Rodrigo Mattos

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ReportagemEsporte

Mosaico insano, cera da torcida e sem palavrão: dia de clássico no Sauditão

Era possível ver esboços de dois desenhos nas arquibancadas do estádio King Abdulla Sports City antes do clássico saudita Al-Ittihad e Al-Ahli. Mas só quando os dois times entraram em campo deu para identificar um punho dando um soco do lado dos donos da casa (Al-Ittihad) e um leão do lados dos visitantes.

O clássico de Jeddah tinha pouco mais de 50 mil pessoas, próximo da capacidade máxima. E, desta vez, o Al-Ittihad tinha 70% do público por ser mandante, enquanto o visitante levava 30%. Por isso, seu mosaico era mais elaborado. Os balões plástico que desenhavam as formas estavam presos às cadeiras, por isso, os esboços.

O Campeonato Saudita passou a chamar a atenção do mundo quando desembarcaram por lá estrelas como Cristiano Ronaldo, Neymar e Benzema, estrela do Al-Ittihad ausente neste clássico em Jeddah que terminou com vitória de 1 a 0 dos donos da casa.

Mas as torcidas já têm uma tradição de fanatismo por futebol que cria um ambiente de estádio que nada deve ao sul-americano. Não foi à toa que os sauditas impressionaram ao gritarem mais que argentinos na Copa 2022.

Os cantos das duas torcidas são de provocações e duram os 90 minutos inteiros. Há, no entanto, uma peculiaridade que os diferencia de sul-americanos: não há palavrões.

As ofensas são proibidas — especialmente as ligadas às mães dos rivais — e geram multa para os clubes.

Outra questão é que há rivalidade, mas não há violência. A divisão entre as duas torcidas até existe na arquibancada, com duas fileiras de seguranças. Não há, no entanto, nenhuma grade e, nos corredores, torcedores dos dois times se cruzam, até discutem. Mas não brigam.

E o álcool, que é proibido no país, obviamente não pode ser vendido. Em 2024, foi aberta exceção no país para estrangeiros com autorização especial, mas não em estádios.

Os ingressos são mais populares do que no Brasil. Sem necessidade de ser sócio, eram possível pagar 30 Rials (R$ 46).

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Há pontos em comum. A torcida do Al-Ittihad tem uma bandeira escrita "Não mídia" em que proíbe o uso de celulares e outros aparelhos. Um rosto com olhos arregalados deixa claro que o foco deve ser no jogo. Lembra organizadas no Brasil que vetam celulares.

Também há música no telão no estádio: tocou "Eye of the Tiger" porque o Al-Ittihad tem o tigre como símbolo. As torcidas, porém, ignoram e têm suas próprias coreografias e cantam.

O público é majoritariamente masculino, mas há mulheres, que foram permitidas nos estádios a partir de 2017. Boa parte delas usa a Burka totalmente preta.

No campo, não havia a estrela Benzema, mas sobraram jogadores de renome internacional. Do lado do Al-Ittihad, Kanté, Fabinho e Moussa Diaby. No rival Al-Ahli, estavam Mahrez, ex-City, Gabri Veiga e Ivan Toney.

Nos dois gols, houve chuva de um papel cortado em finas tiras, uma versão do que ocorria no Brasil de forma habitual nos anos 80. Um dos gols foi anulado (o do Al-Ahli) após revisão do VAR que constatou falta.

Um vento forte tomou conta do estádio, o que trouxe junto areia e passou a fazer voar alguns sacos plásticos usados no mosaico. E houve uma parada por conta do calor, como no Brasil.

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A torcida organizada do Al-Ittihad aproveitou-se e jogou todos seus balões no campo. Isso levou a paralisação ser maior porque os próprios jogadores tiveram de retirar os objetos do campo.

Resultado: ganhou-se tempo para cortar a temperatura da pressão do Al-Ahli que ameaçava empatar a partida no segundo tempo. Um típico artifício que poderia ser visto na Libertadores.

* O colunista viajou a convite da Liga Saudita

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