Por que o patrocinador de Corinthians e Palmeiras é alvo da polícia

No Brasil, havia a Sports Entretenimento Promoção de Eventos, com sede em Recife, que também tem a denominação como HSF. É essa empresa que pede, inicialmente, autorização ao Ministério da Fazenda para ser regularizada como operação de apostas.

Só que a empresa, assim como Darwin, já vinha sendo investigada pela polícia pernambucana pelo menos desde 2022. Um documento do inquérito, revelado pelo site Poder 360, mostra que havia uma suspeita policial de que o dinheiro da empresa se misturava com o do jogo do bicho, da banca Caminho da Sorte, que pertencia ao pai de Darwin, que tem o mesmo nome.

Tanto que o início da investigação ocorre com uma busca na sede da Caminho da Sorte que apreende R$ 180 mil em dinheiro vivo, além de encontrar funcionários com a camisa da Esportes da Sorte.

A partir daí, a investigação policial fez diversos levantamentos e quebras de sigilos bancários, inclusive de Darwin Henrique, que encontram operações financeiras suspeitas de lavagem de dinheiro. Os pagamentos feitos nos sites de aposta da Esportes da Sorte, por exemplo, são feitos por uma empresa brasileira com sede em Curitiba, em Pix, e não vão para o exterior.

O documento aponta que houve diversas movimentações acima de R$ 50 mil sem comunicação a órgão governamentais. Em quatro anos, de 2019 a 2023, a movimentação atingiu R$ 3 bilhões. E a polícia acompanha as assinaturas de patrocínios da Esportes da Sorte com times de futebol, que foram incluídos no relatório.

Mudanças na Esportes da Sorte em 2024

No meio de 2024, a Esportes da Sorte incluiu o pedido de uma nova empresa para autorizar apostas no Brasil. De novo, o grupo se utiliza de um intrincado grupo de companhias com muito capital, escritórios em Recife e um sócio em paraíso fiscal europeu.

Sai a HSF Gaming de Curaçao e entra a Alpharise, de Luxemburgo.

O pedido da Esportes da Sorte de autorização ao Ministério da Fazenda foi feito pela empresa Esportes Gaming Brasil LTDA, que entrou com a solicitação de operação de jogos em agosto deste ano. A empresa tem capital de R$ 65 milhões.

Seu endereço registrado, no entanto, é um prédio de escritórios de co-working e salas pequenas em Recife, com aluguéis entre R$ 900 e R$ 1.000. O administrador é Darwin Henrique. Mas o sócio de fato é a empresa Alpha Brasil Participações.

A Alpha tem um capital ainda maior: R$ 92 milhões. O endereço é em outro prédio de escritórios pequenos e médios em Recife, com salas de até 45 metros. O administrador é, de novo, Darwin Henrique.

A sócia da Alpha Brasil é uma empresa chamada Alpharise Investments SPF SA, com sede em Luxemburgo. Não é possível saber o dono de qualquer empresa no registro de companhias do país europeu. Mas a Alpharise tem um capital de apenas 30 mil euros (R$ 187 mil), apesar de controlar empresas maiores. Não é ilegal ter empresa em Luxemburgo.

Mais curioso é o endereço da sede da Alpharise: Rue Merl, 63-65. Trata-se do local da empresa de contabilidade Accountis Sarl, que organiza as contas da Alpharise. O endereço, assim como o nome do contador responsável Jean Marie-Faber, aparece nos arquivos do Panama Pappers.

O Panama Pappers foi o maior esquema de empresas offshores do mundo para omitir reais donos de negócios, descoberto pelo ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalismo Investigativo).

No final, isso significa que não dá para saber quem é dono real do controlador da Esportes da Sorte.

A legislação sobre apostas no Brasil - por meio de portaria do ministério - prevê que o operador tome medidas contra lavagem de dinheiro. É obrigatório, por exemplo, atenção especial a apostas ou operação delas de pessoas envolvidas ou suspeitas de lavagem de dinheiro.

O Ministério da Fazenda tem até o final do ano para analisar os 118 pedidos de autorização para operar jogos. Se não for obtido o aval, a empresa passa a atuar ilegalmente. E não poderá patrocinar competições ou times.

Questionados pelos blog, Corinthians e Palmeiras não se manifestaram sobre a investigação da Esportes da Sorte. A informação dentro do clube alviverde é que o caso está em análise no departamento jurídico. A agremiação alvinegra acompanha o caso.

A assessoria da Esportes da Sorte não respondeu sobre sua estrutura societária. Mas divulgou uma nota sobre a operação policial.

"A empresa Esportes da Sorte informa que ainda não teve acesso à decisão judicial que autorizou busca e apreensão em sua sede. Contudo, ressalta que, desde março de 2023, tem prestado todos os esclarecimentos necessários nos autos do inquérito policial em curso, através de diversas petições e documentos apresentados pelo escritório Rigueira, Amorim, Caribé e Leitão ? Advocacia Criminal.

As atividades de aposta de cotas fixas da empresa cumprem rigorosamente a Lei n.º 13.756/2018 e a Lei 14.790/2023, com excelência jurídico-regulatória, acompanhamento de auditoria independente e sistema de compliance.

A operação policial será impugnada perante o Juízo competente, demonstrando-se que houve interpretação precipitada e equivocada dos fatos apurados, sem qualquer análise ou consideração dos argumentos já apresentados. Tanto é assim que a autoridade policial não apreendeu qualquer objeto, documento ou equipamento na sede da empresa. A Esportes da Sorte, como sempre esteve, permanece à disposição das autoridades."