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Área VIP da Copa tem camarão e open bar de espumante, mas custa R$ 5 mil

Do UOL, em Doha (Qatar)

01/12/2022 04h00Atualizada em 01/12/2022 10h11

Classificação e Jogos

Entre os 43,6 mil torcedores que foram ao estádio 974 no último jogo do Brasil, nenhum esteve mais perto dos jogadores do que Odair Júnior. Sentado na primeira fileira, colado à linha lateral, com apenas alguns fotógrafos e seguranças entre ele e o campo, o empresário de Unaí-MG via um jogo de Copa do Mundo como se fosse uma pelada na rua de casa.

Mas esse não foi o único privilégio que o empresário e seus amigos viveram naquela noite. Com um ingresso do tipo "hospitality", eles tiveram direito a acessar a área VIP da Copa, um setor com visão central para o campo e cheio de regalias: open bar de espumante, cerveja, uísque e outros destilados (tudo proibido no resto do Qatar), além de comida de primeira.

"É um sonho realizado", dizia Odair, enquanto o Brasil lutava para furar a retranca da Suíça. Um sonho que tem um preço. Para ele, custou 1.900 dólares (o equivalente a R$ 9,8 mil). Quem conseguiu comprar com bastante antecedência pagou menos. O preço mínimo cobrado pela Fifa por um ingresso desse tipo é o equivalente a R$ 5 mil (950 dólares).

Entre os VIPs, circularam no último jogo alguns nomes importante do PIB nacional, como Paulo Garcia, um dos donos da papelaria Kalunga. "Prefiro ver jogo assim. É mais confortável, né?", disse ele, que tem um camarote na Arena Corinthians, em São Paulo. Ou Carlos Wizard, que depois de fundar uma rede de escolas de idiomas e defender medicamentos ineficazes contra a covid-19 durante a pandemia, saboreava um aperitivo no intervalo da partida.

Camarão - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Camarão com carne bovina lentamente assada e tian provençal, prato servido na área VIP da Copa
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Também estiveram lá famosos como o apresentador Celso Portioli, a influenciadora Rafaella Santos, irmã de Neymar, Nenê, atacante do Vasco, o cantor Gilberto Gil e sua mulher, Flora. Todos foram servidos pela equipe poliglota de garçons, maîtres e bartenders. Mas mesmo essa equipe atenciosa tinha dificuldade de explicar a portadores de paladares mais simplórios os pratos do menu.

Gravilax de salmão curado com endívias era uma opção de entrada. O prato principal podia ser um tian provençal com abobrinha, tomate e berinjela — ou camarão salteado em molho de páprica cremoso. As sobremesas pareciam mais simples, mas não menos sofisticadas: torta de chocolate com crumble de tâmara ou salada de damasco com baunilha. Se o cliente tiver dúvida, melhor pedir um pouco de cada: o restaurante fica aberto durante todo o jogo e até depois dele.

O mesmo vale para o bar, servindo uma vasta opção de bebidas proibidas nos outros setores do estádio, onde só se vende cerveja sem álcool: vinho de cinco países, dois tipos de uísque, rum e vodca. Por causa de um bar tão bem servido, o setor VIP dos estádios da Copa é um dos poucos lugares no Qatar onde é possível ver uma figura comum no futebol do resto do mundo: o torcedor alcoolizado. Como um homem com sobrepeso vestindo um traje árabe verde e amarelo que não parou de cantar, pular, xingar os jogadores e incomodar os seus vizinhos mais discretos durante os 90 minutos.

Em geral, a torcida VIP brasileira se veste com requinte, torce em silêncio e limita suas críticas aos ouvidos de quem se senta bem próximo. "O cara treina o dia todo, vive disso e cruza essa bola assim!", reclamou um sujeito com sotaque carioca e pinta de herdeiro, depois que o atacante Rodrygo errou um levantamento na área. "É que nem um torneiro mecânico cortar o dedo."

Carne - Adriano Wilkson/UOL - Adriano Wilkson/UOL
Carne bovina assada lentamente é um dos carros-chefes do setor VIP da Copa
Imagem: Adriano Wilkson/UOL

Foi a única manifestação de tom político presenciada pela reportagem no setor VIP naquele dia. Na semana anterior, foi também em uma área como essa (mas a do estádio Lusail) que o cantor Gilberto Gil foi hostilizado por bolsonaristas por sua relação com o presidente eleito Lula. No jogo seguinte, ele recebeu uma espécie de desagravo de fãs e simpatizantes.

Já o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, posou para uma foto e foi flagrado pela transmissão nas arquibancadas de Brasil x Suíça. De acordo com quem o encontrou, ele esteve em um setor ainda mais privilegiado: uma área VIP de acesso apenas a convidados.