Argentina dramatiza tornozelo 'maradoniano' de Messi; astro diz estar bem
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Por instantes, a Argentina voltou três décadas no tempo. E Lionel Messi, mais uma vez, encarnou Diego Armando Maradona no imaginário dos fanáticos.
A foto acima, com Messi e seu tornozelo direito inchado, treinando hoje (21) na Universidade Internacional do Qatar, foi a deixa para as TVs, rádios, redes e portais de toda a Argentina ressaltarem a "épica valentia do camisa 10, que começa a Copa lutando contra o seu pior inimigo, a dor", como ressaltou, com ênfase no drama, o narrador Sebastián "Pollo" Vignolo na ESPN, no programa esportivo mais assistido da TV argentina, o F90.
Quem quiser acompanhar qualquer noticiário na TV argentina neste começo de semana vai precisar de fôlego, pois a estreia azul e branca (amanhã, às 7h de Brasília, contra a Arábia Saudita) massacra os ouvidos e olhos até de quem ama futebol —e se sente esgotado antes mesmo do apito inicial.
O jornalista e escritor Daniel Arcucci, biógrafo de Maradona e íntimo conhecedor das mazelas "maradonianas" ao longo dos Mundiais, não titubeou, no mesmo F90, em relembrar o mais famoso dos causos, o tornozelo em forma de laranja de Diego na Copa do Mundo de 1990, quando o craque, mesmo numa perna só, mandou de volta para casa o Brasil de Lazaroni, Taffarel e Careca.
Pronto. Estava instalado o novo elo entre Maradona e Messi.
Silvio Lancelotti era testemunha
Na Copa da Itália, 32 anos atrás, quem conferia a evolução do tornozelo "maradoniano" era Silvio Lancelotti. O especialista em futebol internacional morto há dois meses descreveu assim a sua loucura conjunta com Diego em uma postagem de 2020 no seu blog hospedado no portal "R7":
"Na Copa de 1990, pude testemunhar de que maneira Diego, já um campeão do mundo no México, estoicamente se recuperou de uma tenebrosa lesão de tornozelo".
"Determinada manhã, ao saber que o Diego sofrera a tal da lesão de tornozelo, o esquerdo, decidi verificar pessoalmente. E me espantei. Inchara tanto que parecia, ele brincou, entre debochado e autoindulgente, com um 'médio melón'."
"Consegui uma fita métrica e, diariamente, rumava até Trigoria para medir a circunferência do tornozelo do Diego. Flavio Gomes, o meu editor no jornal ["Folha de S.Paulo"], inclusive abriu um espaço numa coluneta de notas para que eu, a cada edição, indicasse o tamanho que, no correr do tempo, se reduziria a uma bolotinha no volume de um tomate."
"Diego, claro, basicamente transmutava o seu tornozelo numa múmia, tantas eram as voltas da faixa ortopédica que o seu massagista, Salvatore Carmando, pacientemente enrolava."
(Alguém consegue imaginar um jornalista, mesmo argentino, fazendo o mesmo hoje com o tornozelo de Messi?)
Mapa da mina
Rádio mais conceituada do esporte em Buenos Aires, a La Red, que está com um timaço de comentaristas no Qatar, seguiu a mesma linha e conjecturou se Messi resistirá aos pontapés dos adversários desde o primeiro minuto, e se não seria uma má estratégia divulgar fotos da região dando o "mapa da mina" aos carniceiros que não terão a menor cerimônia de caçar o camisa 10 numa daquelas batalhas bem típicas do faroeste, quer dizer, do futebol argentino.
"É um risco, isso ninguém pode negar", falava Marcelo Palacios, conceituado apresentador e comentarista na hora do almoço.
As rádios estão ligadas com afinco nesta segunda em Buenos Aires, feriado prolongado, o que torna a espera pela estreia ainda mais angustiante (ou relaxante a quem se dispuser a aproveitar as inúmeras opções de cultura da capital argentina para esquecer um pouco do futebol).
"Messi já provou que é um guerreiro em campo. E de pensar que chamamos este menino de peito frio, pobre", seguiu, recorrendo à famosa gíria argentina para determinar aqueles "sem alma, sem coração, que carregam uma geladeira no meio do corpo".
Foi lembrada a valentia de Messi até mesmo no título da Copa América do ano passado, quando ele levou um pontapé na semifinal com a Colômbia e jogou com o tornozelo sangrando, uma imagem de cabeceira para muitos fanáticos que seguem sua vigília à espera da estreia argentina neste Mundial degustado como o mais importante dos últimos 20 anos, desde aquela seleção de Marcelo "Loco" Bielsa que brilhou nas Eliminatórias e empacou na Copa do Mundo que terminou com o penta do Brasil.
'Muy bien, obrigado'
Foi Messi, de viva voz, quem colocou um pouco de água morna no chimarrão quase fervendo que passou a ser o seu tornozelo entre os jornalistas e fanáticos que esperavam uma declaração sua sobre o físico para a estreia da sua quinta e última Copa do Mundo, o "seu último tango".
"Me sinto bem, estou muito bem, obrigado, li que treinei diferenciado e que havia sofrido um golpe, mas foi tudo por precaução, nada demais, hoje não tive nenhuma dificuldade em nenhum movimento", contou, na coletiva da seleção argentina hoje no Qatar.
Messi não contou detalhes sobre os motivos do inchaço em seu tornozelo, mas outro canal da TV argentina, a TyC Sports, mostrou que este inchaço é habitual no camisa 10, definindo como "algo normal, que não se associa a nenhuma lesão de ossos ou ligamentos", segundo o comentarista Ariel Senosain, autor de uma biografia de Messi recém-lançada no Brasil.
Em que pese o temor da torcida e a preocupação da imprensa com sua maior estrela, Messi não corre riscos para a estreia na Copa.
Vergando a camisa 10, em campo ele e mais dez. E 45 milhões de argentinos grudados na TV esperando novos capítulos do heroísmo que corre pelas veias e pelos gramados, que é a razão de ser para se entregar tanto por um esporte e fazer dele uma miríade de sangue, suor e lágrima.
(E a bola ainda nem rolou...)
- No Posse de Bola Copa, os colunistas do UOL analisam os principais jogos do dia e comentam o que podemos esperar dos próximos confrontos da Copa do Mundo. Assista à íntegra:
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