Jogo das torcidas argentina e saudita foi do cataclismo à loucura no Qatar
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De joelhos, um saudita chorava e encostava no chão, rezando, sem acreditar no que tinha acabado de presenciar. Outro, pendurado no alambrado, rasgava a camisa no peito e gritava até acabar a voz. Um grupo de amigos se abraçava em lágrimas.
Do outro lado, minutos antes, uma multidão silenciava diante do cataclisma que se passava diante de seus olhos. O que antes eram músicas e tambores virou silêncio e incredulidade. O que parecia o início de um sonho virou um pesadelo em segundos.
De um lado, eram os sauditas comemorando uma vitória jamais imaginada na história do futebol. Do outro, os argentinos, pasmos ao tomarem a virada de uma das piores seleções de todas as Copas. Sim, a Arábia Saudita venceu a Argentina de Messi por 2 a 1.
Acompanhei o primeiro tempo no setor onde estava a parte mais barulhenta dos argentinos, onde ficam as tradicionais faixas, tambores e sujeitos mal-encarados com tatuagens dos times de futebol locais. O time fez 4 gols no primeiro tempo, mas teve 3 anulados. Seria um massacre.
Mas, em questão de minutos, a Arábia Saudita virou no segundo tempo. Uma catástrofe. Os argentinos não acreditavam no que assistiam. "O que está acontecendo?", perguntou um deles ao amigo ao lado. Outro, desesperado, sentou na cadeira em um setor onde todos ficam em pé e foi com as mãos à cabeça.
Era possível ver, do outro lado do campo, um terremoto verde desabar nas arquibancadas atrás do gol de Martinez. Atravessei o estádio para acompanhar o restante da partida no meio dos sauditas. Quando cheguei, parecia o fim do mundo.
Homens de dishdasha -a tradicional roupa árabe - ajoelhavam nas escadas e, acho que, rezavam. Um deles quase infartou. Milhares vestidos de verde, com a cara pintada, enlouquecidos, cantavam e pulavam sem parar: "Vamos, Falcões Verdes, vamos ganhar". A arquibancada tremia.
Dali até o fim da partida parecia um sonho. "Viemos em pelo menos 15 mil sauditas", me contou Mohammed Alsaqad. "Muitos de avião, pois é apenas 1 hora de viagem. Outros, de carro, são mais 4 horas. Mas viemos. Queremos mostrar para o mundo nosso país", contou.
Uma torcida que, lamentavelmente, não tinha praticamente nenhuma mulher - vi apenas duas, vestidas de preto da cabeça aos pés, com apenas os olhos para fora. O país é um dos mais radicais na opressão às mulheres, em situação bastante nebulosa ao restante do mundo ocidental na questão dos direitos humanos.
Após o apito final, aquilo ali virou uma loucura. Um deles caminhou de joelhos pelo corredor, enrolado na bandeira do país. Aos milhares, saíram cantando do estádio sem parar uma música xingando Lionel Messi. Provocavam todos os argentinos que passavam, que quase foram às vias de fato.
E sobrou até para o Brasil. "Pode vir, Brasil, sua hora vai chegar", cantaram a uma dupla de brasileiros que passou comemorando com eles. A Arábia Saudita fez história na Copa do Mundo e já sonha além.
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