Classificação e Jogos
As últimas horas desta sexta (18) foram de um forte baque para a organização da Copa do Mundo no Qatar. As autoridades locais resolveram proibir a cerveja no entorno dos estádios e aumentaram a lista de mudanças que conseguiram impor à Fifa na realização do maior torneio de futebol do mundo, coisa que nem o Brasil e nem a Rússia fizeram nas últimas edições.
Antes, a bebida já não poderia ser comercializada dentro dos estádios e já tinha um preço exorbitante: R$ 75 por um copo de 500 ml. A confusão gerou incômodo com os patrocinadores, especialmente a Budweiser, que é a fornecedora oficial da cerveja na competição. A marca chegou a reclamar no Twitter, mas depois apagou o post.
Afinal, o país sede precisa se adaptar ao esporte e aos seus milhões de fãs pelo mundo ou o futebol precisa entrar no molde de quem vai receber a Copa? É o debate do momento.
Além da proibição da venda de bebida alcoólica no entorno dos estádios a dois dias da abertura, o país do Oriente Médio também já havia feito uma série de mudanças em tradições de uma Copa. A começar pelo calendário. Normalmente realizada no meio do ano, a competição foi transferida para novembro e dezembro por conta do clima. Como é outono no país, as temperaturas são mais amenas, mas ainda assim exigiram construção de estádios climatizados.
Isso fez com que a competição tivesse o menor tempo de preparação da história em relação às edições da Era Moderna, com cerca de 10 dias de reunião das seleções e pouco tempo para a realização de amistosos. Em contrapartida, o torneio começa no meio da temporada europeia, o que em tese pode diminuir o número de lesões por desgaste físico, apesar de não evitar por completo. Até a abertura foi alterada de data para tentar agradar ao povo qatari.
Além disso, ainda há o receio de como será a recepção de pessoas de todo o mundo com costumes absolutamente diferentes do Qatar. Não é normal que casais héteros tenham atos de carinho publicamente por aqui e quando a relação é entre pessoas do mesmo sexo a estranheza no país é ainda maior, podendo gerar repressão por parte de locais e policiais. A organização insiste que todos são bem vindos, mas o receio está no ar.
Até mesmo a atuação da imprensa no país tem sido censurada, com episódios de jornalistas sendo proibidos de gravar vídeos nas ruas mesmo com uma autorização especial da organização.
Todas essas mudanças são radicalmente diferentes do que aconteceu no Brasil, por exemplo. Na ocasião, em 2014, o governo editou leis para que a bebida pudesse ser comercializada nos estádios com a bola rolando, coisa que não era permitida em todo o país. Até hoje, a mudança surte efeitos em diferentes Estados que permitem a venda da cerveja até hoje, sendo São Paulo uma das grandes exceções.
Isso sem nem contar na questão de prioridade de gastos. Na época, o governo ignorou o questionamento por gastar milhões com os estádios da competição e não em outras carências do povo brasileiro. Ronaldo, na época membro do Comitê Organizador Local, soltou a célebre frase: "Copa não se faz com hospitais". Os gastos exorbitantes deixam marcas até hoje em times como o Corinthians ou são sempre lembrados em elefantes brancos como na Arena Pantanal.
Na Rússia, o consumo de bebidas alcoólicas nas ruas também não era um hábito normal e passou a ser tolerado durante a competição nas mais diferentes cidades. Algumas ruas no centro de Moscou viraram um Carnaval a céu aberto, com pessoas do mundo todo confraternizando sem incômodo por parte da polícia. A bebida também era vendida livremente tanto no estádio quanto no entorno. O legado é questionado até hoje, com estádios muitas vezes abandonados.
A Copa do Mundo ainda nem começou no Qatar, mas já tem deixado algumas marcas negativas no torcedor. Vários deles passaram o dia reclamando do clima (ou a ausência dele) de competição nas ruas. Resta saber se isso vai mudar ou se o Mundial ficará marcado como um erro histórico da Fifa.
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