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Qatar tem campanha inédita de sede, mas fica longe de ser pior das Copas

Seleção de futebol do Zaire durante a década de 1970; equipe jogou a Copa de 1974, na Alemanha - Reprodução/IBWM.com
Seleção de futebol do Zaire durante a década de 1970; equipe jogou a Copa de 1974, na Alemanha Imagem: Reprodução/IBWM.com

Thiago Arantes

Colaboração para o UOL, em Barcelona

30/11/2022 04h00

Classificação e Jogos

"Nunca vi um time tão ruim numa Copa." Nos últimos dias, quem acompanha de perto e conversa sobre a Copa do Mundo já ouviu essa frase (ou suas variantes) pelo menos uma vez, em referência à seleção do Qatar.

Anfitriã do Mundial, a equipe comandada por Victor Sánchez preparou-se por 12 anos, investiu em estrutura e treinamento, mas deixou o torneio com três derrotas: 2 a 0 para Equador e Holanda, e 3 a 1 para o Senegal. Trata-se da pior campanha de um anfitrião na história do torneio, que teve início em 1930. Antes, apenas a África do Sul (2010) não tinha se classificado para a segunda fase, mas pontuou na ocasião.

Apesar da decepção de seus torcedores e das críticas do público, Qatar não é — nem de longe — o pior time que já jogou uma Copa. Pelo menos, se levarmos em conta os números da campanha.

qatar - Chris Brunskill/Fantasista/Getty Images - Chris Brunskill/Fantasista/Getty Images
Mohammed Muntari marcou o primeiro gol da história do Qatar em Copas
Imagem: Chris Brunskill/Fantasista/Getty Images

O UOL fez um levantamento que percorreu toda a linha do tempo do maior campeonato do futebol mundial. Encontrar campanhas piores que a do Qatar (3 jogos, 3 derrotas, 1 gol marcado e 7 sofridos, com saldo negativo de 6) é fácil. Se considerados apenas os times que jogaram três partidas, há 19 seleções com resultado pior.

A primeira equipe a disputar três partidas em um Mundial e perder as três foi o México, em 1930. Além de participar da partida com o primeiro gol da história (4 a 1 diante da França), os mexicanos também caíram diante de Chile (3 a 0) e Argentina (6 a 3).

O caso mais recente foi o do Panamá, na Copa de 2018. Em sua estreia nos Mundiais, na Rússia, os panamenhos perderam para Bélgica (3 a 0), Inglaterra (6 a 1) e Tunísia (2 a 1), pelo Grupo G, o único daquele torneio que levou duas seleções às semifinais; a Bélgica ficou em 3º lugar, e a Inglaterra, em 4º.

Entre um caso e outro, há 17 exemplos de campanhas piores (com o mesmo 0 ponto, mas com saldo de gols inferior a -6). Algumas destas seleções entraram para a história do torneio, embora não pelos motivos mais nobres.

Trocar o goleiro adianta?

Um clássico na história dos Mundiais, a seleção do Zaire chegou à Copa de 1974 como total desconhecida, e também como a primeira representação de um país da África subsaariana no torneio. A então campeã da Copa Africana de Nações virou o saco de pancadas do Grupo 2: levou 2 a 0 da Escócia, 9 a 0 da Iugoslávia e 3 a 0 do Brasil.

Na goleada para os iugoslavos, o goleiro Kazadi Mwamba foi substituído ainda no primeiro tempo, quando o placar mostrava 2 a 0 para os europeus. O reserva, Tubilandu Ndimbi, levou outros sete gols. O resultado, na época, igualava a maior goleada da história das Copas (em 1954, a Hungria também havia marcado 9 a 0 na Coreia do Sul).

O desempenho do Zaire levantou questões sobre o nível do futebol africano e deu início a um cuidado maior da Fifa com o futebol do continente. O país (hoje República Democrática do Congo) jamais voltou à Copa, mas um desempenho tão ruim (0 ponto e saldo negativo de 14) nunca mais se repetiu por parte de seleções do continente.

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Placar da goleada da Hungria sobre El Salvador, em 1982
Imagem: Reprodução/Dailymail

Maior goleada da história

A seleção de El Salvador chegou à Espanha, em 1982, como candidata a ser surpresa do torneio. As esperanças estavam nos pés de Jorge Alberto González, conhecido como "El Mago", que na época era pretendido por clubes espanhóis e acabaria fazendo história no Cádiz anos depois.

Mas naquele Mundial, não houve mágica possível. Já no primeiro jogo, El Salvador levou 10 a 1 da Hungria, na maior goleada da história das Copas do Mundo. Os húngaros marcaram cinco gols em 14 minutos (entre os 24 e os 38 do segundo tempo), até hoje um recorde.

Nos jogos seguintes, os salvadorenhos conseguiram acertar a defesa para evitar sofrer novas goleadas: eles caíram por 1 a 0 contra a Bélgica e por 2 a 0 diante da Argentina. Curiosamente, os húngaros — que marcaram 10 gols na estreia — não se classificaram para a segunda fase.

Klose - Gabriel Bouys/AFP - Gabriel Bouys/AFP
Klose dá uma cambalhota após marcar o seu segundo gol na Copa de 2002
Imagem: Gabriel Bouys/AFP

A consagração de Klose

Vizinha do Qatar e responsável pela grande surpresa da Copa-22, ao superar a Argentina (2 a 1), a Arábia Saudita já teve seus dias de saco de pancadas. Em 2002, foram três derrotas, nenhum gol marcado e 12 gols sofridos.

Os sauditas estrearam sofrendo uma goleada que entraria na história dos Mundiais: 8 a 0 diante da Alemanha. Além do placar elástico, o gol marcou o surgimento de Miroslav Klose para o mundo. O atacante, então no Kaiserslautern, marcou três vezes, começando o seu caminho para se tornar o maior artilheiro da história das Copas.

Depois da humilhação diante dos alemães, a Arábia Saudita levou 1 a 0 de Camarões e caiu por 3 a 0 diante da Irlanda. A seleção acabou terminando a Copa com a pior campanha dentre todas as equipes, e ostenta o recorde de pior time deste século na competição (0 ponto, 0 gol marcado e saldo negativo de 12).

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Ferenc Puskas marcou três nos 9 a 0 sobre a Coreia do Sul
Imagem: AFP

Pior da história em 2 jogos

No levantamento que levou a 19 equipes com desempenho pior que o do Qatar, o UOL levou em conta apenas seleções que disputaram pelo menos 3 jogos. Mas, se consideradas todas as participantes desde 1930, a pior campanha de todos os tempos é de um time que jogou só duas partidas.

O título cabe à Coreia do Sul de 1954, que levou 9 a 0 da Hungria e 7 a 0 da Turquia, com incríveis 16 gols sofridos (média de 8 por jogo). Naquele Mundial, disputado na Suíça, os grupos tinham quatro equipes, mas uma seleção enfrentava apenas dois adversários dentro da chave.

CAMPANHAS PIORES QUE A DO QATAR (EM 3 JOGOS):

A campanha do Qatar
0 ponto, 3 jogos, 3 derrotas, 1 gol pró, 7 gols contra (-6 de saldo)

2018
Panamá: 0 ponto - 3J, 3D, 2 gols pró, 11 gols contra (-9)

2014
Honduras: 0 ponto - 3J, 3D, 1 gol pró, 8 gols contra (-7)
Austrália: 0 ponto - 3J, 3D, 1 gol pró, 9 gols contra (-8)

2010
Coreia do Norte: 0 ponto - 3J, 3D, 1 gol pró, 12 gols contra (-11)

2006
Sérvia e Montenegro: 0 ponto - 3J, 3D, 2 gols pró, 10 gols contra (-8)

2002
China: 0 ponto - 3J, 3D, 0 gol pró, 9 gols contra (-9)
Arábia Saudita: 0 ponto - 3J, 3D, 0 gol pró, 12 gols contra (-12)

1994
Grécia: 0 ponto - 3J, 3D, 0 gol pró, 10 gols contra (-10)

1990
Emirados Árabes Unidos: 0 ponto - 3J, 3D, 2 gols pró, 11 gols contra (-9)

1982
Nova Zelândia: 0 ponto - 3J, 3D, 2 gols pró, 12 gols contra (-10)
El Salvador: 0 ponto - 3J, 3D, 1 gol pró, 13 gols contra (-12)

1978
México: 0 ponto - 3J, 3D, 2 gols pró, 12 gols contra (-10)

1974
Haiti: 0 ponto - 3J, 3D, 2 gos pró, 14 gols contra (-12)
Zaire: 0 ponto - 3J, 3D, 0 gol pró, 14 gols contra (-14)

1970
El Salvador: 0 ponto - 3J, 3D, 0 gol pró, 9 gols contra (-9)

1966
Bulgária: 0 ponto - 3J, 3D, 1 gol pró, 8 gols contra (-7)
Suíça: 0 ponto - 3J, 3D, 1 gol pró, 9 gols contra (-8)

1950
México - 0 ponto - 3J, 3D, 2 gols pró, 10 gols contra (-8)

1930
México - 0 ponto - 3J, 3D, 4 gols pró, 13 gols contra (-9)