Rodrigo Mattos

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Só Fair Play evitaria contratação irresponsável como Depay no Corinthians

O Corinthians fechou a contratação do holandês Memphis Depay como reforço para o restante da temporada. Seu custo gira em torno de R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões, segundo as apurações de colegas do UOL. Trata-se provavelmente do jogador mais caro do Brasil.

Essa operação é feita em um momento com o Corinthians com dívida bruta em torno de R$ 2 bilhões.

Mais do que isso, o clube demonstra incapacidade de pagar seus compromissos correntes. Deu um calote no Flamengo pela compra de Matheuzinho, não quitou parcelas de Raniele ao Cuiabá, perdeu Martías Rojas no início do ano por dívidas e o atacante Gustavo Mosquito deixou o clube por não recolhimento de FGTS. O próprio presidente do clube Augusto Mello já falou em escolher as contas que paga.

O clube já tinha investido em torno de R$ 130 milhões em reforços na temporada. Alguns desses são os jogadores em que o Corinthians já atrasou os pagamentos aos times vendedores.

O sistema desregulado do futebol brasileiro permite que uma agremiação faça contratações mesmo que não tenha pago pelas anteriores.

Primeiro, não há nenhum Fair Play Financeiro, presente em todas as grandes ligas da Europa, em que se analise a capacidade de gastos dos clubes. Na Espanha, na La Liga por exemplo, uma agremiação é bloqueada de contratar se não atender alguns parâmetros financeiros.

Não há também um sistema de restrição dos seus gastos a um percentual de sua receita total. Na UEFA, foi criado um limite de 70% dos gastos com salários, transferências e custos de futebol em relação à renda. Haverá uma adaptação até se atingir esse percentual - neste ano, vale 90%.

Também não há um sistema que bloqueie automaticamente contratações por parte de clubes que estejam com débitos seja com jogadores, seja com outros clubes. Um regulamento que prevê perda de pontos por salários atrasados está em vigor, mas é peça de ficção visto que nunca é aplicada.

O sistema de cobrança pode ser feito via tribunais da Fifa ou da CBF. Mas é moroso até determinar o chamado transfer ban em que o clube é vetado de registrar jogador por uma dívida.

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Assim, os clubes podem operar nesse buraco negros da desregulação e criar vantagem competitiva por meio de irresponsabilidade. O Corinthians contrata mesmo tendo dívidas e compete com rivais que têm suas contas em dia. O outro time é rebaixado, a equipe alvinegra escapa e a crise financeira muda de lado.

E é absolutamente indiferente se o dinheiro para contratação de Depay vem eventualmente da patrocinadora do Corinthians Esportes da Sorte, empresa, aliás, investigada pela polícia por lavagem de dinheiro. Se há um recurso extra, esse tem que ser usado para quitar os débitos anteriores, e não fazer novos.

Uma contratação como Depay, que foge de qualquer lógica dentro do estágio das finanças corintianas, só vai ser bloqueada quando houver um sistema de Fair Play financeiro robusto no Brasil. Enquanto isso, vale a lei do mais esperto. Há quase um incentivo à malandragem no futebol brasileiro.

Opinião

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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