Rodrigo Mattos

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Erro de R$ 114 mi no cálculo de dívida é mais um na série no Corinthians

A diretoria da Corinthians reconheceu ter cometido um erro ao anunciar uma dívida fiscal extra de R$ 220 milhões no seu dia da transparência. O valor, na realidade, é de R$ 106 milhões referentes a débitos municipais e federal.

O blog tratou do tema em 24 de setembro. Na ocasião, mostrou que pessoas com conhecimento das contas do clube desconheciam a origem do novo passivo que aumentava em praticamente 10% o débito total. A diretoria, então, se recusou a dar explicações.

A dúvida só foi sanada quando o diretor financeiro do Corinthians, Pedro Silveira, foi cobrado pela informação em reunião no Conselho de Orientação (Cori). Na ocasião, ele reconheceu para conselheiros que houve um erro na divulgação da dívida, como mostrou a repórter Livia Camillo aqui no UOL.

A dívida municipal se refere a tributos sobre bilheteria. Havia uma cobrança de R$ 170 milhões que o Corinthians considerava inicialmente indevida. Depois, o clube passou a considerar provável a derrota em disputa judicial. Houve um acordo e esse valor ficou em R$ 76 milhões a serem pagos de forma parcelada.

Já em relação à pendência federal, clube informou que entendera inicialmente que havia um valor de dívida com o governo de R$ 80 milhões. Após 'uma análise minuciosa' constatou-se que o montante real era de R$ 30 milhões. "Essa diferença decorreu de divergências entre os relatórios da Receita Federal e os relatórios existentes no clube".

Ora, a diretoria não pode anunciar para o mundo uma dívida de R$ 220 milhões sem ter as devidas checagens sobre ela. Se um débito ainda estava em negociação, como no caso do municipal, espera-se sua conclusão.

A análise minuciosa tem que ser feita antes da divulgação, não depois dela. Os valores sequer estavam no balancete semestral. Bastava deixar os débitos de fora da conta e fazer uma ressalva de que havia débitos em discussão que poderiam aumentar o valor final.

Do jeito que ficou, a diretoria corintiana compromete a confiança nos próprios números. Será que cometeram outros erros? A dívida bruta real é mesmo de R$ 2,2 bilhão (valor corrigido)?

É mais uma falha grave de gestão da presidência de Augusto Melo. Assinou um contrato com uma casas de apostas, Vai de Bet, com comissão que virou investigação policial e gerou um rompimento. Não sabia que teria de pagar uma multa do patrocinador anterior Pixbet e, depois de aceitar quitá-la, dar calote em uma das parcelas.

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Substituição da Vai de Bet por uma empresa chamada Esportes da Sorte que já estava sob investigação policial, embora sigilosa. A diretoria aumenta sua despesa em R$ 70 milhões ao contratar Memphis Depay baseada nos ganhos com a Esportes da Sorte - apesar da dívida acima de R$ 2 bilhões.

A agora descobre-se que a Esportes da Sorte não conseguiu autorização do governo (por conta da investigação policial), está ameaçada de não poder operar no Brasil e de patrocinar o time. Para tudo isso, o clube não se preparou com a contratação de um seguro, como mostrou o UOL.

Em paralelo, Augusto Mello paga multa atrás de multa ao Flamengo para escalar Hugo Souza - que corresponde em campo - sem saber precisamente em que data pode comprá-lo.

Aliado à irresponsabilidade, a gestão do Corinthians comete erros primários em um momento delicado em que qualquer falha pode ser fatal. O clube tem a maior dívida entre os clubes do Brasil, nenhum plano concreto até agora para saná-la e uma ameaça de rebaixamento no Brasileiro. E seus dirigentes só aumentam o problema a cada dia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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