Contra Senegal, Van Gaal 'paz e amor' volta para última dança com a Holanda
Classificação e Jogos
"Se esta é minha última Copa? Não sei, não sei. Bem, eu só peguei esse emprego porque não tinha ninguém para pegar. Não tinha ninguém. Bom, por aí você tira tua conclusão."
Louis Van Gaal em estado puro. Indo para sua terceira Copa do Mundo está o cara que seria o campeão de memes se memes existissem na virada do século. O Van Gaal do Barcelona, que vociferava a cada entrevista e que parecia um maluco, foi dando lugar a um homem mais relaxado e tranquilo, que sorri mais. Que parece se divertir mais.
Talvez seja pelo câncer de próstata, tratado e curado recentemente. Talvez seja simplesmente o tempo - lá se vão 30 anos no alto nível, em clubes e seleções. Ou talvez, como ele mesmo disse ontem, na coletiva pré-jogo e respondendo ao UOL Esporte, ele nunca tenha mudado. É tudo uma questão de percepções.
"Eu nunca mudei. Eu melhorei nesses anos, sou mais experiente. Mas tenho as mesmas visões e princípios. Atrás dos jogadores, há seres humanos e a chave é chegar perto dos jogadores para que eles estejam abertos a tuas sugestões. O jogo mudou, ficou mais rápido, no começo eu usava um 4-3-3, mas depois sempre joguei de acordo com as características dos jogadores. Eu sei que em momentos na minha carreira as coisas poderiam ter sido feitas de outra maneira, mas, no fim, eu nunca mudei", falou Van Gaal.
Quando a Holanda entrar em campo contra Senegal, às 13h desta segunda-feira, ele comandará seu país pela oitava vez em uma Copa. Em 2014, jogou as sete partidas possíveis. Foi até a semifinal, perdeu da Argentina nos pênaltis e depois ganhou do Brasil na disputa do terceiro lugar. Em 2002, não jogou qualquer uma das partidas possíveis. Surpreendentemente, não conseguiu classificar a Holanda para o Mundial.
"Não é um adversário qualquer (o da estreia). Não teremos Memphis Depay e eles precisam lidar com o fato de Mané não estar jogando. A questão é como os times vão conseguir lidar com isso, é assim que vejo a partida", resumiu o técnico holandês. Senegal irá a campo sem seu melhor jogador, cortado na última quinta. O assunto Mané dominou a véspera da partida, mas convém não esquecer que Senegal é o atual campeão africano e tem um time formado por atletas de Premier League.
"À primeira vista, é nosso adversário mais difícil no grupo", falou Van Gaal. O estilo "sincerão" sempre foi marca do treinador de 71 anos. Mas agora ele é um sincerão mais sorridente e menos rabugento.
Aquele de 2002, que fracassou de forma retumbante com a "Oranje", era outro Van Gaal. O rapaz de Amsterdã, com uma carreira sem muitas glórias no campo, virou assistente técnico assim que se aposentou. Assumiu o Ajax com apenas 40 anos de idade e foi campeão de tudo, incluindo Champions League e Mundial (95). O salto para o Barcelona lhe rendeu fama mundial, com dois títulos espanhóis. Veio, então, o desastre nas eliminatórias com a Holanda, uma volta rápida ao Barcelona e logo ele apareceu no pequenino AZ Alkmaar, clube em que havia se aposentado como jogador.
Parecia o caminho para a aposentadoria também como treinador. Mas Van Gaal ainda tinha muita lenha para queimar. Na quarta temporada, levou o AZ ao título holandês, foi contratado pelo Bayern e chegou à final da Champions League novamente. Quando foi chamado para reassumir a Holanda, em 2012, Van Gaal disse que "esperava havia muito tempo por este desafio". Era uma conta pendente. Ele pagou a dívida com sobras ao classificar e levar o país a uma grande Copa no Brasil.
Veio a experiência em um gigante da Premier League, o Manchester United e, depois disso, a aposentadoria, em 2017. Após a má campanha na Euro, no ano passado, a Federação Holandesa apelou para que Van Gaal voltasse.
"Sou técnico há 30 anos e em um grupo sempre há jogadores que discordam de você. O que eu faço é retirá-los do caminho. Este grupo é incrível, está muito a fim de executar. Em 2014 também era assim, mas a qualidade deste grupo é maior. E tem um capitão maravilhoso", falou, dando um tapinha nas costas de Van Dyjk, assumindo uma postura paternal.
"Trabalhei com tantos, mas este é um capitão excelente. Eu nem precisei definir, ele já era o capitão natural quando eu cheguei".
"Van Gaal é uma marca para outros treinadores. Todos conhecem seu jeito disciplinador, todos precisam ser assim no mais alto nível. Tentamos isso também, é necessário nesse nível", falou Aliou Cissé, técnico de Senegal, o adversário desta segunda.
A fama de disciplinador vem dos anos 90. Mas no treino da Holanda que a reportagem acompanhou, quinta, na Universidade do Qatar, Van Gaal era só descontração e sorrisos. Após o encerramento da sessão, quando poucos jornalistas ainda estavam por perto, ele voltou até a grade que separava o campo de treino do espaço para a mídia a pedido de quatro torcedores que estavam por lá - um deles com a camisa da Argentina. Tirou fotos, comandou o "sorriam" e comentou sobre a satisfação de ter feito um treino com a presença de trabalhadores imigrantes.
"Foi um gesto bacana. Demos alguma alegria a eles. O único problema é aquele joguinho lá tinha muita gente para pouco espaço!", brincou.
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