Portugal criou hotel e TV por causa de Ronaldo e hoje dá regalias ao craque
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A imagem de Cristiano Ronaldo e da seleção portuguesa se confundem nos últimos 20 anos. Dentro e fora das quatro linhas. Tendo estreado em 2003, com apenas 18 anos, o craque coleciona mitos, polêmicas, dois títulos inéditos (Eurocopa de 2016 e Liga das Nações de 2019) e, sobretudo, enorme impacto nos bastidores.
Até 2014, a figura de Ronaldo tinha, de fato, total influência nas negociações de jogos oficiais e, especialmente, amistosos. A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) era penalizada, por exemplo, em aproximadamente 20% do valor do contrato, caso o atacante não fosse relacionado para "amigáveis".
A partir de 2016, com a centralização dos direitos televisivos até 2028 na Europa, CR7 passou a não ter mais participação direta na maior receita da federação: cerca de 25 milhões de euros por ano nesta altura. Anteriormente, era de 4 a 5 milhões de euros pelo mesmo período.
Dois dos principais patrocinadores particulares de Ronaldo também estão lado a lado com a Seleção das Quinas: a Nike (fornecedora norte-americana de materiais esportivos) e a Altice (maior empresa portuguesa de telecomunicações).
Aos 37 anos, Cristiano Ronaldo ainda é o responsável por vender o maior número de camisas oficiais, o que, no geral, rende por volta de 1 milhão de euros por ano. Pouco perto daquilo que é gerado com ações comerciais e publicitárias. A FPF explora, acima de tudo, a imagem do agora ex-jogador do Manchester United no mercado asiático, principalmente na China.
Com tudo aquilo que já arrecadou com a ajuda do maior jogador da história de Portugal, a entidade que organiza o futebol no país modernizou a Cidade do Futebol (centro de treinamento) e construiu a Casa dos Atletas (hotel), que foi inaugurada em 2020 e abriga as seleções masculinas e femininas de todas as categorias.
Internamente, Ronaldo teve outra presença fundamental nos dois projetos de infraestrutura: a insistência para que ambos saíssem do papel. Com histórico de sucesso no Velho Continente, com destaque para o Real Madrid, o atacante não admitia que ele e seus companheiros treinassem num local, mas dormissem em outro. Exigia frequentemente mais profissionalismo.
A criação em 2019 do Canal 11, que tem como alvo prioritário a transmissão das competições e modalidades geridas pela FPF (futebol, futsal e futebol de praia, masculino e feminino), é mais uma espécie de "herança" de CR7. É o canal na TV aberta que também tem os direitos televisivos do Campeonato Brasileiro em Portugal. O orçamento inicial foi de 1,5 milhões de euros.
O olhar diferenciado do eterno camisa 7 acabou por ter peso no departamento clínico da federação. Médico de confiança do astro português, José Carlos Noronha passou a ser o diretor clínico da seleção. Em grandes competições, como a Eurocopa e a Copa do Mundo, o veterano jogador leva ainda consigo o fisioterapeuta particular, o espanhol Joaquín Juan.
Mas nem tudo é encarado com bons olhos, sobretudo pela imprensa. Uma das grandes discussões em relação ao poder de influência de Ronaldo no dia a dia da seleção é a presença do "manager" Ricardo Regufe, mais conhecido como Rick Regufe. É assessor pessoal do CR7, mas também representante oficial da Nike, que, por contrato, tem direito a ter um funcionário de confiança lado a lado com a delegação portuguesa: treinos, concentrações, viagens, entre outros.
Com 191 jogos e 117 gols pela seleção, Ronaldo não participa nas decisões do treinador Fernando Santos, com quem tem ótima relação desde 2014. Porém, alguns profissionais que trabalham no cotidiano da seleção dizem, entre outras palavras, que o atacante vez ou outra tem conhecimento antecipado de determinadas lista de convocados.
Apesar de uma temporada em baixa, em que criou inimizades nos bastidores e forçou a saída do Mancheter United, com quem rescindiu na última terça-feira (22), Cristiano Ronaldo segue com moral na seleção. Gera dúvidas entre torcedores e jornalistas, mas ainda é visto como titular absoluto por Fernando Santos.
"O lugar de Cristiano Ronaldo na seleção continua, a meu ver, plenamente justificado. Não só faz todo o sentido que esteja na lista de Fernando Santos, como entendo que deve ser encarada com naturalidade a sua titularidade. Se Cristiano não estivesse a competir, como se chegou a temer, então a situação talvez fosse diferente", explicou o jornalista português Nuno Travassos, do Maisfutebol.
"O momento que vive tem muito a ver com (falta de) confiança e felicidade. A seleção pode servir aqui como uma espécie de colo, onde recupera alguma tranquilidade, e não haverá lugar melhor do que a Copa do Mundo para recuperar o sorriso que os gols acabam por gerar", completou.
A presença de Ronaldo entre os titulares até pode ser "absoluta", mas "não é obrigatória". Foi assim que Fernando Santos respondeu, na semana passada, dois dias antes do embarque para a Copa do Mundo no Qatar, ao ser abordado por um jornalista inglês.
"Não é uma questão de obrigação, ninguém é obrigado a nada, que eu saiba. Todos os jogadores que aqui estão, incluindo o Cristiano Ronaldo, têm condições de serem titulares e iniciarem o jogo como titulares", explicou.
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