Cristiano Ronaldo fez o que Amália Rodrigues faria: sentiu, chorou e venceu
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"O que interessa é sentir o fado", já dizia a célebre e tocante fadista portuguesa Amália Rodrigues.
"O que interessa é sentir a camisa", poderia dizer outro português digno de fortes emoções: Cristiano Ronaldo.
O maior nome da história do futebol de Portugal sente como poucos as cores que representa. Se alguém ainda tinha dúvidas, hoje é inegável.
O detentor de cinco edições de Copa do Mundo no invejável currículo (2006, 2010, 2014, 2018 e 2022) tem um orgulho que escorre pelo rosto no formato de lágrimas.
Se comoveu durante o hino nacional antes de a bola rolar na vitória sofrida e apertada por 3 a 2 em cima de Gana, nesta quinta-feira (24), no Stadium 974, em Doha. Imitou o mais popular estilo musical do país: chorou e fez chorar.
Descarregou também ali, diante dos olhares atentos de todo o mundo e ao som da "Portuguesa", a pressão de ter sido alvo de diversas polêmicas e dúvidas nos últimos meses.
O começo do duelo não foi nada fácil para o agora ex-jogador do Manchester United e reforço apetecível para o próximo mercado de transferências. Esteve acompanhado de perto pelos defensores e também pelo público.
Cada lance em evidência era um misto de perigo no campo e êxtase nas arquibancadas. Teve três chances claras de gol nos 45 minutos iniciais. Perdeu as duas primeiras. Acertou em cheio na terceira, mas viu a arbitragem anular. Fez falta em Djiku.
Incomodado com o desempenho coletivo de Portugal, foi o primeiro a correr para o vestiário na hora do intervalo. Sozinho. Seguramente, tinha uma palavra (ou verso) na ponta da língua para dizer aos companheiros. Como de costume.
No arranque do segundo tempo, tentou ser o Ronaldo que tanto encantou e levantou plateias. Buscou jogadas em velocidade e alguns dribles, mas falhou no último toque.
Mas Cristiano Ronaldo é e sempre vai ser, no fundo, Cristiano Ronaldo. Não importa a idade (37 anos). O jogo. O adversário. Muito menos a competição. É melhor nunca duvidar do gajo.
Assim como Lionel Messi, que também está no seu último Mundial, deixou a sua (primeira) marca no Qatar de pênalti. Sofreu, cobrou e comemorou. Vibrou efusivamente um feito histórico: o primeiro a marcar em cinco Copas (sete vezes em 18 partidas).
Em seguida, um banho de água fria. Viu Andre Ayew empatar o confronto. Uma frustração que teve duração curta. Rapidamente acompanhou lado a lado os outros dois gols portugueses: João Félix e Rafael Leão. Depois, ficou próximo de bisar. Errou o toque por cima de Zigi.
Substituído por Gonçalo Ramos, acabou por sofrer. Não calado, mas sofreu. Gana chegou ao 3 a 2, com Bukari, que, para causar ainda mais aflição no banco, quase fez 3 a 3, numa falha infantil de Diogo Costa. Levantou de imediato e ficou completamente assustado com a lambança.
Alívio total estampado na cara com o término do movimentado jogo. Prova de que sentiu muito. Dentro e fora das quatro linhas. Do começo ao fim. Por tudo e por todos.
Cumprimentou os companheiros e separou alguns minutos para falar em participar com o seu goleiro. Somente por isso não foi literalmente do choro ao sorriso, assim como no Fado.
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