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Geração Belga envelheceu. Quem será a nova queridinha dos hipsters da bola?

Kevin de Bruyne, da Bélgica, em ação contra a Croácia em jogo da fase de grupos da Copa do Qatar - Alex Livesey - Danehouse/Getty Images
Kevin de Bruyne, da Bélgica, em ação contra a Croácia em jogo da fase de grupos da Copa do Qatar Imagem: Alex Livesey - Danehouse/Getty Images

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, de Barcelona

28/11/2022 04h00Atualizada em 01/12/2022 14h44

Classificação e Jogos

A "Ótima Geração Belga" povoou o imaginário do futebol mundial por pelo menos 10 anos. É difícil encontrar o ponto exato no tempo em que os belgas se transformaram nos donos do futuro do esporte. Mas dá para saber quando a euforia acabou: hoje (1), com o sem gols com a Croácia, pela terceira rodada do Grupo F da Copa do Mundo, o time foi eliminado e voltará do Qatar para casa.

Os jovens belgas envelheceram, e a "Geração de Ouro" passou por sua melhor época sem conquistar títulos, e o encanto já se perdeu. Kevin de Bruyne, o grande símbolo do time, fez partidas com pouco brilho; Courtois, antes uma parede intransponível, falhou no primeiro gol marroquino na segunda rodada; e Hazard, o craque que dominaria o planeta quando chegou ao Real Madrid, nunca se firmou como estrela mundial. Fora os gols perdidos por Lukaku diante da Croácia.

O terceiro lugar na Copa de 2018 foi o auge, e a vitória sobre o Brasil nas quartas de final ganhou o status de título na falta de um. A seleção belga pode até continuar na Copa, e fazer uma (por enquanto, pouco provável) grande campanha, mas já não tem os fãs que fizeram dela um fenômeno nas redes sociais brasileiras. "Estamos velhos", resumiu Kevin de Bruyne.

"Com certeza é o fim desta geração. O primeiro jogo já não foi bom, e o que se falava é que não podia ser pior do que no jogo contra o Canadá. Mas hoje foi pior, sim", afirmou o jornalista belga Samindra Kunti, da WorldSoccer.

A pergunta que surge, diante da lacuna que será deixada pelos belgas, é simples: quem será a próxima seleção a ganhar os corações? As candidatas vêm de diferentes partes do mundo.

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O norueguês Erling Braut Haaland com a seleção da Noruega
Imagem: REUTERS/Antonio Bronic

Noruega - Haaland e mais 10?

A Europa apresenta um projeto de potência, com um astro mundial como destaque: a Noruega. Erling Haaland, 22, chegará a 2026 com quatro anos a mais de experiência no mais alto nível do futebol. O atacante do Manchester City está dinamitando recordes na Premier League e aparece como potencial estrela dos próximos anos.

O grande desafio é construir uma equipe para jogar atrás de Haaland. Algumas peças são óbvias, como Martin Odegaard, meio-campista que comanda o Arsenal, líder do Campeonato Inglês. Também na Inglaterra jogam o volante Sander Berge, do Sheffield United, e o zagueiro Kristoffer Ajer, do Brentford.

A renovação deve ter como protagonistas, também, a dupla de laterais do Feyenoord, da Holanda: Marcus Pedersen, pela direita, e Fredrik André Bjørkan, pela esquerda. No gol, o destaque da nova geração deve ser Kristoffer Klaesson, recém-contratado pelo Leeds United.

Com uma Copa do Mundo de 48 seleções e 16 delas indo para a Europa, as chances de a Noruega chegar ao torneio também aumentam. A seleção nórdica disputou até hoje apenas três Mundiais, em 1938, 1994 e 1998. Nas Eliminatórias de 2022, os noruegueses ficaram na terceira posição do Grupo G, atrás de Holanda e Turquia. A derrota por 3 a 0 para os turcos em casa tirou da equipe nórdica a chance de chegar aos play-offs europeus.

Ucrânia - A geração pós-Guerra

Campeã mundial sub-20 em 2019, a Ucrânia tem uma geração promissora e que já foi diretamente afetada pela guerra com a Rússia, que eclodiu em 2021, mas decorre de conflitos iniciados em 2014.

Mesmo com sua liga nacional interrompida, jogadores sem ritmo e treinamentos realizados na Eslovênia, para escapar das áreas de conflito, a seleção ucraniana esteve a um jogo de classificar-se para o Mundial do Qatar: perdeu a final da repescagem europeia para o País de Gales por 1 a 0.

A jovem geração tem como destaques o goleiro Andriy Lunin, 23, reserva do Real Madrid, o lateral-esquerdo Vitaliy Mykolenko, 23, do Everton, e do zagueiro Illya Zabarnyi, 20, que já se firmou como titular do Dínamo de Kiev.

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Jogadores da Ucrânia entram em campo enrolados com a bandeira do país
Imagem: Andrew Milligan/PA Images via Getty Images


No ataque, a esperança é Danylo Sikan, atacante do Shakhtar Donetsk. Aos 21 anos, ele finalmente começa a ganhar espaço no clube após três temporadas emprestado para ganhar experiência.

A seleção ucraniana tem apenas uma Copa do Mundo em sua história, e fez uma grande campanha: em 2006, chegou às quartas de final, mas acabou derrotada por 3 a 0 para a Itália, que seria a campeã do torneio.

Coreia do Sul - Os herdeiros de Son

Na Ásia, a maior candidata a seleção do futuro é a Coreia do Sul. A equipe que está no Qatar tem apenas cinco jogadores com menos de 25, o que indica que uma renovação é necessária.

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Son Heung-Min será o veterano entre jovens em 2026
Imagem: Visionhaus/Getty Images

O principal nome deste processo de fundação de uma nova equipe sul-coreana deve ser Kang-in Lee, de 21 anos. Atualmente no Mallorca, o meio-campista foi o melhor jogador do Mundial sub-20 de 2019, quando os asiáticos terminaram na segunda colocação. Na Copa do Qatar, ele já vem ganhando espaço na equipe comandada por Paulo Bento.

Outros jovens que podem crescer nos próximos anos e transformar os Tigres em um time cultuado são Woo-yeoung Jeong, 23, que pertence ao Bayern de Munique e está emprestado ao Freiburg, e Kang Seong-jin, 19, que já teve chances na seleção, mas acabou fora da Copa do Mundo.

Na transição até 2026, jogadores como o zagueiro Kim Min-jae, do Napoli, ou Hwang Hee-chan, do Wolverhampton (ambos de 26 anos) também devem ter espaço. E Heung-min Son, o maior ídolo da seleção atualmente, terá de decidir que papel terá no cenário da próxima Copa do Mundo.

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Davies marcou o gol mais rápido da Copa do Mundo de 2022 até então, na partida entre Canadá e Croácia
Imagem: Claudio Villa/Getty

Canadá - Em casa e com experiência

Os dois jogadores mais badalados da seleção canadense têm 22 anos e estarão no auge em 2026, jogando em casa: Alphonso Davies e Jonathan David. Ambos devem comandar a jornada dos canadenses rumo ao terceiro Mundial da história do país.

A Copa do Mundo no Qatar funciona como uma espécie de estágio. O objetivo é adquirir experiência, formar líderes e proporcionar um intercâmbio com diferentes escolas de futebol.

Nas categorias de base do futebol canadense, destacam-se os atacantes Jayden Nelson, 20, do Toronto FC, e Luca Koleosho, 18, que defende o Espanyol, de Barcelona. Outro centroavante que pode despontar nos próximos quatro anos é Theo Corbeanu, de 20 anos e 1,90m, que está emprestado pelo Wolverhampton ao Blackpool.

Já classificada para a Copa de 2026 como um dos países sede, a seleção do Canadá terá um ciclo inteiro para trabalhar melhor a promissora geração de jogadores. A seu favor, o país tem um trabalho bem estruturado de captação de talentos. Foi assim que Davies foi encontrado e chegou à seleção.

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Seleção do Equador comemora contra o Qatar: jovens já estão ganhando espaço
Imagem: Hector Vivas/Getty

Equador - O mundo sem Enner Valencia

Responda rápido: quem é o atual campeão Sul-Americano Sub-20? Se respondeu Argentina, Brasil, Uruguai ou Colômbia, você errou. O título no torneio de 2019 (o de 2021 foi cancelado devido à pandemia de covid-19) ficou com o Equador, que superou todos os favoritos com um time que já tem expoentes na Copa do Mundo.

Três jogadores daquele time já estão no Qatar: o zagueiro Diego Palácios, o meio-campista José Cifuentes e o ponta-direita Gonzalo Plata. Entre eles, apenas Palácios ainda não teve a chance de entrar em campo no Mundial.

O grande desafio da equipe equatoriana é superar a dependência de Enner Valencia, autor dos três gols da equipe na Copa-22 (e também dos últimos três em 2014). A renovação pode vir com um jogador campeão no Sul-Americano de 2019: Leonardo Campana, 22, destaque no Inter Miami, time de David Beckham na MLS.

Há ainda jogadores em categorias de base de clubes importantes da Europa, caso do defensor Diego Almeida, 18, que nasceu na Catalunha e joga no time sub-19 do Barcelona. Filho de equatorianos, ele vinha sendo monitorado pela seleção espanhola, mas já aceitou a convocação para a seleção principal do Equador. Outro exemplo é o meia Patrickson Delgado, 19, que está emprestado ao time júnior do Ajax.

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Dango Ouattara, atacante de Burkina Faso, comemora gol marcado contra a Tunísia
Imagem: Reprodução/Instagram

Burkina Faso - A nova surpresa africana

Para a Copa do Mundo de 2026, com o aumento para 48 países na disputa, o número de vagas da África saltará de cinco para nove, além de uma possibilidade extra via repescagem, ainda a ser decidida pela Fifa. Com isso, abre-se caminho para o surgimento de novas forças. E, claro, de novas seleções candidatas a serem queridinhas dos amantes do futebol.

Para sair das potências de sempre no continente, uma boa candidata é Burkina Faso. Na última década, a seleção burquinense tem surpreendido na Copa Africana de Nações: foi vice-campeã em 2013, terceira em 2017 e quarta em 2021, com resultados convincentes contra Camarões, Nigéria, Gana e Tunísia ao longo dos três torneios.

A geração que lutará para chegar a 2026 tem jogadores que já se destacam em equipes importantes da Europa. É o caso do zagueiro Edmond Tapsoba, 23, do Bayern Leverkusen, do lateral-direito Issa Kaboré, 20, que está no Olympique de Marselha, e do atacante Lassina Traoré, 21, contratado pelo Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, nesta temporada.

Os jovens se unem a jogadores com mais rodagem europeia como Bertrand Traoré, 27, hoje no Istambul Basaksehir depois de passagens por Chelsea, Ajax, Lyon e Aston Villa, grande expoente do futebol do país.

Nas Eliminatórias para a Copa-22, Burkina Faso foi eliminada na penúltima fase, ao ficar em segundo lugar do Grupo A, que tinha Argélia, Níger e Djibuti. Os burquinenses foram eliminados sem perder nenhum jogo — empataram duas vezes com a Argélia, que passou para a fase seguinte.

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Khvicha Kvaratskhelia comemora gol da Geórgia contra a Suécia pelas Eliminatórias da Copa
Imagem: VANO SHLAMOV/AFP

Geórgia - Um sonho impossível?

Os órfãos da Bélgica que procuram uma seleção para chamar de sua, mas querem um time totalmente fora do radar, encontram na seleção da Geórgia a opção perfeita: pouca gente conhece, mas muita gente deve falar nela durante as Eliminatórias.

A culpa é de Khvicha Kvaratskhelia, 21, ponta do Napoli que é um dos destaques da temporada do futebol europeu. Com oito gols e oito assistências em 17 partidas, ele já é o líder da geração que pretende colocar o país no mapa do futebol (e na inflada Copa do Mundo com 48 países).

Mas "Kvara" não está sozinho. A começar pelo gol: Giorgi Mamardashvili, 22, é titular do Valencia na Liga Espanhola e já começou a chamar a atenção dos grandes clubes do continente com suas atuações. No meio-campo, Zuriko Davitashvili é o destaque; ele tem ajudado o Bordeaux na luta para voltar à elite do Campeonato Francês.

O técnico da seleção georgiana na busca pelo milagre da classificação está acostumado aos maiores palcos do futebol mundial. Trata-se do francês Willy Sagnol, ex-lateral do Bayern de Munique e vice-campeão mundial com a seleção francesa em 2006.

Nas Eliminatórias para a Copa do Qatar, a Geórgia ficou em quarto lugar no Grupo B, atrás de Espanha, Suécia e Grécia, e à frente apenas do Kosovo. Os georgianos venceram dois jogos, empataram um e perderam cinco. O grande destaque foi a vitória por 2 a 0 sobre a Suécia.