Obras na arena empregam 1.300 funcionários; todos cruzaram os braços nesta terça
01/11/2011 - 17h11
Contra "assédio moral e disciplina militaresca", é decretada greve na Arena Pernambuco
Vinícius Segalla Em São Paulo
Os trabalhadores da Arena Pernambuco, estádio que está sendo construído na Zona Metropolitana de Recife para receber os jogos das Copa do Mundo de 2014, cruzaram os braços no início da tarde desta terça-feira. A causa do movimento não passa nem perto de questões salariais. Tampouco é relacionada a cláusulas do plano de saúde ou a más condições do refeitório.
O motivo da greve chama-se Eduardo Fonseca, coronel reformado e responsável pela segurança no canteiro de obra. Segundo os trabalhadores, o funcionário, contratado da empreiteira Odebrecht, responsável pela obra, estaria impondo uma "disciplina militaresca" na obra e assediando moralmente os operários. Já a Odebrecht afirma que "repudia as acusações do sindicato contra trabalhadores da obra na área de segurança".
Além disso, o sindicato acusa a empresa de ter demitido dois funcionários pertencentes à Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), que gozam de estabilidade legal. A Odebrecht, por sua vez, afirma que "não cabe ao sindicato contestar demissões realizadas na obra, uma vez que esta é uma decisão legítima da empresa, a quem compete avaliar o desempenho de seus colaboradores".
O UOL Esporte perguntou à Odebrecht se os trabalhadores desligados pertenciam à Cipa. Até a publicação desta reportagem, porém, não obteve resposta.
De acordo com Leodelson Bastos dos Santos, do Sintepav-PE, o sindicato dos operários da obra, a entidade foi chamada nesta terça-feira ao canteiro depois que um incidente ocorrido no horário de descanso que se segue ao almoço revoltou os trabalhadores. É que o coronel Eduardo Fonseca teria mandado molhar a área onde os peões costumam sentar para pitar um cigarro e relaxar após a refeição. "Não foi a primeira vez que ele fez isso. Acontece sempre. Hoje (terça), os trabalhadores cansaram", alega Bastos.
Segundo o sindicalista, o coronel reformado já teria agredido um operário que fumava um cigarro artesanal de tabaco, que teria sido confundido com um baseado de maconha. "Ele deu dois tapas no peito do peão e, ao perceber o erro, disse que ele perderia o emprego se contasse isso a alguém", afirmou Bastos. "O sindicato entrará na quinta-feira com uma denúncia de assédio moral contra este cidadão junto ao Ministério Público do Trabalho", concluiu.
O UOL Esporte solicitou à Odebrecht uma entrevista com o coronel acusado de assédio, mas a empresa não passou os contatos do funcionário, limitando-se a negar, por meio de nota oficial, as acusações dos trabalhadores. Em relação aos funcionários demitidos, que seriam da Cipa, o Sintrapav irá ao MPT na quinta-feira solicitar uma ação de reintegração ao posto de trabalho.
A Odebrecht afirma também em sua nota que vai ao Tribunal Regional do Trabalho requerer que se decrete a ilegalidade da paralisação. A empresa conclama os trabalhadores a voltarem à lida na quinta-feira. As atividades extraordinárias que aconteceriam nesta quarta-feira, feriado nacional, foram suspensas.