Da torcida ao campo: o que a estreia da Argentina na Copa ensina ao Brasil
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Brasil e Argentina estão entre as seleções favoritas ao título da Copa do Mundo do Qatar. Mais do que isso, aparecem entre as preferidas do público que ocupa as ruas e frequenta estádios nesses primeiros dias de Mundial. Entre as duas maiores forças sul-americanas, os argentinos foram os primeiros a entrar em campo e perderam para a Arábia Saudita, hoje (22), no Estádio de Lusail. Da torcida ao campo, eles deixaram ensinamentos aos maiores rivais, que só estreiam na quinta-feira, às 16h (de Brasília), contra a Sérvia.
Tanto Brasil quanto Argentina têm uma estrela maior escalada por seus treinadores com total liberdade. Neymar e Messi são os camisas 10, ídolos em seus países, e dentro de campo "carimbam" quase todas as jogadas de ataque, têm total confiança de Tite e Lionel Scaloni e não precisam voltar para marcar. O problema é que a Argentina em alguns momentos da partida contra a Arábia Saudita caiu em um dos maiores riscos de escalar um jogador dessa maneira: priorizar a liberdade, e não aquilo que ela pode gerar.
No primeiro tempo, Messi tinha tanta liberdade que frequentemente se descolava do fluxo do jogo e ficava distante dos jogadores que tinha que servir. Com a boa marcação dos adversários, a única saída era dar passes e lançamentos longos, bolas esticadas que exigiam muito esforço do companheiro para recuperar e às vezes até saíam pela linha lateral.
Faltou aquilo que taticamente é conhecido como "jogo apoiado": os jogadores próximos uns dos outros para tabelas curtas e rápidas em direção ao ataque. O jogo apoiado diminui a possibilidade dessas bolas esticadas e dificulta a marcação do adversário.
No caso da seleção brasileira, Tite tem treinado ao longo dos dias de preparação um time adepto desse jogo apoiado. Num dos dias, inclusive, Neymar treinou numa posição inusitada. Eram dois times de nove jogadores em campo — um de colete, outro sem — e Neymar usava uma terceira cor. O camisa 10 atuava pelo time que estivesse com a posse de bola, como um curinga. Assim, ele tinha a obrigação de sempre se aproximar do companheiro para dar opção de passe e fazer o jogo fluir.
Como Messi mostrou e o Brasil vai tentar evitar na quinta-feira, contra a Sérvia, liberdade em campo não é tudo. "Neymar tem uma estrutura há bastante tempo na seleção brasileira para que possa potencializar sua criatividade. Cada um trabalha um pouco setorizado para que ele possa também no seu setor ter essa criatividade, essa chegada", já disse Tite, explicando a ideia.
Mentalmente forte
Outro ensinamento que a estreia da Argentina leva ao Brasil tem mais a ver com a parte emocional. O time de Lionel Scaloni teve gols anulados aos 22, 26 e 34 minutos do primeiro tempo e deu a aparência de perder o controle do jogo depois destes lances. Entre o segundo e o terceiro gol foi quando a Arábia Saudita se soltou, encaixou alguns lances de ataque e viu De Paul fazer uma falta na frente da área numa tentativa individual dos adversários. Isso prenunciou o segundo tempo em que a Argentina tomou a virada num intervalo de quatro minutos e demorou para reagir.
Tite costuma dizer que o futebol tem quatro aspectos fundamentais: a qualidade técnica individual dos jogadores, a parte física, a parte tática e a parte mental. "Atletas de alto nível têm que trabalhar sob pressão", já disse o treinador, que nas rodas de conversa com os jogadores antes das partidas costuma repetir o bordão "mentalmente forte".
A frase faz tanto sucesso nos bastidores da seleção que foi impressa nas paredes do estádio Grand Hamad, centro de treinamento do Brasil em Doha, como inspiração.
Na preparação para a Copa do Mundo, Tite chegou a entrevistar junto com sua comissão técnica três ex-jogadores da seleção, Kaká, Filipe Luís e Fernandinho, para ouvir pontos de vista sobre o que é disputar o torneio. O lateral-esquerdo do Flamengo disse que cada vez que entrava em campo na Copa pensava que era visto pelo mundo inteiro naquele momento e isso tirava a naturalidade de suas ações.
Tite já saiu da sabatina pensando sobre exposição, aspecto mental e o desenvolvimento dessa naturalidade em ser o foco das atenções, ainda mais num grupo de jogadores jovens como é o da seleção.
Por fim, existe um elemento tático nessa virada da Arábia Saudita sobre a Argentina: os asiáticos subiram suas linhas de marcação para deixar os argentinos em posição de impedimento, principalmente no primeiro tempo. Isso diminuía o espaço de ação do time de Messi porque encurtava o campo. Por isso, era preciso ser mais criativo, ter mais opções de jogo. A Argentina não teve. O Brasil terá?
Nas arquibancadas
Segundo a Fifa, 88.012 torcedores acompanharam presencialmente Argentina x Arábia Saudita. Visualmente, as camisas brancas e azuis eram muito mais preponderantes do que as verdes nas arquibancadas, mas o som dos sauditas foi mais alto em diversos momentos. Mais concentrados, eles cativavam as pessoas próximas, enquanto os argentinos espalhados não tinham essa capacidade de mobilização.
Além disso, muitas pessoas com as camisas da seleção da Argentina em Lusail não sabiam os cantos da torcida organizada e permaneciam sentadas e mais quietas acompanhando a partida. Entre os argentinos havia muitas pessoas de países próximos do Qatar simpatizantes da seleção ou de Lionel Messi, principalmente indianos. Eles faziam volume, mas não barulho. Assim, os sauditas conseguiram criar um ambiente de acolhimento que pode ter ajudado o time a virar o placar em campo.
É missão dos brasileiros cantar mais alto. E vencer, também.
- O UOL Esporte comenta ao vivo a expectativa para França x Austrália e as últimas informações sobre a seleção brasileira. Assista à íntegra:
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