Rodrigo Mattos

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Transparente, Corinthians não apresenta solução para maior problema: dívida

Em evento na sexta-feira, o Corinthians apresentou todos os números de sua situação financeira no chamado dia da transparência. Há um mérito na exposição, em ter o balancete semestral, em prestar contas à torcida. É uma atitude extremamente necessária.

Mas chama a atenção de, após o diagnóstico, o clube não ter apresentado nenhuma solução, sequer um caminho, para resolver o maior problema do clube, que é a dívida.

Pelos números expostos, o Corinthians atingiu uma dívida bruta de R$ 2,31 bilhões. O valor representa um crescimento considerável em relação ao final do ano passado quando o montante estava em torno de R$ 2 bilhões.

Atribui-se uma parte do aumento a um passivo fiscal - R$ 220 milhões - que não tinha sido registrado no balanço do ano passado pela gestão de Duílio Monteiro Alves. E o restante é de crescimento de R$ 132 milhões no ano - a diretoria ressalta que abaixo da taxa de juros.

Um endividamento de tal valor - com um clube que tem receita na casa de R$ 1 bilhão - provavelmente deveria ser tratado como prioridade. Até porque o próprio clube admite que acumulou R$ 139 milhões em juros em 2024. Sim, dois Memphis Depay em juros em um semestre. Em um ano, serão quatro atacantes iguais ao holandês em juros, nas palavras da diretoria.

Mas, após semanas para um diagnóstico, a diretoria do Corinthians informou que ainda vai pensar no que fazer sobre a dívida:

"Tem a questão do endividamento. Que obviamente que a gente está olhando com muito cuidado. Estamos pensando possibilidades. É um assunto mais para frente ainda, para a gente entender melhor, entender os caminhos. Sem dúvida, é uma questão que estamos discutindo internamente", disse o diretor de finanças Pedro Silveira, na parte da exposição sobre o futuro do Corinthians.

Depois disso, nas perguntas, afirmou que negocia um acordo com a Procuradoria da Fazenda para a dívida tributária e aposta em venda de participações a torcedores para pagar a arena - além do pix da Gaviões da Fiel. Em resumo, após oito meses de gestão de Augusto Melo, ainda não há um plano estruturado para começar a pagar a dívida.

O balancete de 2024 mostra crescimentos significativos no passivo nos itens fornecedores, obrigações sociais e tributos parcelados. Neste último caso, o Corinthians acumula R$ 600 milhões em tributos parcelados porque não paga impostos recorrentemente.

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Pois bem, como se sabe pelo noticiário recente, o clube gastou bastante na janela de transferência. Em sua exposição, a diretoria corintiana explicou o investimento porque houve um lucro nas operações no período de R$ 20 milhões. O valor é insuficiente para pagar um mês de juros do Corinthians.

O CEO Fred Luz, que era conhecido por cortar gastos quando na gestão de recuperação do Flamengo, não vê contradição.

"Memphis está incluído nessa conta também. "Puxa, Fred você sempre foi considerado uma cara da disciplina, da restrição. Mudou alguma coisa?" Não mudou nada. Estou muito tranquilo com o Corinthians, e com o que a gente está fazendo", disse ele.

Quando Fred Luz chegou ao Flamengo, antes mesmo de ser CEO, uma das primeiras atitudes do clube na época foi devolver o atacante Vagner Love ao futebol russo porque não havia condições de pagar por sua contratação. No Corinthians, ele autorizou aumento de contratações.

Mas há dinheiro para pagar Depay? A diretoria corintiana garante que, sim, que tudo foi feito com "responsabilidade fiscal?. Fred Luz explicou que os gastos ficaram próximos dos feitos pelo clube em 2023: não ultrapassaram o orçamento, o que é verdade. É fato que o clube tem superávit operacional - gasta menos do que arrecada - só que isso desconsiderando o pagamento dívida. Há R$ 1,2 bilhão a ser pago na gestão de Augusto Melo, pela apresentação da diretoria.

"Corinthians está sendo feito com muito planejamento, muita responsabilidade?, afirmou o diretor Pedro Silveira.

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E qual é esse planejamento? Pouco antes, Silveira explicou que não sabia ainda como seria o fluxo de caixa a longo prazo quando autorizou contratações. Ou seja, ele não planejou quanto entra e quanto sai. Mas, ainda assim, deu aval ao aumento de gastos com contratações.

"Porém, quando eu e Fred assumimos aqui em julho, junto com essa diretoria, a gente teve uma conversa com o Augusto e com o Fabinho. Que a gente precisava de tempo para ver onde estava. Até para ver o fluxo de longo prazo. Porém, mesmo não tendo essa visão de fluxo de longo prazo. Porém, sabendo da necessidade de reforços, a gente deu R$ 20 milhões (para contratações) para aumentar o déficit em 2024?, disse Silveira. Em seguida, ressaltou que houve superávit nas operações.

Há uma aposta, sim, no aumento de receitas. Fred Luz apontou que o Corinthians explora mal suas fontes de renda, entre elas licenciamento, sócio-torcedor e espaços de patrocinadores. Fato, o clube ganha abaixo de outros clubes do mesmo patamar e até de outros com menor torcida.

Mas a aposta é apenas no aumento de receita. Não houve corte de gastos em relação a 2023. Não houve restrição de investimento em contratações. Não houve nenhum planejamento estruturado para pagar a dívida que cresce de forma exponencial a cada ano. Não se falou, nem se perguntou sobre os calotes constantes.

O Corinthians, transparente, vive como se dívidas não houvesse.

Opinião

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