Irritação de Kane e pedido de Marquinhos expõem crise de status de seleções
As Datas Fifa na Inglaterra foram ocupadas por uma polêmica entre o centroavante e capitão Harry Kane e colegas de seleção que pediram para não serem convocados para partidas diante da Grécia e Irlanda.
No Brasil, a véspera do jogo com o Uruguai foi marcada pelo pedido do zagueiro Marquinhos para o torcedor não abandonar a seleção.
Ambas as situações revelam uma crise dos times nacionais e do interesse do público por estes. Para entender o quadro, vamos traçar o contexto de Inglaterra e do Brasil.
Entre os ingleses que optaram por não jogar na Data Fifa estão Trent Alexander-Arnold, Declan Rice e Cole Palmer, Jack Grealish, Ramsdale e Phil Foden. Alguns estão com problemas físicos, outros não. Mesmo debilitados atuaram por seus times.
"É uma vergonha essa semana. É um período difícil da temporada e talvez tenha se tomado vantagem um pouco (para os atletas que não jogaram). Eu realmente não gosto, se eu for totalmente honesto. Acho que a Inglaterra vem na frente da situação do clube", disse o jogador em entrevista à ITV. "Eu acho que a Inglaterra vem antes de tudo."
Pois bem, para seus colegas, a Inglaterra não vem antes de tudo e a decisão deles parece bem racional. Há um excesso de jogos da equadrada nacional inglesa: duas datas pela Série B das Ligas das Nações claramente não estão entre os compromissos de maior prestígio do futebol mundial.
Trata-se de uma competição criada pela UEFA para ocupar datas de seleções com jogos não-amistosos. Um campeonato a mais representa maior receita para a entidade europeia, mais uma parada e calendário apertado para os times, e cansaço para os jogadores.
O Brasil tem um contexto diferente, mas o problema de fundo é parecido. O time nacional vive uma crise técnica em meio a uma gigantesca eliminatórias com 18 jogos, idas e voltas, e distribuição de vagas para até 70% dos 10 times da América do Sul.
O jogo do Brasil diante do Uruguai, sejamos sinceros, vale pouquíssimo para classificação à Copa, que será garantida com facilidade mesmo na má fase. Há quem venda a disputa pelo segundo lugar da classificatória, mas, pelo histórico anterior, trata-se de algo irrelevante. O que se espera de um torneio que não é competitivo para gerar interesse então? Um futebol atrativo.
E é justamente isso que a seleção não tem apresentado em meio à construção de time de Dorival Jr. Há, sim, uns brilhos ali por um tempo como em jogos de Peru e Venezuela. Mas longe de um encantamento que justificasse entusiasmo do torcedor. Assim, Marquinhos declarou.
"Por mais que muitas coisas influenciem para que percam a esperança na Seleção, a gente pede que não perca nunca a paixão pela Seleção", afirmou o zagueiro e capitão em entrevista coletiva.
Se Kane não quer ver o desprezo dos colegas, Marquinhos quer evitar que o público o deixe de lado. Mas um pedido não é suficiente, e nem é culpa só do time de Dorival Jr ou dos jogadores a indiferença que a seleção desperta em determinados torcedores.
Há peso negativo no fato de a seleção ser vista como inimiga dos clubes por tirar jogadores e impor desfalques e contusões. O excesso de jogos tende a tornar partidas mais tediosas e poucos importantes.
Para recuperar o status do futebol de seleções, é preciso reformula-lo. Reduzir seu número de jogos, aumentar a importância dos compromissos disputados, abrir mão de dinheiro em favor dos clubes ao ceder datas.
Fingir que a crise é só pontual, fruto do final de temporada ou da má fase do time de Dorival, não vai resolver o distanciamento dos times nacionais com o público.
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