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Arbitragem feminina em Copas: uma pouca, duas é boa, três é... necessário

Stephanie Frappart, Neyza Ines Back e Karen Diaz: o primeiro trio feminino em Copas - Ercin Erturk/Getty
Stephanie Frappart, Neyza Ines Back e Karen Diaz: o primeiro trio feminino em Copas Imagem: Ercin Erturk/Getty
e Bruno Andrade

Colunista do UOL, em Doha (Qatar)

01/12/2022 18h09

Classificação e Jogos

Peço licença, por favor. Não tenho lugar de fala, mas, como privilegiado no mundo da bola, tenho obrigação e, sobretudo, satisfação de escrever uma crônica histórica sobre elas. Um gigantesco passo numa sinuosa e árdua jornada recheada de preconceitos e discriminações.

92 longos anos. Do Uruguai em 1930 ao Qatar em 2022 foram necessárias 22 edições de Copas para as mulheres, enfim, serem reconhecidas. Para as mulheres arbitrarem. Para as mulheres dividirem os holofotes com 22 homens dentro das quatro linhas.

Stéphanie Frappart, Neuza Back e Karen Diaz fizeram história num confronto que marcou a fatídica e surpreendente eliminação da Alemanha. Um trio feminino que, não bastasse o passado de desprestigio e perseguição, esperou ainda 42 jogos para dirigir uma partida da maior competição do futebol internacional.

O duelo com a Costa Rica era de tudo ou nada para os alemães. Não é exagerado dizer que para Frappart, Back e Diaz também, especialmente num país tão conservador e que não respeita os direitos humanos. Sabemos perfeitamente qual é a margem de erro para quem frequentemente não tem o devido respeito.

A primeira vez a gente nunca esquece. Mais marcante então quando o papel de coadjuvantes inéditas é feito (quase) na perfeição. Uma arbitragem segura a sem qualquer discussão, principalmente por parte da francesa nascida na pequena Herblay-sur-Seine.

O gol inaugural do alemão Gnabry logo ao dez minutos do primeiro tempo foi acompanhado de perto pela pioneiríssima Stéphanie Frappart, de 38 anos, que foi ainda a primeira mulher a apitar um jogo da Liga Francesa, em 2019, e da Liga dos Campeões, em 2020, entre outros.

No quadro da Fifa desde 2011, Frappart está mais do que acostumada a quebrar barreiras. Jogos? Nada disso. Deixa rolar. Assim como aconteceu no empate da Costa Rica. Um lance rápido e limpo finalizado aos trancos e barrancos por Yeltsin Tejeda.

Os costa-riquenhos acabaram por atingir a inesperada virada pelos pés de Juan Pablo Vargas. Uma jogada confusa para quem viu de longe. De perto, normal. Tranquila. Karen Diaz seguiu com precisão na linha de fundo.

A Costa Rica parecia pronta para copiar o trio de arbitragem e escrever um capítulo emocionante em Mundiais. A Alemanha, no entanto, brecou a euforia. Havertz, que entrou no segundo tempo, bagunçou o jogo e fez dois gols. Um bis que mudou o cenário do jogo. Apenas do jogo.

Fullkrug fechou a contagem a favor dos alemães: 4 a 2. Precisou, no entanto, da correção do VAR. Neuza Back falhou na linha do impedimento, mas contou, como tudo e todos, com a ajuda da tecnologia. Se eles podem, elas também.

Uma vitória em vão no Al Bayt Stadium. A Alemanha decepcionou e ficou pelo caminho, graças ao triunfo do Japão, por 2 a 1, diante da Espanha. Já a caminhada de Stéphanie Frappart, Neuza Back e Karen Diaz está mais forte do que nunca.