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Estatística da moda explica por que saem tantos gols dentro da área na Copa

Casemiro marcou o gol do Brasil na vitória por 1 a 0 sobre a Suíça, pela Copa do Mundo do Qatar - Matthias Hangst/Getty Images
Casemiro marcou o gol do Brasil na vitória por 1 a 0 sobre a Suíça, pela Copa do Mundo do Qatar Imagem: Matthias Hangst/Getty Images

Thiago Arantes

Do UOL, em Barcelona (ESP)

29/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

Chutar de dentro da área nunca funcionou tanto como na Copa de Mundo de 2022. Dos 81 gols marcados após 32 partidas (metade dos jogos do torneio), nada menos que 75 foram finalizados ali no espaço em que o goleiro pode usar as mãos.

A alta proporção é acompanhada por outro dado: no Qatar, chuta-se mais de dentro da área que em Mundiais anteriores. Outro efeito: os times estão arriscando menos chutes de longa distância. Diante deste cenário, os números não chegam a assustar: 92,5% dos gols foram marcados de dentro da área; se excluídos os 8 gols de pênalti, foram 82,7%.

Por quê? Uma estatística, cada vez mais utilizada por clubes e treinadores, ajuda a compreender a tendência: os "gols esperados" (em inglês, "expected goals"; conhecida também como "xG")

O termo surgiu em 2012, em uma apresentação sobre probabilidades de gols em partidas da NHL, a liga norte-americana de hóquei sobre o gelo. Desde 2017, tem sido mais utilizado no futebol e tornou-se uma ferramenta de análise para treinadores, olheiros e analistas de desempenho das maiores ligas do mundo.

A ideia é relativamente simples: cada finalização tem uma taxa de gol esperado ("xG") que varia de 0 a 1. Quanto menos eficiente for uma finalização, mais o "xG" se aproxima de 0; uma finalização com mais chances de gol se aproxima de 1. Como isso é calculado? Com uma base de dados de finalizações anteriores.

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Messi foi um dos seis jogadores que marcaram gols de fora da área em 31 jogos do Mundial
Imagem: Markus Gilliar - GES Sportfoto/Getty Images

Assim, um chute após um cruzamento rasteiro na pequena área, por exemplo, terá um índice de de "gol esperado" (reforçando: o "xG") muito mais alto que um chute a 35 metros do gol, porque a análise de milhares de jogos mostra que, quando se chuta de posições específicas, a bola entra mais vezes.

A Copa da análise

Na prática, há duas formas de apresentar tais dados.

A primeira é analisar cada chute e o seu índice de "xG". Se um time chutou 15 vezes em um jogo, grande parte deles com "xG" baixo, isso significa que as finalizações tiveram menos qualidade, ou que a decisão sobre onde encerrar as jogadas não foi boa.

Por outro lado, se um time finaliza menos, mas em posições onde a probabilidade de marcar é maior, terá um índice maior.

Isso permite uma avaliação detalhada de todas as finalizações. Assim, o treinador pode pedir a seus jogadores que chutem em mais situações de "xG" alto — ou seja, de onde haja mais chances de marcar. Um exemplo de treinador que usa os gols esperados para explicar como quer que as jogadas terminem é Pep Guardiola.

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Gráfico mostra de onde saíram os gols na Copa do Mundo de 2022
Imagem: Opta

Desde que o catalão chegou ao Manchester City, o time mudou a forma de jogar e o perfil de suas finalizações. Aos poucos, a procura for finalizações com mais chances de marcar (com o "xG" mais próximo de 1), foi aumentando, e os chutes de fora da área diminuíram. Agora, a tendência chega à Copa do Mundo, que aplica tal metodologia para furar defesas, calculando uma "taxa de conversão" parecida com o basquete, que estipula uma série de probabilidades a cada bola arremessada em direção ao aro.

A outra forma de analisar os dados é somar o índice (xG) de todas as finalizações de um time. É esta soma que aparece nos números finais que começam a aparecer em competições importantes, como a Premier League. A novidade chegou até os videogames: no Fifa 22, da EA Sports, os gols esperados também entraram nos números das partidas.

No futebol europeu, já há equipes que observam o número de gols esperados de jogadores antes de contratá-los. Em contato com o UOL, o diretor de um time da Premier League confirmou que a estatística entrou na lista de objetos de análise no momento de decidir sobre reforços.

Uma verdadeira escadinha

A tendência vista na Copa do Mundo do Qatar não está fora da curva em comparação com as ligas europeias e até mesmo com o Brasileirão.

No Brasileirão recém-terminado, por exemplo, 57,7% dos gols saíram de dentro da área, um aumento com relação a 2021 (54,4%), 2020 (56,6%) e 2019 (56,4%), os três exemplos mais recentes.

Na Premier League, que usa o "xG" em larga profusão, a taxa é ainda mais elevada, segundo dados da Opta, que reuniu informações estatísticas da Copa do Qatar, Brasileirão e Campeonato Inglês.

A temporada 2022/2023, que está em andamento, tem nada menos que 67% dos gols marcados em finalizações dentro da área.

A tendência de crescimento se vê também nos gramados ingleses. Nos últimos três campeonatos, 65% e 64% (por duas vezes) dos gols foram convertidos dentro da área.

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