As discussões para a construção do Itaquerão viram palanque para os políticos
30/06/2011 - 07h00
Vereadores aproveitam holofotes do Itaquerão e exageram em inutilidades e gafes
Vinícius Segalla Em São Paulo
O placar de votação mostrou 36 a 12 na votação, em primeiro turno, do projeto de lei que concede incentivos fiscais de R$ 420 milhões para a construção do estádio do Corinthians em Itaquera. A sessão começou às 14h e terminou às 19h55. As quase seis horas foram uteis não só para a arena da Copa-2014, mas também para os vereadores mostrarem suas opiniões: todos anunciaram os times pelo qual torcem, outros rechearam suas falas com pedidos estranhos e abusaram de gafes e discussões ríspidas.
O primeiro round aconteceu na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, que julgou o projeto era constitucional e, assim, apto ser votado em plenário. O placar foi de seis votos a três a favor da medida. O vereador Aurélio Miguel (PR), membro da comissão e contrário ao projeto, interrompeu o andamento da sessão em mais de dez oportunidades, levantando “questões de ordem”.
Em sua estratégia de obstrução, forçou o presidente da comissão, Arselino Tatto (PT), a ler na íntegra seu projeto substitutivo para a lei, em que propunha reduzir pela metade os incentivos oferecidos. Após a leitura, fez uso do regimento para solicitar que fossem lidos os apêndices do substitutivo, em que enumerava exaustivamente as necessidades da Zona Leste da cidade de mais escolas, hospitais e obras viárias.
A extensa leitura não atraiu a atenção dos vereadores da CCJ e de seus assessores, e o barulho das conversas tornavam inaudível a leitura. Aurélio Miguel reclamou, o que gerou alvoroço maior, até o ponto em que Tatto resolveu gritar que “o presidente desta comissão sou eu! Ninguém vai falar sem me pedir a palavra!”. De pouco adiantou.
Quando a votação chegou ao fim, após ter sido interrompida por todas as questões de ordem que prevê o regimento interno, alguns vereadores já esperavam em plenário e se inscreviam para ter a palavra antes do início da votação. O vereador Átila Russomano (PP), também contrário ao projeto, era um dos primeiros inscritos , e se irritou ao ter seu nome trocado pelo presidente da Casa, José Police Neto (PSDB), por Celso Russomano, ao que protestou: “Este é um ex-deputado, não me confunda, sou Átila Russomano”.
A sessão seguiu entre pedidos regimentais de Aurélio Miguel para suspende-la e adia-la, além de recontar a presença de parlamentares na votação. Após uma aprovação sumária em três comissões que se reuniram ali mesmo no plenário, o projeto seguiu para votação, não sem antes ser precedido por uma série de discursos. O vereador Marco Aurélio Cunha (DEM), que é conselheiro do São Paulo, acusou a Fifa de fazer jogo político e disse que é “arriscado” apostar no projeto, ao que foi imediatamente acusado de deixar as paixões clubísticas interferirem em sua visão. Neste momento, Adilson Amadeu (PTB) saiu em sua defesa, dizendo-se torcedor do Corinthians, mas nem por isso favorável ao projeto. A partir daí, todos os vereadores que discursavam faziam questão de revelar seus times de coração antes de expor seus votos.
Seis horas após o início dos debates acalorados, a votação chegou ao fim aprovando o projeto pela maioria de votos que era esperada e sem que nenhuma cláusula do projeto tivesse sido alterada.