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Qual o segredo do ar-condicionado do estádio da estreia do Brasil na Copa

Alemanha 1 x 2 Japão no Khalifa International Stadium: em detalhe, o duto de ar condicionado que garante aos estádio do Qatar temperaturas amenas para o futebol - Federico Gambarini/picture alliance via Getty Images
Alemanha 1 x 2 Japão no Khalifa International Stadium: em detalhe, o duto de ar condicionado que garante aos estádio do Qatar temperaturas amenas para o futebol Imagem: Federico Gambarini/picture alliance via Getty Images
Gabriel Carneiro, Igor Siqueira, Danilo Lavieri e Pedro Lopes

Do UOL, em Doha

23/11/2022 19h00

Classificação e Jogos

O engenheiro responsável diz que é uma inovação e não uma invenção. Para muita gente, é um alívio.

O ar-condicionado nos estádios da Copa 2022 traz um alívio ao ambiente do Qatar. E fazer com que esse sistema funcione no Lusail, palco da estreia do Brasil, amanhã (24), às 16h (de Brasília), contra a Sérvia é uma das obras-primas desenvolvidas pelo engenheiro sudanês Saud Ghani. Não por acaso ele ganhou o apelido de Dr. Cool — que em inglês significa tanto "legal" quanto "frio" ou "fresco".

Segundo a organização, o Lusail tem capacidade para 88 mil pessoas. O primeiro jogo da Copa lá foi a derrota da Argentina para a Arábia Saudita. É o maior estádio da competição, conta com uma cobertura suntuosa e representou um desafio para ser refrigerado. Por questões físicas, a marquise faz com que cada estádio tenha um projeto específico.

"Temos que ter a certeza de que a forma do estádio está trabalhando com você. Temos uma única marquise na cobertura do estádio. Ela atua como um escudo para garantir que o ar externo está bem mantido para fora. Temos que garantir que a bolha não estoure", disse Saud Ghani.

O campo e o teto do Lusail, estádio em que o Brasil vai fazer sua estreia - Tan Jun/PxImages/Icon Sportswire via Getty Images - Tan Jun/PxImages/Icon Sportswire via Getty Images
O campo e o teto do Lusail, estádio em que o Brasil vai fazer sua estreia
Imagem: Tan Jun/PxImages/Icon Sportswire via Getty Images

Sete dos oito estádios do Mundial são refrigerados — seis deles contam com o sistema instalado desde a construção. É o caso do Lusail, e isso facilitou o trabalho. A inserção do aparato necessário aconteceu ainda no design da arena que abrigará 10 jogos da Copa, inclusive a final. O que está à mostra são os dispositivos abaixo dos assentos e à beira do campo.

Segundo o Dr. Cool, o ar-condicionado foi desenvolvido pensando em três elementos específicos: torcedores, gramado e jogadores. Ou seja, Neymar e os demais jogadores do Brasil terão um ambiente de aproximadamente 18°C para usar as "perninhas rápidas" valorizadas por Tite e dar trabalho à Sérvia.

"Os computadores controlam qual a exata temperatura a grama precisa para crescer. Precisa ter um nível de umidade específico. Se não ficar úmido, vai ficar doente, com bactérias. Quando os jogadores suam, o suor evapora. Se o ar estiver muito úmido, a evaporação será devagar. Então, terão choque térmico", completa ele.

Controle específico para cada área

Mas com a tecnologia desenvolvida, é possível colocar uma temperatura específica para cada área do estádio. Ao redor do campo do Lusail, são 18 sensores de temperatura.

A calibragem de cada setor de arquibancadas é feita na sala de comando. Há escritórios em cada estádio, todos interligados ao Centro de Comando e Controle Aspire. Há um mapa de calor de todas as áreas do estádio. Cada setor de arquibancadas tem um resultado individualizado e é possível controlar as máquinas de refrigeração de acordo com o desejado.

"Não controlamos a temperatura, controlamos a percepção de temperatura. Medimos o nível de umidade, a bolha, a velocidade do ar, olhamos as roupas, até mesmo o gênero de quem está naquela área", explica Dr. Cool.

Saud Abdulaziz Abdul Ghani, engenheiro que projetou o ar-condicionado dos estádios da Copa do Qatar - Igor Siqueira/UOL - Igor Siqueira/UOL
Saud Abdulaziz Abdul Ghani, engenheiro que projetou o ar-condicionado dos estádios da Copa do Qatar
Imagem: Igor Siqueira/UOL

Definir qual a faixa de ar frio mais adequada demandou pesquisas e análises ao longo do desenvolvimento do projeto. O ar que circula no ambiente dos torcedores é "refinado" por difusores que peneiram poeira e até cabelo, entre outras impurezas.

"Eu sou do Sudão, você é do Brasil e outra pessoa pode ser de outro lugar. Qual é a temperatura confortável com a qual todo mundo concordaria? É difícil. Descobrimos que ninguém está satisfeito com a temperatura que Deus deu. Pessoas de áreas mais quentes querem um ar mais refrigerado. Pessoas de áreas frias querem um ar mais quente. Essa é a dificuldade. Por isso estabelecemos a faixa", comentou Saud.

O projeto que resultou no sistema de ar-condicionado da Copa teve como embrião um estudo feito por Saud quando era aluno do doutorado da Universidade de Nottingham, na Inglaterra. Atualmente professor da Qatar University, ele analisava meios de melhorar a refrigeração interna de carros.

Antes mesmo de formalizar a candidatura para a Copa do Mundo, o Qatar já estudava meios de amenizar o calor do clima de deserto nos estádios. Um projeto relevante citado pelo Dr. Cool aconteceu no estádio Jassim Bin Hamad, com capacidade para até 15 mil pessoas e que costuma receber jogos da seleção do Qatar.

"Começamos em escalas menores", conta ele.

O fato de o Mundial deste ano, ao fim das contas, acontecer no inverno local não diminui a relevância da inovação. E se não fosse o ar-condicionado, seria impossível realizar no Qatar, em junho — auge do verão — os jogos da repescagem que preencheram as duas últimas vagas no Mundial deste ano.

O Qatar não patenteou o projeto de refrigeração dos estádios e diz que é um dos legados da Copa para o resto do mundo.

"Temos 100% de certeza que vamos entregar um grande ambiente".

Al-Amri, da Arábia Saudita, joga água na cabeça no primeiro jogo do estádio Lusail na Copa do Mundo - Hector Vivas - FIFA/FIFA via Getty Images - Hector Vivas - FIFA/FIFA via Getty Images
Al-Amri, da Arábia Saudita, joga água na cabeça no primeiro jogo do estádio Lusail na Copa do Mundo
Imagem: Hector Vivas - FIFA/FIFA via Getty Images

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado no texto, o Brasil estreia amanhã (24), e não hoje (23), na Copa do Mundo