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Copa do Qatar vê poder do DNA com filhos de campeões brilhando

Timothy Weah comemora seu gol pelos Estados Unidos contra Gales na Copa do Mundo - Jewel SAMAD / AFP
Timothy Weah comemora seu gol pelos Estados Unidos contra Gales na Copa do Mundo Imagem: Jewel SAMAD / AFP

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, de Barcelona

27/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Weah correu entre os zagueiros. Entrou na área já em vantagem, retardou a passada por meio segundo e, enquanto via a saída do goleiro, tocou de primeira, com a parte exterior do pé direito, para fazer o gol.

O lance poderia ter acontecido no Parque dos Príncipes ou no San Siro, em algum lugar dos anos 1990, mas a bola entrou em Doha, em 2022. A obra teria sido assinada por George Weah, vencedor da Bola de Ouro de 1995, mas foi Timothy Weah, o filho, quem colocou o sobrenome da família na história das Copas.

Nascido em Nova York, há 22 anos, o jovem Weah é daqueles casos que fazem quem já acumula certa experiência soltar a frase que já está gasta, mas não deixa de ser verdade: "Estamos ficando velhos".

Na Copa em que o futebol se prepara para dizer adeus a Messi e Cristiano Ronaldo, o atacante da seleção dos Estados Unidos é mais um exemplo de uma das leis inegociáveis da vida: o tempo passa. Não é o único. A Copa do Qatar é pródiga em dar espaço a filhos de jogadores que tiveram carreiras sólidas e vencedoras. O DNA de campeões do passado nunca esteve tão representado.

O caso de Weah é emblemático porque fecha um ciclo que o pai, hoje presidente da Libéria, não conseguiu encerrar. Um dos mais brilhantes jogadores africanos da história, George jamais chegou a uma Copa do Mundo, vítima da fragilidade da seleção da Libéria, seu país-natal.

Timothy poderia ter escolhido defender o selecionado africano, a Jamaica (país da mãe), a França (pela cidadania europeia do pai) ou os Estados Unidos, onde nasceu. Com a seleção norte-americana, conseguiu finalmente colocar a família no mapa das Copas. Um fato curioso é que George não foi o responsável por colocar o filho no caminho do futebol. Foi a mãe, Clar Marie, que ajudou nos primeiros treinos e incentivou o início da carreira.

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Andre Ayew, de Gana, comemora após marcar contra Portugal na Copa do Mundo
Imagem: Julian Finney/Getty Images

Irmãos são filhos de lenda

Personagens mais conhecidos do público de Copa do Mundo, os irmãos Jordan e André Ayew, da seleção de Gana, também têm um pai famoso e que nunca disputou um Mundial. Eles são filhos de Abedi Pelé, mais conhecido jogador ganês dos anos 1980 e 1990, em uma época que o país não conseguia se classificar para o torneio.

O auge do "Pelé africano" aconteceu no Olympique de Marselha, onde esteve por seis temporadas. No início da carreira, em 1982, ele foi campeão da Copa Africana de Nações. O primeiro Mundial de Gana chegou apenas em 2006, e desde a edição seguinte a família sempre esteve presente.

André participou da campanha histórica das quartas de final em 2010 e esteve também em 2014; na estreia em seu terceiro Mundial, marcou o primeiro gol africano no torneio, na derrota por 3 a 2 para Portugal. Um gol de centroavante, com a marca da família.

Jordan, o irmão mais novo, disputa sua segunda Copa. Ele participou da campanha no Brasil e foi novamente convocado para o Mundial do Qatar.

Pai na Copa, filho na Copa

Se no almoço das famílias Weah e Ayew apenas os filhos podem falar sobre Copa do Mundo, há casos de pais e filhos que podem trocar experiências sobre o torneio. O mais recente deles é Marcus Thuram, que faz sua estreia nesta edição.

Aos 25 anos, o atacante do Borussia Monchengladbach segue os passos do pai, Liliam Thuram, campeão com a França em 1998. O lateral-direito entrou para a história dos Mundiais ao marcar os dois gols da vitória por 2 a 1 contra a Croácia, na semifinal daquele torneio.

A chegada do jovem Thuram ao Mundial não veio sem drama. Ele ficou fora da lista de 25 atletas anunciada por Didier Deschamps, no dia 9 de novembro. Só que, cinco dias depois, o treinador adicionou o nome do atacante ao elenco. Ele estreou entrando aos 44 do segundo tempo contra a Austrália; diante da Dinamarca, esteve 28 minutos em campo.

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Daley Blind, ala da Holanda na Copa do Mundo 2022
Imagem: Shaun Botterill - FIFA/FIFA via Getty Images

A volta da Holanda à Copa do Mundo representa, também, o retorno do sobrenome Blind ao maior torneio do futebol. O polivalente Daley Blind, que participou da campanha do terceiro lugar em 2014, está de volta, agora como ala-esquerdo. E como titular, algo que o pai, Danny Blind, nunca conseguiu em um Mundial.

Danny, zagueiro histórico do Ajax, esteve nas Copas de 1990 e 1994, mas — em tempos de Koeman e Rijkaard — acabou não sendo usado. Ele participou, ainda, das edições da Eurocopa de 1992 e 1996.

Outro exemplo está na seleção da Dinamarca. Figura constante nas arquibancadas do Qatar, Peter Schmeichel acompanha de perto a carreira do filho Kasper. Os dois construíram uma dinastia no gol da seleção nórdica.

Peter, uma lenda do Manchester United, foi campeão da Eurocopa em 1992 e disputou a Copa do Mundo de 1998, sendo derrotado pelo Brasil nas quartas de final. Kasper assumiu a posição em 2013 e estreou em Copas do Mundo em 2018.

Se Weah já fez gol pela seleção dos EUA, quem ainda tenta deixar sua marca é Giovanni Reyna, meio-campista que entrou no lugar do próprio Weah na partida contra a Inglaterra. O camisa 7 é filho do volante Claudio Reyna, que disputou quatro Copas pelos Estados Unidos de 1994 a 2006.