Rodrigo Mattos

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Racismo argentino que revolta França é rotina em ataques a brasileiros

A briga entre argentinos e franceses depois do jogo mata-mata das Olimpíadas de Paris-2024 escancara o atrito entre os times dos dois países surgido por conta dos canto racista da seleção sul-americana. Não é uma novidade para brasileiros, no entanto, pois insultos discriminatórios são uma constante no ambiente do futebol do país vizinho.

Lembremos, o racismo não está presente só na Argentina ou na Espanha, e sim em praticamente todos os países, inclusive a França e Brasil. Mas são nos estádios argentinos e espanhóis, além de entre jogadores, que rotineiramente têm usado o preconceito para atacar rivais.

Foi nesse contexto que surgiu o vídeo do volante Enzo Fernandez após a conquista da Copa América. Campeões. Ele e colegas - não era possível ver os outros - cantavam que os jogadores atuavam pela França, mas eram na verdade "angolanos", entre outros insultos.

A música tinha surgido na torcida argentina durante a Copa do Qatar-2022.

E era quase uma consequência natural de um grupo de torcedores que, em partidas de Libertadores, costuma imitar macacos quando jogam contra brasileiros. Ou fazem barulho de símios ou até jogam bananas.

Isso levou a Conmebol a instituir uma punição mais dura por racismo, o que não conteve as manifestações discriminatórias mesmo com pedidos dos clubes a seus torcedores para evitar punição.

Por que o racismo está entranhado em boa parte da cultura argentina de torcida. É o que se pode perceber, por exemplo, ao analisar as reações às matérias sobre a briga entre França e Argentina. Há ali diversos comentários racistas ou que não reconhecem o canto de Enzo Fernandez como discriminatório.

Uma parte dos jornais argentinos chama os cantos de Enzo e companheiros de racista, outra parte só se refere como polêmico. Mas fazem muito pouco, assim como a sociedade argentina em geral, para demonstrar indignação, cobrar mudanças. A briga entre os dois times nas Olimpíada é tratada como um atrito comum.

Até hoje a AFA (Associação de Futebol Argentina) não pediu desculpas, o capitão do time Messi não falou nada e o governo federal demitiu o único funcionário que tentou repreender a equipe. Ou o corpo de futebol local não acha que houve nada errado naquele episódio ou tem vergonha de agir para não ferir ânimos de torcedores.

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Mas vai ser difícil para jogadores argentinos fingirem que nada aconteceu de grave como se demonstrou pelo enfrentamento feito pelos jogadores franceses após os eliminarem. O atacante francês Jean-Philippe Mateta deixou claro que os insultos de Enzo e seus colegas influenciaram na ira deles nas Olimpíadas, assim como os festejos na frente da torcida albiceleste.

Como consequência, o argentino Beltrán ficou incomodado de ser chamado de racista. "Te festejam na cara, te insultam e te tratam como racista. Um diz: 'Eu não sou assim. Por que tem que me dizer isso?" , disse ele após o jogo. "O rótulo que nos colocam como racista está mal posto."

Obviamente, ele tem razão que a maioria dos argentinos não é racista. Mas o que estão fazendo para mostrar que as manifestações discriminatórios são inaceitáveis? Quantos condenaram o canto da seleção do país no meio do futebol?

Rótulos não se apagam só com pedidos, mas com mudanças de atitudes. A face que parte dos torcedores argentinos mostrava aos brasileiros nos jogos de Libertadores é bem feia. Agora, ela está exposta no mundo. Resta saber como a sociedade argentina pretende ligar com o problema: não vai dar certo varrer para baixo do tapete como é feito na América do Sul.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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