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ANÁLISE

Brasil que merece Richarlison também merece Neymar em campo na Copa

Tite consola Neymar no momento em que ele é substituído na vitória contra a Sérvia - Jewel Samad/AFP
Tite consola Neymar no momento em que ele é substituído na vitória contra a Sérvia Imagem: Jewel Samad/AFP

Pedro Lopes

Do UOL, em Doha

27/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

A lesão de Neymar na estreia do Brasil na Copa do Mundo do Qatar diante da Sérvia gerou reações e até comemorações entre personalidades do que costuma-se chamar de campo progressista. É compreensível que o apoio declarado e dedicado de Neymar a Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 gere rejeição. Foi uma decisão consciente e é parte de sua história. Ainda que não tenham terminado em condenação, também são parte de sua história as duas acusações de violência contra mulheres. O mesmo vale para mais de uma década de relação conflituosa com a mídia e com parte da torcida.

Mas como tudo na vida, existe um outro lado. E a seleção brasileira que está no Qatar mostra isso.

A ascensão da geração de Vini Jr., Antony, Rodrygo, Raphinha, Richarlison traz uma gama de talentos que não se via desde o ocaso de Kaká, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho. É um grupo que pode unificar (para o bem) a relação do brasileiro com o futebol e que só existe porque, entre essas duas gerações, existiu Neymar.

Desde os 19 anos, o polêmico camisa 10 do PSG carrega sozinho a missão de ser o rosto e a imagem do futebol brasileiro. É uma missão que não trata só de resultados, mas de cultura, de identidade. Ele vai terminar sua carreira como o maior artilheiro da história da seleção brasileira, o mais poderoso e tradicional time da história do futebol. E a coisa vai além disso.

Os jogadores que chegam à seleção, todos eles, têm Neymar como ídolo máximo e nele se inspiraram para chegar onde hoje estão. Como o UOL já mostrou, o atacante é mentor desses garotos, o responsável por recebê-los e integrá-los à seleção. Não é por acaso que sua lesão (e as reações a ela) gerou uma enxurrada de manifestações de defesa, apoio e carinho entre esses jogadores.

Em um brilhante texto publicado neste sábado, a repórter Talyta Vespa apontou que Richarlison é o ídolo que o brasileiro merece depois de uma pandemia que levou mais de 600 mil pessoas, que enclausurou gente em casa e desestabilizou mais um monte, devastou até o ânimo pelo que viria depois. É verdade. Mas depois de tudo isso, o que o brasileiro merece é uma Copa sem Neymar?

Neymar é inspiração para um grupo de garotos que saiu da pobreza e da exclusão e que, no Qatar, tenta chegar ao lado do ídolo no ponto mais alto possível da profissão. Richarlison está entre eles. Raphinha também. O segundo, aliás, recebeu críticas ao defender o colega com a infeliz frase de que seu "maior erro" teria sido nascer brasileiro. Pouca gente sabe, mas o atacante do Barcelona vem de família progressista, eleitora de Lula.

No Brasil, milhões de garotos não chegaram e nunca chegarão em Doha. O refúgio possível pode ser justamente a chance de ver Neymar em ação em uma Copa do Mundo. Como maior jogador brasileiro da atualidade, adulto de 30 anos e exemplo para jovens brasileiro, Neymar precisa, sim, sofrer as consequências das suas decisões e posicionamentos. Como pessoa pública, está aberto a julgamentos. Isso não muda o fato de que, com todos os elementos e questionamentos, o melhor lugar para ele é dentro de campo