Diretor do Flamengo reacende debate ao criticar formação de base no Brasil
Ao assumir como diretor do Flamengo, em sua apresentação, o português José Boto fez críticas à formação de base de jogadores do Brasil. Seu entendimento é de que o país passou a imitar europeus e, por isso, passou a revelar menos valores.
"A base é minha área. É algo que vou me orgulhar. Temos que criar esse DNA, jogadores talentosos e, ao mesmo tempo, responsáveis. Conheço bem o Brasil, no Shakhtar tínhamos 14 brasileiros, buscamos jogadores que nem sequer tinham jogado Série A e em alguns meses estavam jogando Champions. Aqui no Brasil se foi buscar muita coisa ruim que se faz na Europa. Na Europa viemos aqui para buscar coisas boas que vocês faziam na base", analisou ele.
Na visão de Boto, há um equívoco em aplicar na base o rigor tático que do profissional, disciplina tática esta que chegou por meio de técnicos estrangeiros. Para ele, é preciso dar espaço para os jogadores errarem mais quando ainda estão se formando.
A crítica aos métodos usados nas categorias inferiores não é uma novidade entre profissionais do próprio país.
Em conversa com a Universidade do Futebol, o técnico do Cruzeiro, Fernando Diniz, também apontou que a formação do jogador brasileiro piorou por conta de influências de modelos europeus. Para ele, "a gente tem passos para trás".
A sua visão é de que, embora os métodos físicos e táticos tenham sido aprimorados, houve uma redução do "carinho" e "afeto" no tratamento dos jovens. E é essa segurança que garante o desenvolvimento do maior potencial de um jogador, na sua análise.
Outro que também viu falhas no processo brasileiro foi João Paulo Sampaio, diretor da base do Palmeiras, formadora dos principais talentos recentes no Brasil. No podcast do Denílson, o executivo, que conhece José Boto, disse que modificou um padrão de colocar jogadores habilidosos para atuar pelos lados.
Sua explicação é de que treinadores começam a deslocar esses atletas para onde há mais espaço, mas, com isso, o Brasil forma menos atletas ofensivos pelo meio. Deu o exemplo de Estêvão.
De fato, se olharmos a seleção brasileira, há uma profusão de pontas, e faltam atletas pelo meio. Raphinha, que em geral jogava pelos lados, cresceu recentemente no Barcelona e no time brasileiro ao atuar como uma espécie de ponta-de-lança.
Difícil apontar em um texto básico como este quais são todos os equívocos e méritos da base no Brasil, e quais seriam seus caminhos para melhorar.
Mas os resultados recentes do Brasil, a falta de jogadores em determinadas posições e essas críticas de pessoas conhecedoras da formação de atletas no país geram certamente uma reflexão que não deveria ser ignorada, nem por clubes, nem pela CBF.
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