Messi e o milanesa argentino vão acabar me fazendo virar a casaca na Copa
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A Argentina precisava ganhar. Qualquer resultado positivo seria um passe para as oitavas de final da Copa. O VAR decidiu que a entrada do goleiro polonês Szczesny sobre Messi foi dura demais. Pênalti para os hermanos. O camisa 10, no auge de sua quinta Copa, pegou a bola, olhou firme para seu adversário — o mesmo que o derrubou minutos antes — e chutou. Szczesny saltou à esquerda e espalmou o chute daquele que, por cinco vezes, foi considerado o melhor do mundo.
Messi perdeu pênalti. Os argentinos e brasileiros fãs dos hermanos que se amontoavam no bar local Moocaires, em São Paulo, gritaram. O 'uuhhhhhhh' nem foi tão longo porque ninguém acreditava. Seria a chance de a Argentina sair na frente no primeiro tempo e chegar mais consolidada no segundo. Não deu. Ficou tudo pro segundo.
Tive de voltar no Moocaires para essa partida decisiva depois de acompanhar argentinos bebendo cerveja às 7h da manhã na estreia do país na Copa. Fiquei com fama de pé frio: Argentina perdeu da Arábia Saudita de virada. 2 a 1. Não que o meu intuito fosse zicar os hermanos de novo (talvez fosse), mas o horário do primeiro jogo me impediu de provar um quitute típico argentino, o famoso bife à milanesa, e eu, num intuito unicamente jornalístico, achava necessário ver se o milanesa argentino é tudo isso mesmo — ou se, como no futebol, a gente dá de 10 a 0.
O problema é que fui estapeada pelo bife e pelo futebol. Fui estapeada lindamente pela torcida argentina, cantante, dançante e gritante, e talvez minha casaca esteja perto de ser virada. Não que eu vá deixar de ser Richarlisete, Casemirete e Vini Juniorete. Mas difícil não ser Messiete no meio de uma torcida mais animada que a nossa, que não para de cantar um minuto sequer, que não esmorece nem quando parece que não vai dar certo. Ver jogo com os hermanos talvez seja mais animado que ver com a torcida brasileira.
Também fui estapeada pela milanesa dos caras, que vem sequinha e fininha, mas ao mesmo tempo suculenta. Um arroz branco e batatas fritas acompanham o prato de R$ 59, que resistiu ao pênalti perdido de Messi. Até porque o segundo tempo veio numa espécie de ressurreição argentina. Os torcedores já tinham bebido um monte de cerveja — o Moocaires ofereceu um 'open bar' de breja e empanadas por R$ 80 durante o jogo —, o volume dos cânticos crescia a cada minuto e não demorou até que o time de Lionel Scaloni confirmasse a qualidade na partida. Alexis Mac Allister abriu para os hermanos.
Miguel Ángel, argentino que veio para o Brasil com a mãe fugindo da ditadura do país vizinho, comandava o tambor. Os cânticos eram puxados por ele, de acordo com a batucada que começava — daí, sim, a gente ganha: o batuque brasileiro não tem pra ninguém. A reportagem conheceu Miguel na primeira ida ao Moocaires, no jogo contra a Arábia Saudita. Ele pediu, no reencontro, que a gente dissesse ao chefe dele que, na bebedeira matinal do jogo de estreia, Miguel e o filho Victor não estavam bebendo álcool. De fato não estavam, chefes. Só estavam no meio dos 'bebeuntes'.
O gol de Mac Allister acabou com o pouco de corretismo que permeava aquela torcida, envolvida por brasileiros (fãs da Argentina) e argentinos. Antes do gol, eles gritavam e cantavam sentados. Depois, as cadeiras num instante sumiram. Todos aglomeraram num misto de alegria e emoção. Quem gosta de ver jogo ouvindo narração teria tido um ataque de pânico ali. Não tem essa de ouvir o jogo. Argentinos veem as imagens e a trilha sonora fica por conta deles. Ainda assim, o dono do Moocaires botou a narração argentina no lugar da voz de Luís Roberto. Nada pessoal. É só pra dar mais emoção.
Torcedores brasileiros e argentinos se reúnem para partida contra Polônia
O proprietário é Cristian, um argentino que veio para São Paulo a fim de novas oportunidades. Abriu o bar em 2007 e, até vingar, foi uma peleja atrás da outra. Cristian era quem cozinhava, quem servia as mesas e quem fazia as entregas. Para tentar bombar o espaço, pedia que amigos ocupassem as mesas do lado de fora — assim, quem passasse por aquele trecho da Rua da Mooca, pouco movimentada à época, veria algum movimento por ali.
Alguns clientes insistiam que Cristian tentasse bombar o espaço misturando os pratos típicos argentinos com a famosa feijuca brasileira aos sábados. Ele foi intransigente: só abriria mão da ideia original, de manter a cultura argentina no bar, se fosse imprescindível. Não foi. Até hoje, clientes daquela época frequentam o espaço. Miguel é um deles.
Robson, de codinome 'argentino', é outro: é brasileiro, o pai é de Cordoba, mas ele é totalmente apaixonado pelo país vizinho. Robson é auxiliar de enfermagem e bartender. Num braço, a tatuagem feita há dez anos de Maradona ganhou, há dez dias, uma companheira: a frase 'la mano de Diós' completa a parte interna do braço de Robson, o argentino-brasileiro.
E foi no clima de euforia, cerveja no chão e criança no ar, que a Mooca viu a classificação da Argentina para as oitavas de final. E a milanesa, junto da torcida, ganhou uma cadeira cativa no meu coração.
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