No mundo corporativo, figurinhas viram cartão de visita para funcionários
No sexto andar de uma imponente torre comercial de fachada toda espelhada no bairro do Morumbi, em São Paulo, há uma enorme sala de reuniões reservada das 11h às 15h. Enquanto os funcionários da Cargill não chegam, os envelopes de conteúdo confidencial são distribuídos em uma mesa de recepção.
São pelo menos duas dezenas de cadeiras no aguardo de um compromisso de suma importância. Eles só não vão discutir o impacto da variação do dólar, nem discutir estratégias de distribuição de produtos da multinacional. É hora de trocar figurinhas, por favor.
“Às vezes é isso é algo que relacionamos com crianças. Mas é legal quando vemos uma sala cheia de profissionais de diversos setores envolvidos assim”, disse Giseli Bezson, coordenadora de programas de qualidade de vida, há 21 anos na empresa.
O UOL visitou a sede da empresa numa sexta-feira de abril. Aquela já era a terceira janela (oficial) aberta para a permuta de cromos oficiais da Copa do Mundo. Pode ter certeza, porém, de que naquelas extensas mesas não havia nenhuma regulamentação muito rígida para os negócios. Exceto o fato de que, claro, assim como no resto do mundo lá fora, as figurinhas prateadas valiam um pouco mais.
As duas primeiras datas foram extremamente produtivas para os negociadores envolvidos. Peguem o vendedor Renato J. Romero, que trabalha há seis anos na companhia. Em um só dia, ele voltou para sua mesa com 150 figurinhas prontas para serem coladas.
Networking
O engraçado para Romero – além de progredir em ritmo satisfatório com a tarefa de completar seu livro ilustrado – é que, por causa dessa mercadoria, acabou conhecendo colegas de trabalho com quem nunca havia negociado, ou melhor, tratado antes. Como o caso da analista de marketing Cintia Bernardes, que já está na empresa há uma década. Quer dizer, desde antes de sua contratação
“A gente se via muito, trabalhamos hoje no mesmo o andar, mas nunca chegou a se falar. A gente vem de uma turma mais antiga, de uma sede menor”, afirmou o vendedor, que é do time de futebol da firma. Ele jura que começou a coleção atrasado e por causa de sua mulher, de quem, digamos, herdou o álbum.
Cintia, para constar, descolou 72 figurinhas num dia. Todas para ajudar o marido, garante. “Nunca fui muito ligada nisso, mas fiquei sabendo das trocas. Até vim para a troca sem muita esperança”, disse, hoje já empolgada com a atividade.
O consultor de planejamento de demandas Rafael Angi não conseguiu tantas figurinhas assim. Nem precisava: chegou àquela primeira jornada precisando de apenas sete figurinhas para completar seu álbum de modo bastante precoce. Conseguiu cinco.
O burburinho sobre as duas faltantes correu a empresa e foi aberta uma campanha de mobilização para que concluísse a tarefa. Fez tantos contatos que ganhou até um novo cargo na firma, informal. “Todos vieram atrás de mim. Comecei a ter muitos contatos. Até cheguei a ser chamado informalmente de gerente das figurinhas (risos)”, contou o funcionário que, hoje, está empenhado em completar um segundo álbum. Disse à reportagem que o livro não era exatamente dele, mas “de todo o seu departamento”.
Essa troca, digamos, corporativa acontece conta com uma parceria com a Panini, costurada pela agência Gota Comunicação. Nessa venda local, os pacotes ganham desconto de 10%, saindo a R$ 1,80. Essa venda corporativa já foi realizada em mais nove empresas.
Reunir os funcionários na mesma sala também pode render outros dividendos à empresa, para além da almejada “sinergia”. Melhor dizendo, o evento no mínimo ajuda a empresa a reduzir as perspectivas de prejuízo.
“Foi criado um canal oficial de trocas, que é bem positivo para o ambiente de trabalho, evitando trocas paralelas que eventualmente poderiam prejudicar a rotina, embora elas sempre aconteçam. Temos vários cafés espalhados pela empresa, por exemplo, e o barulho talvez pudesse incomodar”, disse a gerente Gisele Bezson. “O funcionário também pode ficar distraído com isso. Com esse canal, sabe que tem suas responsabilidades, mas pode administrar o próprio tempo.”
Naquela sala de reuniões, o barulho era mínimo. Estavam todos muito concentrados nos negócios.
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