri e Flávio Latif. Dudu pediu ao Palmeiras para ser negociado com o Cruzeiro diante de uma proposta mais vantajosa.
A oferta foi um contrato por quatro anos, mais extenso do que seu atual, e um salário maior do que o pago pelo Alviverde. O Palmeiras levaria US$ 4 milhões na transação, o Cruzeiro ficaria com um jogador pesado em seu elenco em recomposição.
Dudu é o símbolo da reconstrução palmeirense, condutor de uma era inesquecível para o torcedor. Sua relação é ainda mais especial na era vitoriosa do clube porque ele chegou na baixa, em uma negociação que representava uma virada.
Mas uma análise racional mostra que é um jogador de 32 anos vindo de uma contusão séria. Mais do que isso, antes de se lesionar, não vinha entregando em campo o que produzia nos seus melhores dias, menos do que custava ao Alviverde.
Em uma reformulação, faz todo sentido para a diretoria do Palmeiras liberar sua saída e ainda ganhar com isso: US$ 4 milhões é bastante para um jogador desta idade no Brasil. É preciso rejuvenescer o elenco. E nem foi uma negociação iniciada pelo Alviverde. Seria quase uma dádiva, uma oportunidade.
A torcida, no entanto, reagiu mal, organizadas foram em sua casa para convencê-lo, influencers aos gritos no microfone. E Dudu bambeou, segundo relatos, diz que não quer sair mais. Aparentemente pode permanecer. Hoje está em um limbo que tende a sair mal para qualquer lado que vá, já que ambas as torcidas podem se sentir rejeitadas. É meio assim quando se envolve as relações do coração.
Não é algo exclusivo do Palmeiras. O Flamengo quase perdeu Bruno Henrique, com proposta do próprio Palmeiras, e houve histeria. Seu salário era alto, voltava de contusão e o futuro era incerto. O clube da Gávea renovou com reajustes por três anos e, hoje, ele rende abaixo do seu histórico. A ver se vai se recuperar.
Também na Gávea há uma discussão sobre Gabigol, que joga pouco, criou polêmicas e está em debate sobre se vale uma renovação. Racionalmente, hoje não vale. Talvez em alguns meses isso mude. De qualquer maneira, mesmo com o desgaste, o afeto pesa.
No final, não é fácil para nenhuma torcida ou clube se desapegar da relação emocional com um ídolo. Por consequência, é difícil para o dirigente tomar a decisão mais racional. O Palmeiras foi bastante frio (isso é um elogio) ao topar a saída de Dudu, era o mais correto em uma análise de custo-benefício. O coração, porém, tem razões que a cabeça não explica.
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