Rodrigo Mattos

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Processo da Premier contra City serve de modelo de Fair Play para o Brasil

A acusação da Premier League contra o Manchester City por burlar regras financeiras começou a ser julgada nesta semana por um tribunal arbitral na Inglaterra. O caso serve como um modelo para o Brasil quando se volta a discutir Fair Play financeiro no país.

Lembremos, o City é acusado de maquiagens para burlar regras financeiras da Premier League. A grosso modo, inflava receitas de patrocínio e fazia pagamentos de salários de jogadores por meio de terceiros. Assim, podia gastar mais do que o permitido na liga.

Sim, há uma restrição de gastos na Premier League, na UEFA e nas ligas de elite europeia. Não se pode simplesmente pegar todo o dinheiro dos Emirados Árabes Unidos ou da Arábia Saudita ou de um bilionário russo para contratar e montar um superaste. Quer dizer, teoricamente, não se pode fazer isso.

Existe um limite de gastos e investimentos percentual a sua receita obtida. No caso europeu, a UEFA impõe uma restrição de 70%.

O objetivo é que o dinheiro investido no futebol seja gerado pelo próprio futebol. Por que, se não houver esse limite, é provável que uma injeção artificial de recursos sem limites cause um desequilíbrio competitivo que mate completamente a liga.

Fora a possibilidade de usar o futebol para outros fins como sportswashing (limpar a imagem de ditaduras) ou lavagem de dinheiro.

A questão é que, apesar de existirem regras na Europa, os órgão não conseguiram impedir esse financiamento artificial do futebol. É fácil ver o caso do City e do PSG como emblemáticos. A UEFA começou com processos duros contra esses clubes e acabou com punições tíbias.

O caso do City na Premier League é visto na Inglaterra como um divisor de águas justamente porque vai determinar se esse tipo de investimento artificial será punido ou vai liberar geral.

No Brasil, com a nova lei da SAF, o país promoveu uma necessária abertura do futebol para o capital externo, para uma gestão mais empresarial. Sim, investimentos iniciais para poder botar a casa em ordem, negociar dívidas e construir uma base de elenco são necessários e bem-vindos.

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Mas, a partir de certo momento, o clube tem que passar a andar com as pernas do seu próprio capital. Ou a concorrência se torna desleal. Assim como é desleal que um clube se endivide de forma absurda e não pague outros times para montar um time para competir com os outros. Ou seja, use capital que não tem para competir.

É isso que já começou a ser discutido em um modelo de Fair Play do economista Cesar Grafietti, que foi engavetado pela CBF. Havia ali uma previsão de restrições similares às que são impostas ao City pela Premier League.

As novas discussões de clubes sobre Fair Play, após a SAF, devem se preocupar com essas questões.

O caso do City vai sinalizar para que lado vai o capitalismo do futebol visto que a Premier League é modelo para o mundo. Cabe ao Brasil acompanhar e tomar lições para o futuro.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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