Camelôs faturam com falta da camisa oficial da seleção nas lojas
Classificação e Jogos
Se você tiver R$ 500 dando sopa e quiser desembolsá-los numa camisa oficial da seleção brasileira, não vai conseguir. Pelo menos não pela Nike, patrocinadora do material esportivo do time de Tite. Nas lojas oficiais, as camisas de jogo — amarela, azul e preta — estão esgotadas. A alta demanda, a falta de oferta e o preço salgado para a maioria dos brasileiros formaram a combinação perfeita para a alegria dos vendedores ambulantes.
Há réplicas para todos os gostos e bolsos. A mais barata delas — descoberta numa caminhada pela comercial rua 25 de Março, em São Paulo — custa R$ 30. O design não é dos mais bem feitos e a maior parte delas é feita de microfibra. Os valores variam. A cada aumento no preço, as melhorias ficam mais visíveis. A réplica mais similar à original, que sai por R$ 180, traz desde a imitação das etiquetas da marca até a tecnologia dry fit e o relevo da estampa de onça.
A real é que, baratas ou caras, as camisas da seleção têm sido a maior fonte de faturamento dos ambulantes da rua 25 de Março ouvidos pela reportagem. Adilson, que trabalha numa vendinha móvel há 10 anos, diz que desde 2014 as vendas de camisas não eram tão boas. Ele agradece um pouco à politicagem em que a amarelinha se meteu.
"Já estava vendendo bem com a eleição, mas nessa época era só a amarela que vingava. Agora, com a Copa do Mundo se aproximando, a azul começou a sair também, principalmente por quem não gosta do Bolsonaro e não quer ser confundido", conta. Ainda assim, afirma Adilson, a tradicional amarelinha permanece a mais vendida entre o público. Mas foi só com a real aproximação da Copa do Mundo que as vendas começaram a crescer.
O vendedor acredita que o fato de as camisas estarem esgotadas nas lojas oficiais fez com que até quem tem condições de comprar um manto original se rendesse à versão pirata. "Muitas pessoas chegam aqui procurando a réplica perfeita dizendo que queriam a original e não conseguiram comprar, que não acharam na loja", afirma.
Boom no movimento
A gratidão à politicagem não é consenso: para Vilma, dona de uma banca na mesma rua, a mistura do futebol com a política prejudicou as vendas. Antes de o movimento crescer, no último dia útil antes de começar o torneio, a banca dela estava vazia por volta das 10h de quarta-feira (16), horário que costuma pipocar de clientes. Ela, que trabalha na região há mais de 20 anos, interrompe a comercialização de bichos de pelúcia para vender roupas da seleção brasileira exclusivamente na época.
"O Bolsonaro usa as cores verde e amarela e isso deu uma caída nas vendas [das peças] porque quem votou no Lula não quer comprar a camisa amarela. Não tem nada a ver política com Copa. Política é uma coisa, Copa é outra", diz. Parece que o público conseguiu entender isso.
Fale bem ou fale mal, mas fale de Neymar
Amarelinha, check. Mas quem é o dono das camisas mais procuradas pelos consumidores no comércio popular? Ana, dona de uma barraca na mesma rua, é enfática: Neymar. "Tem gente que não gosta dele, mas a maioria quer a camisa do Neymar. Não tem jeito, os outros nem chegam perto", explica.
Até porque, como mostra a reportagem publicada pelo UOL Esporte, Neymar se transformou em uma das maiores e mais valiosas marcas da história do esporte brasileiro, avaliada atualmente em R$ 1,06 bilhão — um processo que começou em 2013, quando ele ainda vestia a camisa do Santos, e que chega, na Copa de 2022, ao seu auge.
Tentativa de despolitizar a camisa
Depois de anos de apropriação política, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) iniciou em novembro uma campanha para evitar um maior desgaste da camisa amarela causado pela extrema-direita do Brasil. Vídeos são exibidos nas TVs aberta, fechada e redes sociais.
Funcionária de uma loja de rua, Jennifer conta que a procura por itens da seleção brasileira — principalmente por bandeiras e camisas — já havia crescido durante a eleição. Agora, no entanto, aumentou. As camisas amarelas da seleção brasileira, junto da bandeira do país, acabaram se tornando símbolo de apoiadores de Jair Bolsonaro.
Antes da Copa, a oposição corre para tentar resgatar o símbolo da camisa. A opção pela versão azul da amarelinha, a azulzinha de onça, tem se tornado uma opção aos que não querem ser confundidos. Mas existe uma força inclusive de artistas para que a própria amarelinha possa ser recuperada.
Em maio deste ano, o rapper Djonga vestiu o modelo novo da camisa em um de seus shows. Disse: "Com essa camisa aqui é mais gostoso ouvir vocês dizerem isso. O cara [Jair Bolsonaro] acha que tudo é deles. Ele se apropria do tema família, ele se apropria dos nossos símbolos. Os caras se apropriam de tudo. Mas é o seguinte: é tudo nosso e nada é deles", gritou o artista.
Ele não é o único: neste ano, Anitta se apresentou no festival Coachella nos Estados Unidos vestindo as cores da bandeira. Iza também se enfeitou com a bandeira brasileira. Aos que passeiam pela 25 de Março, há ainda o receio de se apossar do símbolo do futebol nacional. Camelôs adoram: "Vendendo, tô feliz", avisa Adilson.
Procurada pelo UOL, a Nike respondeu que "vendeu cerca de dez vezes mais camisas em comparação com 2018" e que "novos produtos estão sendo disponibilizados".
"Mesmo com um planejamento acima do histórico, nos dois primeiros dias do lançamento dos uniformes, vendemos cerca de dez vezes mais camisas em comparação com 2018. E, com dez semanas de vendas, atingimos um recorde de 52% a mais de produtos vendidos, também em relação ao mesmo período de 2018. Isso reflete a conexão verdadeira entre torcedores e a história da camisa, a Garra Brasileira e o visual inspirador da onça-pintada (...). Apesar do desabastecimento momentâneo, novos produtos estão sendo disponibilizados para reposição semanalmente e reforça que as camisas também podem ser encontradas em outros pontos de venda do mercado, enquanto durarem os estoques", diz trecho da Nike enviado ao UOL.
- Direto de Doha, capital do Qatar, o UOL News Copa traz notícias sobre a preparação e viagem da Seleção Brasileira, a escalação ofensiva de Tite, o adversário do Brasil na estreia, a festa de abertura e mais! Confira:
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