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ANÁLISE

Epopeia do Irã transcende jogo técnico e mostra espírito real da Copa

Rouzbeh acertou um chutaço e abriu o placar para o Irã na partida contra País de Galres - Richard Heathcote/Getty Images
Rouzbeh acertou um chutaço e abriu o placar para o Irã na partida contra País de Galres Imagem: Richard Heathcote/Getty Images

Colunista do UOL, em Doha (Qatar)

25/11/2022 09h30

Classificação e Jogos

Quem gostar de futebol pela estética, pela tática, pela execução perfeita de movimentos, certamente não ficará satisfeito com uma partida como Irã x Gales. É Copa do Mundo, mas o campeonato também tem suas limitações. Os dois times somaram quase 200 passes errados pelas estatísticas da Fifa.

Mas apreciar um jogo desses pelo aspecto técnico é um erro crasso. A Copa do Mundo nos exige entender como aquilo ali é também sobre uma nação, sobre uma tentativa de um povo se mostrar para o mundo. E o que Irã nos brinda neste Mundial é uma epopeia.

No primeiro jogo, seus jogadores não cantaram o hino em apoio à manifestação pelos direitos das mulheres e contra o regime iraniano no país. A torcida vaiava o próprio hino. Diante de Gales, a Fifa reprimiu protestos, eles cantaram o hino após medidas restritivas no país.

Coube então ao time e à torcida iranianos mostrarem sua vontade, seu espírito enquanto jogavam bola e gritavam. Gales era pobre de bola, o Irã um pouco menos. Mas tinha a força no combate e no contra-ataque. E sua torcida não parava com as cornetas, os bumbos e os gritos de Irã.

Mesmo com menos posse de bola, o Irã martelou a ponto de somar 21 conclusões a gol. Provocou até a expulsão do goleiro Hennessey em uma arrancada que ele entrou forte no atacante Taremi. O árbitro precisou do VAR para dar o vermelho.

Parecia que não ia dar. O jogo teve 9min de acréscimos, uma esperança. No 8o minuto dos descontos, Cheshmi fez daqueles gols para história com um chute muito de longe que o goleiro substituto Ward aceitou. A explosão da torcida iraniana foi a mais incrível até agora na Copa. Era um grito de desabafo, de alívio, um urro grutural de uma nação que se levanta.

Quem se importa com os 200 passes errados, o Irã está a uma vitória (ou empate) sobre os EUA da vaga na segunda fase da Copa.