A alemã Allianz Arena e o projeto da Arena Amazônia; semelhança não é coincidência
Sete dos 12 estádios que estão sendo erguidos ou reformados para serem palco da Copa do Mundo de 2014 levam em seus nomes uma palavra para defini-los: arena. Trata-se do conceito europeu moderno de estádio, que é aplicado em todas as sedes. E, neste novo conceito, que a Fifa transformou em regra na Copa, não há espaço para alambrados nem para a geral, arquibancada rente ao gramado onde se assiste aos jogos em pé.
O padrão de conforto nos estádios no Brasil pós-Copa deverá mudar, para melhor. Obras como Arena Amazônia, Arena Fonte Nova (BA) e Estádio das Dunas (RN) serão muito mais parecidas com a alemã Allianz Arena do que com o Pacaembu ou a Ilha do Retiro (PE).
A mudança vem acompanhada de uma série de modernidades. Os estádios se transformam em arenas multiuso, preparadas para receber espetáculos e shows, munidas de restaurantes, lojas e enormes camarotes VIPs.
Interior da futura Arena Pernambuco; cadeiras retráteis e ausência de fosso ou alambrado
Parte das novas arenas adota como medida protetiva contra a invasão do gramado o conhecido fosso de concreto, presente em praças esportivas brasileiras, como o Mineirão, que manterá um fosso de três metros, ou o Maracanã. Mas há também novidades absolutas e até a inexistência total de obstáculos físicos entre a plateia e o campo.
É este o caso da Arena Pernambuco, sendo erguida dentro de um novo bairro que está sendo construído na Região Metropolitana de Recife. Com capacidade para 46 mil torcedores, a praça terá todos os lugares cobertos, divididos em cinco tipos de arquibancada, além de camarotes e tribuna, e nenhum alambrado ou fosso.
O autor do projeto, o arquiteto paulistano Daniel Fernandes, afirma que o estádio foi desenhado para que não houvesse nenhum ponto-cego nas arquibancadas nem qualquer impedimento parcial para a visibilidade dos jogos.
Já o Itaquerão, ou Arena Corinthians, como é seu nome oficial provisório até que sejam comercializados os naming rights, terá um tipo de obstáculo que é comum em estádios europeus mas desconhecido por aqui, os chamados cat's cradle, ou "berço de gato".
Trata-se de uma espécie de novelo metálico, um tapete de arames entremeados que, ao impacto de uma pessoa pisando nos "fios", se quebra nos pontos de maior pressão, deixando a pessoa presa, sem causar-lhe qualquer dano físico. A partir daí, apenas uma pessoa com a ferramenta adequada poderá romper os arames e livrar o invasor. A distância entre a plateia e o campo será de sete metros, se respeitado até o fim o projeto dos arquitetos Aníbal Coutinho e Paulo Cordeiro.
Adeus à coreia
Bastante conhecida no sul do país, mas quase anônima nas demais regiões, o setor da "coreia" é uma das marcas registradas do estádio do Beira-Rio, do Internacional-RS. A área, localizada no fim do anel inferior, pode ser definida como uma "geral piorada".
No novo Beira-Rio, o setor da coreia deixa de existir e toda a arquibancada ganha uma cobertura metálica envolta por uma membrana sintética
É um fosso largo com degraus baixos cujo piso encontra-se em nível inferior ao do gramado. Os torcedores se acotovelam entre um muro e um alambrado, que os separa de um fosso, por sua vez imediatamente anterior ao campo. Ainda assim, é o lugar preferido do estádio para muitos colorados, principalmente por ser o setor mais barato.
A reforma por que está passando o estádio vai eliminar a coreia. Todo o anel inferior será reconstruído, recebendo camarotes e áreas VIP. Além disso, todos os lugares terão cadeiras e serão marcados, além de cobertos. O projeto da cobertura, aliás, é moderno e de difícil execução. Será uma estrutura metálica coberta por uma membrana de PTFE (Politetrafluoretileno). Ela sairá do chão da área externa da arena para encobrir toda a estrutura de concreto e metal existente.
Acabar com o alambrado e com a geral significa que apenas acomodações confortáveis, de onde se possa assistir ao jogo sentado, serão oferecidas. Mesmo assim, para muitos torcedores brasileiros, acabar com a geral e com a sensação de torcer agarrado ao alambrado é um choque cultural duro demais.
Uma associação chamada Frente Nacional dos Torcedores, que já chegou a levar ao Ministério Público Federal um pedido de ação judicial para interromper as reformas no Maracanã, afirma ser "contra a modernização do futebol que, da forma atual, ignora o espírito torcedor". Monique Torquetti, diretora da frente, declara: "Achamos que toda arena deve ter um setor de geral, com preços populares".
Não é o que vai acontecer em 2014. As inovações e o conforto virão acompanhados de altos preços. Pelo projeto de Lei Geral da Copa, em tramitação na Câmara dos Deputados, a Fifa será livre para praticar os preços que bem entender em todos os jogos e eventos relacionados ao Mundial. Segundo estudo do site Congresso em Foco, as entradas para a Copa deverão variar entre R$ 150 a R$ 1.500. Tecnologia, conforto e modernidade, mas não para todos.