Reunião desta quinta-feira bate o martelo sobre parceria para retomada das obras
Depois de seis meses de negociação para chegar a um acordo com a Andrade Gutierrez e montar um contrato, o Internacional alcança o dia mais importante no processo de reformulação do seu estádio. Nesta quinta-feira, o Conselho Deliberativo do clube decide se aprova ou não a parceria de 20 anos com a empreiteira.
A opção pelo acordo é tendência, mas diversos acontecimentos recentes deixam em aberto a possibilidade de veto. De acordo com o estatuto do clube gaúcho, o Conselho Deliberativo é soberano e pode, de fato, brecar o negócio. Se isso acontecer, o Inter terá de procurar uma nova construtora. Ou tocar as obras sozinho, em um ritmo bem mais lento.
Na semana passada, a oposição interna do clube ameaçou barrar a parceria entre o Inter e a Andrade Gutierrez. Eles reclamavam do forte esquema de segurança em torno da minuta do contrato, guardada a sete chaves pela presidência do clube LEIA MAIS
A esta altura, a 910 dias para a Copa, seria uma decisão temerária. Já no dia 27 de agosto, quando as obras completavam 45 dias de paralisação, o cronograma estava de tal forma comprometido que a Andrade Gutierrez se via obrigada a afirmar que empenharia "todos os esforços para viabilizar a obra em tempo hábil para a Copa do Mundo de 2014".
Em relação a Copa das Confederações, que será de 15 a 30 de junho de 2013, dirigentes e conselheiros do clube admitiam, sob a proteção do anonimato, que dificilmente o estádio estaria pronto a tempo.
Eles estavam certos. No dia 20 de outubro, a Fifa anunciou o calendário e os locais dos jogos da Copa. O Beira-Rio ficou de fora da Copa das Confederações. Porto Alegre receberá cinco partidas do Mundial, sendo a com mais destaque uma das oitavas de final.
A decisão pela parceria com a Andrade Gutierrez foi polêmica dentro da agremiação, parte dos dirigentes e conselheiros queriam que o Inter bancasse todo o projeto, como fez na construção do estádio, na década de 1960.
Foi montado um plano que chegou a ser colocado em prática, de reformar o estádio em dois anos, a um custo de R$ 150 milhões. O estádio jamais seria fechado integralmente. A cada seis meses, uma quarta parte da arena seria reformada, deixando as áreas restantes livres para a ocupação do público.
Tal plano já caiu por terra. Com o atraso nas obras, será necessário trabalhar em três turnos e em todo estádio ao mesmo tempo para compensar o tempo perdido.
Antes de chegar ao ‘dia D’, o Internacional viveu um clima de tensão durante 180 dias. Foram inúmeras reuniões com represantantes da Andrade Gutierrez, contratação de escritório de advocacia e pressão pública. De torcida, oposição e governo. O maior ponto de divergência entre o clube e a contrutora sempre foi quanto aos percentuais de exploração das áreas existentes e daquelas que serão construídas no entorno do estádio. Etapa vencida nos primeiros dias de dezembro.
De lá para cá, o Inter montou um forte esquema de segurança em torno cópia final do contrato. O documento ficou exposto para análise dos conselheiros durante cinco dias. Em uma sala com câmeras de segurança, sem direto ao acesso com qualquer equipamento eletrônico e, obrigatoriamente, com a assinatura de um termo de confidencialidade. Tudo para evitar o vazamento de detalhes da proposta.
Após analisar a minuta do contrato para reformulação do Beira-Rio, o Internacional cogita mandar suas partidas do Campeonato Gaúcho 2012 em outro local. A medida serviria para a Andrade Gutierrez minimizar os atrasos nas atividades de montagem das arquibancadas e da nova cobertura do estádio LEIA MAIS
Mesmo fazendo esforços para atender a pressa, e manter a transparência, o Inter não conseguiu liquidar o descaso de parte dos envolvidos na decisão. Dos 345 conselheiros aptos a votar na questão, menos de 100 praticaram o direito. Boa parte dos responsáveis pela palavra final garante o 'sim'. Mais por receio de novos atrasos do que pela convicção de que não haverá ônus a instituição.
O rito da decisão
A reunião desta quinta, no próprio estádio, tem previsão de duração de cinco horas. O encontro começará às 20h e vai ser dividido em três partes. A primeira é para apresentação da proposta. Depois, os presentes irão para a apreciação. É aí que a polêmica deve se apresentar, com as manifestações dos contrários à parceria.
Nesta fase, não serão feitos esclarecimentos sobre o contrato - já que um dia antes o clube se colocou à disposição para responder as dúvidas dos conselheiros. Por fim, todos os presentes votarão nominalmente, através de um sistema de som que será usado como registro oficial dos votos.
Para aprovar a parceria, assinar o contrato e retomar as obras, o Inter precisa do aval de 50%, mais um voto, do Conselho Deliberativo. Antes de chegar nesta instância, o documento já foi aprovado por uma junta fiscal e pelo Conselho Consultivo, formado por ex-presidentes e conselheiros com mais de 30 anos de clube. Esta câmara analisou a minuta e redigiu um relatório sobre o contrato, contendo recomendação de voto e sugestões de alteração de cláusulas.
Depois de tudo isso, nesta quinta, ou vai, ou racha.